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As Ruas do Rio

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Blog sobre as ruas do Rio de Janeiro

Estrada da Uruçanga, Jacarepaguá

Pense na rua mais bonita da cidade. Pensou? Levou em consideração a Estrada da Uruçanga? Caso não a conheça, é melhor você dar uma passeadinha por ela aqui pelo blog… O início da estrada. A Estrada da Uruçanga é toda cheia de jardins e gramados ao invés do cimento (de praxe) das calçadas. por Pedro Paulo Bastos O […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 19h17 - Publicado em 20 nov 2012, 20h19

Pense na rua mais bonita da cidade. Pensou? Levou em consideração a Estrada da Uruçanga? Caso não a conheça, é melhor você dar uma passeadinha por ela aqui pelo blog…

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O início da estrada. A Estrada da Uruçanga é toda cheia de jardins e gramados ao invés do cimento (de praxe) das calçadas.

por Pedro Paulo Bastos

O nome esquisito intimida: Uruçanga. Entrei no Google para obter maiores informações e localização. Numa macroescala, Uruçanga (podendo ser grafado como Urussanga também) é nome de um município em Santa Catarina, na região sul do país. Significa, em tupi-guarani, “rio de águas frias”. Pode ser, igualmente, a denominação dada para o rio formado pelos afluentes rios Maior, Carvão, Deserto, Caeté e América, também em território catarinense. Ou então nome de rua do bairro do Carrão, zona leste de São Paulo. No nosso Rio de Janeiro, quem é pouco conhecedor da capital fluminense faz pouca ideia de que Uruçanga é o nome de uma estrada no bairro do Anil, em Jacarepaguá, na zona oeste carioca. Comentei com uma amiga da zona sul que precisava acordar cedo pois iria à Estrada da Uruçanga para o blog. Ela rebateu: “O que é isso, uma comunidade carente?”. Loooooooonge disso, querida.

Em Jacarepaguá as ruas são chamadas de estradas por questões históricas no que tange ao seu desenvolvimento urbano, embora elas sejam, na verdade, senhoras-alamedas! Que o diga a Estrada da Uruçanga, incrustada entre as estradas do Bananal, do Quitite e de Jacarepaguá, em meio a um mar de montanhas verdes lindíssimas. Apesar do apelido antigo de “Suíça carioca” que Jacarepaguá sempre levou, a Estrada da Uruçanga, pelo menos, está mais sintonizada com a energia e o paisagismo dos subúrbios dos Estados Unidos do que o charmoso país europeu. São calçadas largas cobertas por gramado com espaços intercalados por blocos de cimento (para fazer jus àquela famosa placa “por favor, não pise na grama!”), casas amplas e estonteantes e um paisagismo impecável. Vi muitos tipos de flores e plantas por lá, quase um jardim botânico. Só faltaram as pequenas sinalizações com o nome dos gêneros, famílias, ordens, classes e divisões de cada belezinha vegetal que por lá vive. Essa cultura do jardim particular, mas que fica exposto e aberto ao público, ficou ainda mais evidenciada para mim quando me deparei com uma simpática loja de artigos de jardinagem ao longo da Estrada da Uruçanga. Plantas ornamentais à venda em vasos artesanais cheios de frufrus à tinta colorida e aqueles clássicos gnomos de jardim de cerâmica.

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Casarões ao ar livre. Ainda que seja uma rua rodeada por condomínios fechados, a Uruçanga é aberta ao público, embora conte com suas devidas precauções, é claro.

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Jardinagem. Comércio local voltado para aparatos de jardinagem provavelmente deve contribuir com a motivação e a manutenção dos gramados e jardins da rua, mantidos pelos moradores.

O aspecto de subúrbio estadounidense (diria Beverly Hills, mas deixo esse título para algumas regiões da Barra) fica ainda mais constatado com a presença dos belos automóveis na porta de cada residência. Cada qual tem seu espaço delimitado na própria calçada ajardinada, em geral. Algumas outras casas dispõem de garagens internas. Não ficam estacionados de forma confusa e caótica como nos bairros de maior densidade populacional, sempre com algum flanelinha aguardando a hora do ataque. Mesmo que essa profissão (?) resolvesse migrar para lá algum dia, provavelmente seriam detidos pelas dezenas de guaritas que marcam ponto pela Estrada (rua, vá!) da Uruçanga. Como existem também muitos condomínios fechados, além das casas ao ar livre, há pelo menos um guarita a cada esquina. Sem mencionar as placas que advertem ao pedestre de que a via está sendo filmada por um outro tipo de vigilância particular. Nos dias de hoje, precauções do tipo são muito válidas – obrigatórias, eu afirmaria. Mesmo com todos esses aparatos de proteção, o clima flui bem pela Uruçanga, que é pouco mecânica e intimidadora. Em nenhum momento senti aquela certa neurose que as ruas nobres cariocas dispõem, de fiscalizar o pedestre supostamente estranho ao ninho.

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Estacionamento. As calçadas planejadas permitiram a criação de um espaço predestinado aos carros, que não ocupam o meio-fio tampouco são vistoriados por flanelinhas.

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Atividades corriqueiras. O baixo tráfego de veículos na região permite maiores atividades ao ar livre pelos moradores, enquanto jovens rapazes capinam os jardins da vizinhança. É ou não um subúrbio americano?

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Outro ponto muito positivo e agradável da Estrada da Uruçanga é o seu tráfego. Mesmo sendo rota da linha 886 (Freguesia-Barra Shopping), o trânsito dali é constituído basicamente por quem mora nos arredores. Os motoristas circulam em carrões, com os vidros abertos, interagindo com a vizinhança. Em velocidade baixa, mal se escuta o ruído do motor; só a melodia ecoando dos rádios de dentro e do farfalhar dos pássaros de fora. Essa tranquilidade toda permite uma maior liberdade para a corridinha matinal dos moradores. Marcas esportivas à mostra em bonés e bermudas, tênis fluorescentes bem equipados com amortecedores, cheiro de protetor solar misturado ao cheiro de terra úmida que os gramados exalam. Mesmo com o baita solzão que repentinamente surgiu após esses dias chuvisquentos, as montanhas lá no fundo, da Serra, também mostravam-se úmidas. Essa combinação toda de sentidos propicia a idealização do ambiente perfeito para a prática de atividades esportivas e de lazer. Skate, patinetes e bicicletas também são figurinhas carimbadas nas manhãs da Uruçanga, enquanto alguns meninos trabalham com regadores e enxadas pelos jardins.

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Mais da Uruçanga. Simpática entrada de uma residência e o jogo de montanhas ao fundo.

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Mais da Uruçanga II. A linha de ônibus 886 (Freguesia-Barra Shopping), que transita pela Estrada da Uruçanga, e uma intervenção artística de Homer Simpson num dos postes.

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Outros jardins. Paisagismo caprichado no canteiro em frente ao número 744, e uma casa azulada na entrada de um dos variados condomínios da Uruçanga.

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No cruzamento com a Avenida São Guilherme de Norwich, chega-se ao canal do Rio São Francisco, que margeia a rua transversal sob a aparência de uma água cinzenta e pouco cheirosa. Sem dúvida, é o que quebra toda a idealização de bairro-modelo que a Estrada da Uruçanga transmite desde o seu início, na confluência das estradas do Bananal e do Quitite, até ali. Por algum azar meu, este trecho da rua estava “batizado” por uma sucessão de fezes de cavalo, que, aparentemente, são comuns por lá. Logo quando cheguei pude avistar o animal, de aparência esgotada, com o seu inconfundível pocotó ao andar. Alguns carros, sem opção, iam passando com seus pneus por cima daquela massa amarronzada. Enfim… continuando! 

No trecho da Uruçanga entre o canal do Rio São Francisco e a Estrada de Jacarepaguá, que é a via comercial da região, a aparência próspera e bem cuidada que a rua antes assegurava fica um pouco de lado, assim como o cheiro do gramado e das flores também ficaram para trás. As calçadas são puro concreto, as residências são menos pomposas – uma delas, inclusive, funciona como depósito de bebidas, carvão, cloro e cartões telefônicos – e há muito ruído de buzina e de motor de ônibus. O que eu vi de mais poético nesse trecho foi uma pipa cor-de-rosa presa em meio aos galhos da árvore loteada de erva-de-passarinho em frente ao Bartekim. Fiquei um tempo olhando para aquela pipa, abobado, lembrando do meu pavor infantil de me acidentar com cerol e daquelas divertidas tentativas de empinar uma pipa. Nunca foi minha especialidade.

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O trecho final. O panorama do Rio São Francisco, que margeia a Avenida São Guilherme de Norwich, e uma casa-comercial, modalidade até então inédita pela rua.

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Detalhes significantes. Uma pipa cor-de-rosa presa na árvore que fica na esquina com a Estrada de Jacarepaguá, e o protesto – pichado – sobre a verticalização excessiva da região.

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Outras particularidades. Mosaico de beija-flores na entrada da garagem de uma residência e as divertidas e afetuosas placas instaladas nas portas das casas.

A Estrada da Uruçanga também tem outras particularidades tão interessantes quanto a pipa retida no galho da árvore ou os venerados jardins e gramados, já comentados exaustivamente ao longo desta crônica. a) Apesar do vandalismo que é uma pichação, em certo muro há, em letras garrafais, o seguinte (e apoiado) protesto: FORA PRÉDIO! Não há dúvidas de que os lançamentos imobiliários deram uma melhoria na paisagem da região, mas isso não pode ser regra para definir como a qualidade de vida de um bairro prospera sem considerar os impactos ambientais e o preparo do ambiente para tal. b) Já na entrada da garagem de uma casa, no chão mesmo, destoando da aberração que é o grafite agressivo, há o lindo mosaico de dois beija-flores indo ao encontro de uma única flor. c) Enquanto isso, em muitas das residências há plaquinhas artesanais penduradas nas portas que dão para a rua com mensagens do tipo: “Nesta casa acredita-se em Deus” ou “Deus é muito amado e bem-vindo nesta casa”. “Nesta casa mora uma família feliz”. “Lar doce lar”. A melhor de todas foi: “Aqui somos todos loucos uns pelos outros“.

Esses pequenos detalhes comprovam a boa energia do local, desprovido de paranoias excedentes quanto à autoexposição e à segurança, e a firmeza na convicção de que, sim, a Estrada da Uruçanga é um delicioso lugar para morar e desfrutar.

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Dessa vez obtive muitas imagens da Estrada da Uruçanga. Quer ver todas?

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