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Vinhos em guerra

Marcas nacionais estão sumindo das cartas de restaurantes cariocas. Restaurateurs se uniram para protestar contra salvaguarda que pode levar ao aumento do imposto sobre os vinhos importados

Por Daniela Pessoa
Atualizado em 5 dez 2016, 15h40 - Publicado em 28 mar 2012, 21h41

Impostos. A palavra causa arrepios em um país conhecido por ter uma das maiores cargas tributários do mundo, especialmente no segmento de vinhos. Paga-se muito caro pela bebida, que pode ficar com o preço ainda mais exorbitante se a proposta de salvaguarda para o vinho nacional for aprovada. O pedido, articulado entre entidades representadas por grandes vinícolas do Rio Grande do Sul, prevê a implantação de uma medida para “proteger” os fabricantes nacionais da chamada “invasão” dos importados.

As 70 milhões de garrafas de vinho fino que chegam anualmente do exterior incomodam os produtores brasileiros. O resultado da manobra seria o aumento do imposto de importação de 27% para 55%, como destacou Marcelo Copello, especialista na bebida, no blog Vinoteca. Em resposta à medida protecionista, restaurateurs de peso da cidade – Pedro Hermeto, do Aprazível, e Roberta Sudbrack encabeçando o protesto – se uniram em um movimento radical: limar das cartas de vinhos cariocas as marcas nacionais que apoiam o aumento da taxação dos importados.

De outros insurgentes como Alexandre Lalas, do site Wine Report, partiu a ideia de redigir um abaixo-assinado online contra a salvaguarda, que já conta com mais de 6 500 assinaturas. Segundo Hermeto, a taxação indevida dos importados aniquilaria o mercado brasileiro, interrompendo o processo de difusão cada vez maior da cultura do vinho no Brasil, onde as pessoas estão começando a cultivar o hábito de apreciar a bebida. “A salvaguarda é um retrocesso, porque limita o paladar do consumidor a uma gama de vinhos restrita. Não haverá competição, saudável em qualquer mercado, até porque ninguém vai querer pagar mais caro por uma garrafa estrangeira”, justifica.

Logo em seguida, a chef Roberta Sudbrack anunciou em seu perfil no Facebook: “Retirando nesse momento da carta de vinhos do Roberta Sudbrack todas as vinícolas que apoiam a salvaguarda. Sigam-me! Pela ?ordem e progresso? da gastronomia brasileira”. A chef engajada, que incitou seus quase 35 000 seguidores nas redes sociais a participar do manifesto, afirmou que a equação é muito simples (e que por isso a “manobra vergonhosa” que os produtores nacionais almejam não faz sentido): “Quanto mais acesso ao vinho o brasileiro tiver, mais interesse terá por ele, inclusive pelo produto do nosso país”. O Oro, no Jardim Botânico, também aderiu à campanha contra a salvaguarda, que o chef e sócio da casa, Felipe Bronze, taxou de retrógada e absurda, contrária ao desenvolvimento do mercado vinicultor no Brasil.

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O todo poderoso Rogério Fasano, que comanda o Fasano Al Mare e o Gero, além de sua rede de hotéis, também está do lado de quem considera o aumento das taxas de importação uma aberração. Afinal, o vinho por aqui já custa caro, três vezes mais do que nos Estados Unidos, por exemplo – e nem por isso a indústria de vinhos norte-americana deixa de lucrar frente à concorrência europeia. Fasano garante que, se a salvaguarda for aprovada pela presidenta Dilma Rousseff, ele será outro a abolir da carta de vinhos de seus restaurantes os produzidos no país. “A imagem do vinho nacional ficará manchada inclusive lá fora”, lamenta.

Surfando na mesma onda, o chef francês Claude Troisgros e o sócio do restaurante Quadrucci, Eduardo Bellizzi, também estão estudando apagar os vinhos brasileiros do cardápio de seus restaurantes. Entre os entrevistados por VEJA Rio, apenas Marcelo Torres, restaurateur do Grupo Best Fork (Giuseppe Grill, Laguiole, Giuseppe, Clube Gourmet e Bar MAM) e os restaurantes La Fiducia e Eça se posicionaram contra o boicote. “A atitude é radical e tem o mesmo sabor indigesto que a salvaguarda”, opina a sommelière Deise Novakoski, do Eça.

De fato, os vinhos finos nacionais perdem mercado, a cada ano, para os importados – em 2011, a produção nacional encolheu de 22 milhões de litros para 19 milhões de litros, de acordo com o Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho) -, mas nem tudo é como parece. O que nenhuma entidade envolvida no pedido de salvaguarda deixou claro é que esse dado se refere apenas ao mercado brasileiro de vinhos finos, onde os importados dominam. No entanto, quando se observa o mercado nacional por completo, incluindo os vinhos de mesa e os espumantes, o quadro se inverte: os produtos brasileiros reinam absolutos, com 77% de participação. Um reinado que, se depender dos restaurantes cariocas, pode estar com os dias contados.

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