Rua Coronel Aristarco Pessoa
No caminho para o Alto da Boa Vista é possível passear por ruas tipicamente residenciais, sem indício de comércio e verticalização. Eu passeei por uma delas! A região da Usina retratada em três momentos: o terminal rodoviário, com o Maciço verdinho ao fundo; violetas no início da Rua Coronel Aristarco Pessoa; e, por último, o […]
No caminho para o Alto da Boa Vista é possível passear por ruas tipicamente residenciais, sem indício de comércio e verticalização. Eu passeei por uma delas!
A região da Usina retratada em três momentos: o terminal rodoviário, com o Maciço verdinho ao fundo; violetas no início da Rua Coronel Aristarco Pessoa; e, por último, o tradicional ponto de táxis do Largo da Usina. Atente para o fusquinha!
por Pedro Paulo Bastos
A Usina já não é mais lembrada como um bairro nem pelos mapas nem pelos cariocas, mas ainda está muito presente nos letreiros de alguns ônibus que circulam pela cidade. Ela já não é mais caminho dos bondes que vão para o Alto da Boa Vista, embora ainda seja possível avistar os seus antigos trilhos, ora expostos, ora cobertos por um novo pedaço de calçada. Já não tem a elite como classe dominante, mas as belíssimas residências continuam lá, paradinhas, todas com traços nobres. Apesar da proximidade com favelas, grande parte do morro que abraça a região é bem verdinho. Em certas épocas, chega-se a ver até mesmo o deslize de água das chuvas na parede das rochas, nem sempre próximas.
![]() |
Já tinha tempo que eu queria caminhar pelas ruas vizinhas à Avenida Edson Passos, que corta todo o agradável bairro do Alto da Boa Vista. Até pouco tempo, essa parte da cidade estava muito insegura, mas com a pacificação das favelas da Tijuca, a calmaria parece ter voltado para lá. Pelo menos minha última vez a pé pelo Largo da Usina, em 2005, foi um corre-corre dos grandes. Nessa época eu estava no ensino médio, e fui com um grupo de amigos fazer um trabalho da escola na casa de uma amiga, que morava na Rua Conde de Bonfim. Já era final da tarde no momento em que íamos tomar nosso ônibus no terminal rodoviário que existe ali quando um bando de garotos veio correndo atrás de nós, com pedras e pedaços de madeira nas mãos. Conseguimos escapar, mas o terror demorou a passar. Foram tempos difíceis para a Usina, que, felizmente, acabaram, acredito eu…
Dei uma breve caminhada pelo Largo da Usina e por algumas ruas, como a Marechal Pilsudski e Raiz da Serra, até adentrar a Rua Coronel Aristarco Pessoa, onde fica o famoso ponto de táxi da Usina. Se não for o único, é um dos raros lugares no Rio de Janeiro onde ainda se encontram fuscas-táxis. Os moto-táxis também são comuns, além de uma opção mais barata para quem não pretende subir a pé as ladeiras da região. A Coronel Aristarco Pessoa, para quem vem do Largo da Usina, é um suave declive, com algumas casas mais maltratadas no seu início. Dum certo ponto em diante, só se vê belezura.
De cara posso afirmar que o grande diferencial dessa rua é o verde. Tudo bem que ela está colada ao Maciço da Tijuca, mas a quantidade de árvores e flores, principalmente flores!, é impressionante para os padrões cariocas. Avistei, pelo menos, umas seis espécies diferentes ao longo da via. Violetas e azaleias são as que eu sei de nome. Uma das casas, nesse primeiro trecho, comporta duas árvores floridíssimas, o maior barato. Muito bonito, muito colorido. Uma mistura de flores em cor-de-rosa e roxas, com o verde das folhas, tudo em abundância.
O primeiro trecho da Rua Coronel Aristarco Pessoa, que também pode receber a grafia de Aristarcho: flores coloridas.
Aí está a Rua Rocha Miranda, a única que se inicia na Coronel Aristarco Pessoa. Observe o nível das residências. Uma toda trabalhada em pedra, tem jeito de casa de vó; a outra é mais glamurosa, típica construção grandiosa lusitana.
![]() |
Embora o bairro de Rocha Miranda esteja bem longe dali, a única rua que se inicia na Coronel Aristarco Pessoa leva o nome do dito-cujo. É um ladeirão, de verdade. Perguntei a uma senhora da vizinhança sobre a extensão da Rua Rocha Miranda, onde ela desembocaria, e, claro, sobre o nível de segurança. Afinal, estava redesbravando a Usina depois de um episódio meio traumático. “Ela só é perigosa se você tiver asma, coisa do tipo. Não tá vendo que é um ladeirão? Ninguém aguenta subir!”, respondeu ela, bem humorada. Ufa! De fato a Rua Rocha Miranda é bem extensa. Trazê-la para o As Ruas do Rio fica para uma próxima ocasião, porém não posso deixar de publicar aqui as fotos – e algumas palavrinhas – sobre o quão bucólica e simpática ela é, especialmente nas redondezas da Rua Coronel Aristarco Pessoa.
Não é preciso subir muito a Rua Rocha Miranda para ter-se uma vista tímida, mas espetacular dos morros da Usina. Não se vêem favelas – apenas muitas árvores, rochas (vulgo pedras), árvores, árvores e mais árvores. Tudo muito verde. Assim como no post anterior, sobre Santa Teresa, o silêncio ali é tão poderoso quanto Portugal foi um dia para o Brasil. E na melhor das combinações típicas dos centros urbanos, natureza e edificações se complementam. Até agora estou encantado com uma das residências da Rua Rocha Miranda. Não sei descrever, mas é de uma imponência e amplitude de bater palmas. A portada é muito linda, com colunas de azulejos e detalhes sinuosos, um pouco religiosos, e muito artísticos. Confio às fotos a tarefa de descrição. As casas de esquina também são muito bonitas, com parte da fachada trabalhada em pedra. Os muros baixos são muito atrativos, e as janelas azuis, de madeira, sem grades, mais ainda. Que sossego!
O último trecho da Rua Coronel Aristarco Pessoa. Muitas residências e muito verde. No final da via, veja que há um paredão coberto por vegetais e o único edifício mais alto dali, no número 203.
A última casa da rua, com o morro verdinho ao fundo, e o jardim florido do edifício no número 203.
Voltando à Rua Coronel Aristarco Pessoa, circulo com a câmera entre alguns gatos pela calçada. Uns me perseguem, amistosamente, outros aproveitam a tranquilidade dali para dar seguimento à sesta. Olham-me desconfiados, com aquele ar blasé peculiar de todo felino. O único ruído um pouco mais constante é o de motoqueiros. Às vezes eles são moto-táxis, às vezes entregadores de pizza. Em pouco mais de uma hora que estive pela rua, duas famílias encomendaram pizza para o almoço. Não me chamem de enxerido, é que a Coronel Aristarco Pessoa é tão parada, no melhor dos sentidos, que a única atração mundana é ver quem chega e quem sai.
Ela é uma rua sem saída. Não me atrevi a pular o muro coberto por plantas, nem mesmo para saber o que havia por trás dele. A única construção mais verticalizada fica ali, o prédio de número 203, que eu fiquei namorando um tempão. Adoro prédios que emitem ares de aconchego, e esse me passou uma sensação do tipo. Pudera, com um jardim bonitão daquele da portaria, rodeado de árvores e morros verdinhos, imagina como devem ser gostosas as noites de inverno num apartamento, assim, mais no alto. Até mesmo no verão deve ser mais ameno. Acredito na possibilidade de mosquitos, mas para que estragar nossas ilusões, né? Curta a página do As Ruas do Rio no Facebook para ver mais fotos da rua. Vou colocá-las lá tão logo essa postagem vá ao ar!
Para contato direto | asruasdorio.contato@gmail.com