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E o porto sai do papel

Com a conclusão da primeira etapa de sua monumental reforma, a região que vai da Praça Mauá à rodoviária ganha novas atrações

Por Caio Barretto Briso
Atualizado em 5 jun 2017, 14h28 - Publicado em 4 jul 2012, 17h39

Uma área pulsante, com novos museus, praças e espigões comerciais e residenciais, além de uma malha rodoviária totalmente retraçada e equipada com um moderno veículo leve sobre trilhos (VLT). Maltratada ao longo de décadas, a Zona Portuária, enfim, começa a ganhar sua configuração para o século XXI. Até 2016, a área passará por uma ampla cirurgia plástica, cujos efeitos já podem ser vistos. Neste domingo (1º), será inaugurada a primeira etapa da reforma que promete transformar a região, delimitada em um extremo pela Praça Mauá e no outro pela Rodoviária Novo Rio. Depois de dois anos de obras, 24 vias foram recuperadas. Ganharam nova pavimentação e calçadas, fiação subterrânea, sistema de drenagem e redes de abastecimento de água e de coleta de esgoto. Mais de 300 placas de sinalização foram instaladas. Símbolo maior do radicalismo da reforma, a demolição do Elevado da Perimetral foi antecipada em oito meses e terá início já em abril do próximo ano. “Muita gente duvidou, mas é certo que o viaduto virá abaixo”, afirma Jorge Arraes, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Porto (Cdurp), órgão municipal responsável pelo projeto de restauração.

clique na imagem abaixo e entenda o passo a passo das reformas

[—FI—]

A desconfiança era justificável. Desde a década de 80, foram feitas diversas promessas de revitalização daquela faixa, que durante o Império e boa parte da República foi a principal porta de entrada de mercadorias e pessoas na cidade. Inaugurado no começo do século passado, o Porto do Rio exibiu uma movimentação invejável até entrar em decadência, a partir dos anos 70. Sua degradação contagiou todo o entorno, e a Zona Portuária acabou virando uma parte gangrenada da cidade, com baixa ocupação, ruas semidesertas e gigantescos galpões abandonados. Descrentes de mudanças após tantas promessas em vão, os cariocas até estranharam quando máquinas e operários tomaram a região, alvo de uma quantidade de intervenções simultâneas que não eram vistas por lá desde a construção do centenário atracadouro. Após alguns transtornos causados pela interdição de ruas de grande fluxo, a população já usufrui as benesses proporcionadas pelo quebra-quebra. É possível frequentar, por exemplo, um dos trechos urbanos de imenso valor histórico e até então pouco visitado. Incluído no pacote da reforma, o Jardim do Valongo tem potencial para se tornar um concorrido ponto turístico. Essa agradável praça na encosta do Morro da Conceição, cujo projeto paisagístico foi encomendado pelo prefeito Pereira Passos em 1906, está com novo piso, uma cascata e arranjos de bromélias. Ela é vizinha de outra área de valor inestimável e também em obras: o Cais do Valongo, que foi ponto de desembarque e comercialização dos escravos vindos de além-mar.

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Com inegável vocação cultural, a Zona Portuária vê tomar forma também duas novas e grandiosas atrações voltadas para esse setor. Concluída a etapa de fundação, o Museu do Amanhã já está subindo no Píer Mauá, ao lado da estação de passageiros. Sua inauguração está prevista para meados de 2014 (veja o quadro abaixo), na mesma época em que deve ser aberto outro complexo de exposições que deverá agitar a vizinhança. Para acolher o Museu de Arte do Rio (MAR), o Palácio Dom João VI passa por uma recauchutagem geral, que contempla inicialmente a fachada. “As obras estão avançando em ritmo acelerado, mas também estamos focados na prestação de serviços públicos”, diz José Renato Ponte, presidente da concessionária Porto Novo, responsável pelas empreitadas. Ele destaca que o sistema de coleta de lixo será inovador. Inspirados em um modelo adotado em Portugal, os sacos de detritos ficarão em depósitos subterrâneos à espera do recolhimento, sem emporcalhar as calçadas.

Ao custo de 4,1 bilhões de reais, a revitalização urbana atrai para o local novos negócios em larga escala. Atualmente, existem setenta projetos imobiliários em análise na prefeitura, a maioria de endereços comerciais. Uma das maiores incorporadoras do mundo, a Tishman Speyer, responsável pelo Rockefeller Center, em Nova York, constrói o Port Corporate. Com entrega prevista para 2013, o espigão, próximo à Rodoviária Novo Rio, tem 22 andares e 560 vagas de garagem. Outro lançamento da companhia na mesma área vem com a assinatura do renomado arquiteto inglês Norman Foster. “Não há melhor lugar para investir no Rio”, afirma o carioca Daniel Cherman, presidente da Tishman Speyer no Brasil. “A região fica perto dos aeroportos, da Avenida Brasil, da Linha Vermelha e ao lado do Centro.” Além desses imóveis, estão confirmados o novo prédio do Banco Central e as instalações para a Olimpíada de 2016. Num espaço equivalente a oito quarteirões, perto do Santo Cristo, serão erguidas as vilas de árbitros e de mídia, além de dois hotéis com 500 leitos cada um e dois centros de convenções. Nesse trecho, pelo menos 1?330 apartamentos de dois e três quartos devem ser comercializados ainda neste ano.

De acordo com estimativas otimistas, a população residente nos bairros portuários vai saltar das atuais 28?000 pessoas para 100?000 em 2020. Para dar vazão ao movimento, está em andamento a construção de um conjunto de novas ruas e avenidas, que prometem aumentar em 50% a capacidade do fluxo de veículos. A mais importante delas é a Via Binário, paralela à Avenida Rodrigues Alves, que terá no total seis pistas. Em 2014, entra em operação o veículo leve sobre trilhos, bonde moderno que comportará 450 pessoas em cada vagão. O sistema terá seis linhas e 46 estações, incluindo Praça Mauá, Rodoviária Novo Rio, Central do Brasil, Cinelândia e Aeroporto Santos Dumont. Se tudo der certo, o carioca não sentirá falta do horrendo Elevado da Perimetral, que deve vir totalmente abaixo até 2016. Então, o Rio entrará para o seleto grupo de cidades que derrubaram viadutos movimentados com o intuito de reurbanizar a área. Entre elas desponta São Francisco, nos Estados Unidos, que pôs ao chão o elevado de dois pavimentos que margeava sua decrépita zona portuária, dentro do processo que a transfigurou em um concorrido ponto de lazer. Como efeito colateral, os imóveis locais tiveram seu preço triplicado. Sem nenhum cabotinismo, nossa baía é mais arrebatadora que a da cidade californiana. Sendo assim, tudo leva a crer que em breve a deterioração da Zona Portuária ficará apenas na memória e nas imagens do passado.

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