Largo Rio de Janeiro, Milão
Mesmo de constituição urbana muito anterior à nossa, a histórica cidade de Milão, na Itália, também homenageia o Rio de Janeiro dando-lhe seu nome a um dos logradouros da comuna Rio à milanesa. De férias por Milão, deparei-me com o simpático Largo Rio de Janeiro, nos arredores da Cidade Universitária. por Pedro Paulo Bastos O […]

Mesmo de constituição urbana muito anterior à nossa, a histórica cidade de Milão, na Itália, também homenageia o Rio de Janeiro dando-lhe seu nome a um dos logradouros da comuna
Rio à milanesa. De férias por Milão, deparei-me com o simpático Largo Rio de Janeiro, nos arredores da Cidade Universitária.
por Pedro Paulo Bastos
O que eu menos podia esperar andando pelas ruas da histórica cidade de Milão, na Itália, era um logradouro com o nome de Rio de Janeiro. Veja bem: a comuna, que é capital da Lombardia, conta com prédios incrivelmente antigos em meio a alguns resquícios medievais. Sem falar na estrutura urbana e viária de Milão. Logo, como assim um logradouro – no caso, um largo – receber o nome de uma cidade comparativamente tão recente como o nosso querido Rio? Não cheguei a fazer pesquisas mais profundas, porque isso me tomaria um pouco mais de tempo e algo de complicação. Alguma razão há de existir, afinal, volta e meia também modificamos os nomes de nossas ruas. Além disso, ruas badaladas como o Corso Buenos Aires, corredor de lojas famosas de roupas, acessórios e livrarias, também leva o nome de uma cidade latino-americana. Apenas detalhes curiosos de uma cidade de constituição muito anterior à nossa e que ao mesmo tempo é também muito contemporânea.
O Largo Rio de Janeiro fica nos arredores da Città Studi (Cidade Universitária) que, diferentemente do Rio, se localiza numa área mais integrada à cidade, junto a um conjunto de ruas residenciais razoavelmente próximas do Centro Histórico. Milão conta com praças belíssimas e floridas, especialmente agora na primavera do hemisfério norte, embora o Largo Rio de Janeiro, para o nosso lamento, estava um verdadeiro canteiro de obras. Foi algo excepcional de ter visto com base na minha experiência (e andanças) por Milão nestas duas últimas semanas, em que estive visitando o meu irmão, estudante de mestrado de Design do Politecnico di Milano – ele escreve o Disegno à Milanesa, para quem tiver interesse. A cidade é muito bem estruturada e arrumada, principalmente as praças, muitas rotatórias. Então foi uma infeliz surpresa ver o Largo Rio de Janeiro cheio de tapumes e interdições.
O largo. Observe que na imagem à direita há uma espécie de gradil margeando a calçada, assim como no lado oposto. É em função das obras no local.
Detalhes. O interfone classudo leva o nome dos proprietários do apartamentos ao invés de números. Ao lado, os “pés” artísticos das varandas.
![]() |
Tendo em vista este panorama, o Largo Rio de Janeiro é unicamente percorrido por uma via estreita, que beira a simpática Viale Romagna entre as vias Plinio e Andrea del Sarto. O que mais chama a atenção são os edifícios. Não têm um estilo diferente do que é predominante na cidade – eclético, do final do século XIX -, mas são encantadores! Quem vive no Rio tem precisado se acostumar com uma série de lançamentos imobiliários pouco criativos e, por que não, medíocres. Bairros como Ipanema, por exemplo, têm dividido seu espaço urbano com edifícios lindos de meados da década de 50, por exemplo, com outros grotescos de data mais recente baseados em muito espelho e pouca estética. São os “tempos modernos”.
No Largo Rio de Janeiro de Milão, o pedestre depara-se com edifícios fantásticos cheios de detalhes. Na fachada, vêem-se diferentes camadas decorativas preenchidas com uma série de varandinhas que nem sempre estão presentes em todos os pavimentos. Cores neutras, como o pastel, o amarelo e o bege, harmonizam-se junto de arcos e janelonas compridas que dão para a rua. Não há indícios de grades nem portões ocupando o espaço público como medida de segurança. Aqui no Rio vivemos em outro contexto social, é claro, mas não posso deixar de dizer que se não tivéssemos essas portarias seríamos uma cidade bem mais simpática do ponto de vista urbanístico. Um detalhe interessante também são os interfones. Na ausência de porteiros ou zeladores, eles ficam instalados na própria fachada, muitos em estilo classudo, antigão mesmo, na cor dourada. Ao invés do número dos apartamentos, fica em evidência o nome dos proprietários ou das instituições e escritórios que os ocupam.
Interdições. A vista para o largo, que funcionava como uma praça, mas hoje está em interdição e com mato alto. Ao lado, outro exemplo do estilo dos edifícios na rua. Não há grades e as entradas são monumentais.
Florido. As flores estão na janela dos apartamentos ou no mato ordinário da rua. Dele brotam margaridas ou flores com pelotas que parecem algodão.
![]() |
Ao longo do estreito caminho que beira o largo, há um gramado de onde brotam margaridas e flores parecidas a bolinhas de algodão. As margaridas em Milão, aliás, são como as nossas ixoras aqui no Rio: surgem em qualquer jardinzinho, em qualquer fiapo de planta. Dá um visual todo romântico à dinâmica da urbe. Não só os jardins é que têm flores – no Largo do Rio de Janeiro, elas aparecem de forma mais tímida em relação à cidade -, mas as janelas também! Parece ser uma prática bastante difundida na Itália a decoração das janelas com vasos de flores de todos os tipos. Os edifícios, mesmo os não tão bem conservados, ganham um ar bem poético. No largo, aquela cor meio ocre dos prédios orquestra-se com a cor viva de rosas e o amarelo de umas florzinhas diminutas.
Fui embora do Largo Rio de Janeiro em êxtase por ver o nome da minha cidade natal estampado nas placas de rua de Milão e nos seus mapas, e principalmente por ser um local bonitinho, não tão fascinante como a vizinhança e outros locais famosos da cidade, embora de arquitetura muito peculiar e apreciável. Minha maior reflexão foi em relação aos nossos valores de conservação e preservação. Esses edifícios, em especial, são tão antigos quanto os outrora elegantes sobrados da Rua do Ouvidor, caindo aos pedaços. No entanto, em Milão eles estão aí firmes e fortes, modernizando-se na medida do possível sem que percam suas características e funções originais. Como já comentei, somos países com contextos socioeconômicos diferentes, não dá para eu ficar lamentando aqui, apesar de acreditar na ideia de que podemos fazer mais pela nossa arquitetura, nossa história, nosso espaço urbano. São os nossos valores, eles, que precisam ser mudados.
Para ver mais referências urbanas cariocas fora do Rio, veja estas outras publicações:
Calle Río de Janeiro: onde o Chile e o Rio se encontram
Um passeio pela “rua” Rio de Janeiro, em Santiago do Chile. Localiza-se num bairro de depósitos têxteis, muros grafitados e alguns cafés. Publicado em 26/06/2012.
A rua é do Rio… mas fica lá em São Paulo!
Nessa postagem, fotografei a Rua Rio de Janeiro, no bairro de Higienópolis, zona de classe média alta da capital paulista. Prédios monumentais, árvores simpáticas e pracinhas com babás uniformizadas. Publicado em 24/05/2011.
O Rio de Janeiro no México
O tema deste post foi a Plaza Río de Janeiro, na Colonia Roma Norte, bairro moderninho da Cidade do México. A praça é rodeada por uma arquitetura que os mexicanos chamam de “porfiriana” (em alusão ao presidente Porfirio Diaz). A praça em si tem um chafariz imponente com uma réplica da estátua de Davi e jardins cheios de cactos. Publicado em 06/08/2010.
Quer ver mais fotos do Largo Rio de Janeiro, em Milão?
Acesse a página do As Ruas do Rio no Facebook! Não esqueça de curtir a página!
Para contato direto | asruasdorio.contato@gmail.com