Rua Aristides Espínola, Leblon
Em meio às obras do metrô no bairro mais badalado da cidade, o blog passeou pela Rua Aristides Espínola, uma das transversais do Leblon que não entrou no polêmico roteiro de interdições Praia do Leblon. A Rua Aristides Espínola é uma das ruas transversais da praia do Leblon, já na altura do Posto 12. por Pedro Paulo […]
Em meio às obras do metrô no bairro mais badalado da cidade, o blog passeou pela Rua Aristides Espínola, uma das transversais do Leblon que não entrou no polêmico roteiro de interdições
Praia do Leblon. A Rua Aristides Espínola é uma das ruas transversais da praia do Leblon, já na altura do Posto 12.
por Pedro Paulo Bastos
Eu reluto em escrever sobre o Leblon aqui pelo simples fato dele já ser um bairro pra lá de comentado e conhecido por todos nós. A minha ideia é sempre mostrar outras perspectivas da cidade, expor como o Rio de Janeiro vai muito mais além da zona sul e dos lugares tipicamente turísticos e mais ricos. No entanto, eu esbarro num problemão: é impossível falar de Rio e não citar, pelo menos uma vez, o Leblon. Não só porque é uma região que fica bastante em evidência, mas também porque é um bairro agraciado pela natureza que nós, cariocas e apaixonados pelo Rio, valorizamos tanto por aqui. O estardalhaço que se criou em torno do Leblon nesses últimos anos, impondo-o como o bairro idealizado pelo carioca, o bairro chique, o bairro da gastronomia e et cetera, atrapalhou um pouco a visão do Leblon na sua raíz, que é um lugar muito mais simples do que esse novo caráter consumista que se tem propagandeado por lá.
Mesmo com essa crítica, não dá para negar: que local lindo! Foi difícil escolher uma rua a ser percorrida; além do Leblon ser pequenininho, eu já tinha estado na Rua Carlos Góis em agosto de 2009, o que me fez achar interessante focar na outra “ponta” do bairro. Esse conceito de “Leblon na sua raíz”, que não sei da onde tirei, para falar a verdade (desculpa se fui pretensioso), ficou tanto na minha cabeça que eu não tive dúvidas em escolher a Rua Aristides Espínola, uma das diversas transversais da praia. Por quê? Com toda essa onda de rotatividade de comércio que o Leblon é capaz de gerar com moda e tendências, é justamente na Aristides Espínola onde se concentram suas maiores referências “de raíz”: o restaurante Antiquarius, especialista e premiadíssimo em comida lusitana, desde 1977 no mesmo endereço, e a Pizzaria Guanabara, inaugurada em 1964, tradicionalíssima por lá (quiçá na cidade) e ponto de encontro para as mais variadas gerações do Leblon e arredores.
Localização privilegiada. O panorama da Rua Aristides Espínola visto através da Avenida Delfim Moreira. Logo na esquina há uma estação de bicicletas do sistema Bike Rio.
Na quadríssima. Em meio a prédios residenciais com janelões de vidro, está o restaurante Antiquarius, especializado em comida portuguesa.
Grupos e comunidades que compartilham imagens do Rio antigo têm pipocado nas redes sociais ultimamente. Muitas das fotos são de artistas desconhecidos, enquanto a grande maioria leva o selo “Augusto Malta” de qualidade. A verdade é que ver as imagens do Leblon antigo é como viajar no tempo e sentir uma dó do quão urbanóides nos tornamos. Mesmo quem nunca foi morador de lá consegue sentir aquela dosezinha de nostalgia do aspecto de povoado e das casinhas. O miolo do Leblon é totalmente verticalizado hoje em dia, e esse modelo se reflete em todas as suas ruas. Não seria diferente na Aristides Espínola. É sempre aquela mistura de prédios baixinhos dos anos 60 e aqueles modernosos espelhados da última década. Vê-se mais isso na quadra da praia. Mais para dentro, a Aristides Espínola dispõe de prédios mais decadentes, que, ou estão passando por um processo de remodelação, ou simplesmente fazem parte do grupo “arquitetura medíocre”. Isto é, construções sem grandes atrativos estéticos.
Na quadra entre as avenidas General San Martin e Ataulfo de Paiva, há um prédio bastante famoso, que provavelmente só se lembrará o cara que tem uma memória televisiva muito boa. No ano 2000 estreou uma novela no horário nobre da TV Globo chamada Laços de Família (de Manoel Carlos, o autor que só escreve tramas no Leblon). A protagonista era a atriz Vera Fischer, que vivia às turras com sua filha Camila, personagem de Carolina Dieckmann, que roubou-lhe o namorado garotão. Nesta época, ainda se gravavam cenas externas nas próprias ruas da cidade, e não em estúdios ou cidades cenográficas. Eis que o prédio onde a família morava era exatamente o do número 49 na Aristides Espínola. Era naquele corredor, entre a portaria imponente e o portão baixinho, que não chega a ter um metro de altura, onde os atores circulavam ora aos berros, ora com diálogos corriqueiros e intimistas. O edifício é uma graça, e os janelões extensos comprovam como os apartamentos das décadas passadas eram muito mais atrevidos em espaço do que os cubículos recém-lançados.
Memória televisiva. O edifício à esquerda foi usado como cenário para a telenovela Laços de Família, onde a personagem de Vera Fischer morava. Quem lembra?
Para se admirar. O mosaico com motivos marinhos na esquina da Avenida General San Martin e algumas das inúmeras orquídeas que enfeitam as árvores da Aristides Espínola.
Seria injusto eu não citar também o edifício de esquina com a Avenida General San Martin, onde, da sua parede de pedras, brota um elegante e colorido trabalho de mosaico. A figura retrata uma espécie de ambiente marinho, com peixes, pedras camufladas e um anzol. Foi um pouco difícil não parar para admirar; a sensação era quase a mesma de admirar alguma obra de arte em um museu. Os praieiros e descamisados passavam batido pela esquina, sem dar muita atenção ao conjunto de pastilhas. Das duas, uma: ou já se cansaram de ver aquilo ali, ou de fato são muito desligados e desinteressados nos detalhes bonitos das ruas. Situação parecida foi com a sucessão de orquídeas da Rua Aristides Espínola. Há pelo menos uma presa em cada árvore ao longo da rua, variando entre roxas e brancas. Um porteiro fitou-me curioso enquanto eu meneava a cabeça para o alto, observando-as. “Nunca viu uma, não?”, ele soltou em tom irônico. Já vi várias, e quanto mais repetidas avistar, mais feliz fico de perceber o quanto nossa flora é linda. Isso eu pensei; como resposta a ele, eu simplesmente sorri.
O cruzamento com a Avenida Ataulfo de Paiva bota os ares residenciais da Rua Aristides Espínola um pouco de lado. A sombra das árvores, as calçadas vazias e as cores sóbrias dos edifícios dão espaço a todos os elementos opostos. Cores vibrantes, letreiros chamativos, pouca sombra, movimentação de gente informalmente bem vestida, calçadas ocupadas por mesas e cadeiras. É a main street leblonina, numa alusão a um livro chamado “Remembering Main Street“, de Pat Ross, que eu comprei num sebo em Massachusetts no início de 2010. O livro fala sobre algumas cidades pequenas americanas, sobre a sua tranquilidade, tanto social quanto paisagística, e a forma como elas mudam esse caráter ao longo da sua rua principal, sempre nomeada de main street. O Leblon é bem assim – o seu mapa parece o de um vilarejo. A rua interna – no nosso caso, a Aristides Espínola -, por mais verticalizada que esteja, é calma e pouco badalada. Chega-se ao cruzamento dela com a Avenida Ataulfo de Paiva e a coisa parece ganhar vida de maneira abrupta. Tudo acontece ali, tudo está ali. Cafeína, Diagonal, Pizzaria Guanabara, BB Lanches, La Cigale, Toulon, Addict. Esses nomes você provavelmente já deve ter lido nas colunas sociais, nos catálogos de moda ou no guia de restaurantes da Veja Rio.
No cruzamento com a “main street”. A loja da Addict, ainda na Aristides Espínola, com sua vitrine impecável e estampas criativas, e a faixa de pedestres com vista para a Avenida Ataulfo de Paiva.
Na outra calçada. A calçada do bar e pizzaria Diagonal, exatamente no cruzamento com a Ataulfo de Paiva, à direita, e a vista parcial do bistrô afrancesado La Cigale, à esquerda.
Na quadra da Dias Ferreira. Novos edifícios residenciais (esses da foto estão bonitinhos, embora haja outros precisando de uma mão de tinta) e o simpático pinheiro, quase na esquina com a Rua Dias Ferreira, sem quaisquer adereços natalinos.
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Diferentemente dos canteiros da Ataulfo de Paiva, que são mantidos por iniciativa privada e, logo, são mais bem elaborados e bonitos, os jardins da Rua Aristides Espínola são adaptados. A estrutura é a mesma que a do resto da cidade, com aquela barra de ferro enferrujada cercando-o; a diferença é o cuidado na apresentação. Na calçada da doceria Petits Fours, após o cruzamento com a Ataulfo, eles receberam um traçado sinuoso de pedras decorativas para jardins nas mais diferentes cores, texturas e tamanhos. Sem dúvida um belo e singelo projeto de paisagismo. Dali em diante, a impressão que tive foi a de que os elementos iam se repetindo; um mesmo panorama. Novamente: mais orquídeas, mais prédios antigos e novatos, mais canteiros. De diferente, apenas um simpático pinheiro, sem nenhum vestígio de enfeites de Natal em pleno dezembro! E assim a Rua Arístides Espínola termina, no encontro com a Rua Dias Ferreira, a mais nova efervescente rua do bairro, quase tão badalada quanto a Ataulfo de Paiva, igualmente cheia de restaurantes como no cruzamento anterior.
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