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Salvem os tatuís

Eles sumiram em 70% das praias. Outro dia um foi visto em Copacabana

Por Bruna Talarico
Atualizado em 5 jun 2017, 14h27 - Publicado em 25 jul 2012, 16h43

Algumas atitudes entregam na hora a idade da pessoa. Por exemplo, valer-se de gírias antigas, daquelas que ninguém mais fala. Ou usar uma peça de roupa cafona, antiquada, que o passado já tratou de enterrar. No Rio, um bicho branquelo e invertebrado também ajuda a distinguir uma geração da outra: entre os cariocas, fica evidente que alguém passou dos 30 anos se sabe direitinho o que é um tatuí. Crianças geralmente não têm ideia do que se trata, mas, nas décadas de 70 e 80, eles faziam a festa da garotada. Os pequenos se divertiam perto da água, ali onde a onda deixa de ser onda, capturando, em um mesmo naco de areia, dezenas de bichos. Mesmo que não sejam tão emblemáticos como as baleias, eles vêm merecendo a atenção de pesquisadores e ecologistas, num movimento que seria digno de se chamar “Salvem os tatuís”.

Biólogo da UNI-Rio, Ricardo Cardoso realiza, há quinze anos, levantamentos regulares sobre a presença do Emerita brasiliensis (seu nome científico) nas praias do Rio. Ele descobriu que em 70% do litoral a população de tatuís hoje em dia é insignificante. Numa recente coleta, em Copacabana, sua equipe encontrou, em 3 quilômetros de busca, apenas um tatuí. Um. Isso mesmo, um. Os pesquisadores alinham, entre as causas do sumiço, o pisoteio constante, a poluição da água (que contamina o plâncton, seu alimento) e o desaparecimento dos grãos de areia finos, resultado de frentes frias cada vez mais frequentes. “Hoje há mais pulgas-da-areia do que tatuís”, diz Cardoso, salientando que a espécie foi descoberta e catalogada em 1935, no Sudeste brasileiro, e ainda resiste na faixa de mar que vai do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul.

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Iniciativas isoladas denunciam a ameaça por que passa esse crustáceo de 3 centímetros, leve como pluma e de pouco uso na culinária – Isis Rangel, dona do restaurante Siri Mole, especializado em comida baiana, diz que ele serve, no máximo, como “um bom temperinho” ou como parte de uma sopa, misturado a caranguejos. Em 2008 surgiu o Projeto Tatuí, do Instituto Aqualung, sucesso no colégio Teresiano e na British School. Lá, os alunos são estimulados a tirar lixo da orla, e aqueles que recolhem mais sujeira ganham um pingente de ouro no formato de um tatuí.

A literatura infantil também acena ao bicho sumido. No recém-lançado Praia Limpa É a Minha Praia, da Casa Editorial Vieira & Lent, escrito por Fábio Araujo, o protagonista é um tatuí velhinho que não se conforma com tantos copos, palitos e sacos invadindo seu habitat. Ele divide a indignação com marias-farinhas, siris e minhocas. “Mais do que despertar a consciência ecológica nas crianças, quis lembrar os adultos sobre o compromisso com o meio ambiente”, diz o autor. É bom mesmo estar atento, ou só nos restará aquele portal de entrada e saída da Estação General Osório do metrô, em Ipanema. Não é igualzinho?

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