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O Sherlock carioca

Obcecado por números e metas, Rivaldo Barbosa comanda a Divisão de Homicídios no Rio. Em um ano de atuação, ele vem elucidando casos de grande repercussão

Por Da Redação
Atualizado em 25 mar 2024, 08h48 - Publicado em 27 mar 2013, 20h34

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Eram 2h47 do dia 28 de fevereiro quando tocou o celular do agente federal dos Estados Unidos Michael Brown, o oficial responsável pela segurança do consulado americano no Rio. Do outro lado da linha, um policial lhe comunicava a prisão do suspeito de assassinar a americana Victoria Ticaciuv, funcionária do Departamento de Estado daquele país que fora encontrada morta poucos dias antes em um hotel na Lapa, num episódio de repercussão internacional. Quem despertou o agente no meio da madrugada foi o delegado carioca Rivaldo Barbosa, diretor da Divisão de Homicídios (DH) há pouco mais de um ano, que não sossegou até que o caso fosse totalmente esclarecido. Cabe a ele comandar a unidade mais dispendiosa da Polícia Civil fluminense, numa estrutura que abrange nove delegados, 22 peritos e 200 agentes. A seção é também a mais rumorosa, criada em 2010 para desvendar um tipo de crime sempre revoltante, por subtrair de forma irreversível o bem maior de uma pessoa: a vida. No ano passado, o índice de elucidação de assassinatos no Rio chegou a 20%, um nível aquém dos padrões internacionais, na casa dos 40%, mas animador se comparado com o registro de uma década atrás, dez vezes pior. “Não existe crime perfeito”, repete o delegado. “Sempre vão deixar pistas. Temos a obrigação de descobrir as evidências e prender os culpados.”

O ofício da investigação exige do profissional uma conjunção de virtudes, como poder de concentração, vigor de raciocínio e uma boa dose de paciência para encontrar testemunhas, impressões digitais, pegadas, guimbas de cigarro, fios de cabelo ou qualquer peça que ajude a montar o quebra-cabeça de um crime. No caso da funcionária americana, o primeiro passo foi verificar o circuito de câmeras do hotel, que filmou a chegada da vítima com um homem. De posse dessa informação, a equipe de Barbosa descobriu que o casal esteve em um bar da região, onde a conta foi paga com o cartão de crédito pertencente a Alessandro Rufino. A partir da identificação, viram que o principal suspeito fugira para São Paulo. Ele foi monitorado por dois dias até ser detido em um ônibus quando retornava ao Rio. De toda a bem-sucedida operação, Barbosa só lamenta não estar presente na hora da prisão. “Não fosse por minha perna quebrada…”, queixa-se ele, ainda em recuperação da fratura de uma tíbia, que lhe valeu, no papel, três meses de licença médica. “Fiquei de molho apenas a metade do tempo”, conta.

Rivaldo Barbosa é um policial apaixonado que sabe bem a importância tanto da lupa quanto do computador. Obsessivo ao extremo, tem compulsão por números e planilhas. Seu computador guarda estatísticas tabuladas por ele próprio, que delineiam um mapa dos homicídios na cidade (veja o quadro abaixo). Os dados muitas vezes surpreendem. Quase 20% dos assassinatos acontecem entre 6 e 9 da manhã, sendo quinta-feira o dia com a maior quantidade de ocorrências. Obcecado por resultados, tal qual o executivo de uma empresa, ele estabeleceu para cada um de seus delegados a meta de elucidar um mínimo de dez casos por mês. “Estamos no caminho certo, mas o desafio é imenso. Ainda falta muito para chegarmos a um patamar realmente admirável”, diz.

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Essa relação com a matemática vem dos tempos em que ele era sargento da Força Aérea Brasileira. Barbosa passou boa parte dos quinze anos de carreira militar trabalhando com previsão meteorológica. Decidiu mudar de ares ao se certificar de que no ramo policial havia vários caminhos e atividades cerebrais. Até então, sua experiência no setor de segurança se limitava às brincadeiras de polícia e ladrão na infância. Em 2002, ele fez a prova para delegado, e assim ingressou na corporação, onde ascendeu com a velocidade de um projétil. Ganhou destaque a ponto de se tornar subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança na época da implantação das UPPs, com a missão de radiografar o funcionamento do tráfico nas favelas.

Uma Divisão de Homicídios eficiente é ferramenta-chave para a redução da impunidade, uma das piores chagas da área de segurança pública carioca. Numa metrópole com indicadores de violência ainda elevados, como a nossa, a tarefa exige esforço dobrado. Todos os dias, três pessoas são assassinadas na capital. No entanto, a taxa está em queda livre. Desde que Barbosa assumiu a DH, houve uma redução de 15% no número de homicídios, com 1?209 registros no ano passado. “A boa investigação, com a prisão dos autores, tem o poder de reprimir a prática do crime”, afirma a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, que aponta a principal virtude de seu subordinado: ser um excelente gestor de pessoas. Aos 43 anos e casado há dezessete com a advogada e administradora de empresas Érica, o delegado tem dois filhos, uma menina de 10 e um menino de 2 anos. Ao contrário do que muita gente pode supor, Barbosa não é chegado a livros de suspense nem a seriados policiais. Adepto da religião evangélica, ele gosta de passar o tempo em casa ouvindo música gospel. Pelo visto, de barra-pesada, basta a vida real.

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