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10 perguntas para Sérgio Marone

O ator reuniu colegas famosos em vídeo para protestar contra a usina hidrelétrica de Belo Monte. Em 24 horas, conseguiu 300 000 assinaturas

Por Ernesto Neves
Atualizado em 5 dez 2016, 15h54 - Publicado em 17 nov 2011, 18h41

Em fevereiro desse ano, índios do Xingu desembarcaram em Brasília para protestar contra a usina hidrelétrica de Belo Monte. Na frente do Congresso Nacional, o cacique Ireô Caiapó pede que não se construa a barragem, que vai inundar 500 quilômetros quadrados de floresta amazônica e custará aos cofres públicos 25 bilhões de reais. Impressionado com a imagem, o ator Sérgio Marone decidiu abraçar a causa. Para isso, convidou uma amiga, a jornalista Paula Fernandes, e pôs em prática um plano que reuniu 20 atores globais em um estúdio do Cosme Velho, na Zona Sul do Rio. Nomes como Cissa Guimarães, Ari Fontoura, Juliana Paes e Malvino Salvador gravaram um vídeo dirigido por Marcos Prado, mesmo produtor de Tropa de Elie. Na mensagem-protesto (veja aqui), os famosos fazem coro contra a usina e pedem a assinatura de uma petição online. “Se ator tem poder para vender calça jeans, também consegue mobilizar” diz Marone. O resultado apareceu em velocidade impressionante: foram 300 000 assinaturas em 24 horas. Veja abaixo como Marone tornou-se em pouco tempo porta-voz de ecologistas de todo o país.

Assista ao novo vídeo do movimento, feito com o ator Paulo Gustavo

1- Por que você se mobilizou contra a usina de Belo Monte?

Acho muito impressionante uma carta feita pelo cacique Noah Sealth, escrita em 1854. Nela, o chefe indígena faz um alerta ao presidente dos Estados Unidos para o uso desenfreado de recursos naturais. Ao ver os índios em Brasília pedindo o fim de Belo Monte, senti que estávamos vivendo a mesma coisa. Decidi que era hora de agir, os índios brasileiros não estão sendo ouvidos. Então, chamei minha amiga, a jornalista Maria Paula Fernandes, para pensar numa estratégia. A ideia era fazer uma campanha com mensagem pop, para atingir todos os tipos de público. Funcionou.

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2- O que é o movimento Gota D?agua?

É um projeto para mobilizar as pessoas através da internet. Você vê mobilizações acontecendo no mundo inteiro pelas redes sociais. Somos multiplataforma, com divulgação através do Twitter, do site oficial, do Facebook. Em 24 horas, conseguimos reunir 300 000 assinaturas. Não podemos assistir tanto desrespeito aos direitos humanos calados. Na região do Xingu, a violência aumentou 135%, um absurdo.

3- Como vocês conseguiram chamar tanta atenção?

Tem muita gente preocupada com esse assunto. Mas a discussão não chegava a todo mundo. Inspirado no filme “The Hour”, lançado por Leonardo Di Caprio em 2008, decidi reunir amigos atores em torno da campanha. É uma classe com enorme influência na opinião pública, se conseguimos vender calças jeans, também podemos mobilizar as pessoas em torno de um problema. Fizemos um vídeo com senso de humor, para proliferar mesmo, chegamos a atingir 12 mil acessos simultâneos. Número tão alto que nosso site ficou fora do ar durante 4 horas.

4- Como foi organizar essa campanha, juntar tantos artistas no mesmo lugar?

Foi o mais difícil. No total, 30 pessoas trabalharam no estúdio, no Cosme Velho, sendo que 20 eram artistas. Quase todo mundo abriu mão de receber qualquer dinheiro pelo trabalho, nós gastamos o mínimo possível. Nosso diretor, Marcos Prado, foi fundamental, uma espécie de conselheiro. Ele tem essa linguagem moderna, que atrai todo mundo.

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5- Qual importância tem a adesão de artistas a uma campanha?

Acho que esse vídeo provou o quanto as pessoas estão querendo participar. Os envolvidos estão muito felizes, vibrando pelo sucesso. O artista tem que se posicionar, não pode ter medo de abraçar uma opinião. Isso faz parte da arte. Acho fundamental e natural. Eu não posso ficar quieto vendo tanto desrespeito, não consigo ser insensível a isso.

6- É a primeira vez que você se envolve numa causa?

Não. Durante certo tempo fui porta-voz da ONG Casa das Artes, que ensina crianças carentes na comunidade do morro dos Macacos, em Vila Isabel, e na Mangueira. Participava de festas para arrecadar fundos. No começo desse ano, estava gravando Morde Assopra no Projac quando assisti pela TV a prisão dos bombeiros após uma greve por aumento de salário. Depois do trabalho, eu, Mateus Solano, Elizabeth Savalla e Ari Fontoura decidimos gravar um vídeo em solidariedade aos bombeiros. Conseguimos 90 mil acessos no YouTube. Acho que a cidadania está ressurgindo no Brasil.

7- Há novos vídeos a caminho?

Sim. Hoje lançamos um com o Paulo Gustavo e mais cinco serão divulgados em breve. Serão vídeos menores, com um apelo humanitário mais forte.

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8- Quantas assinaturas vocês esperam arrecadar?

Nossa meta inicial é de 1 milhão de assinaturas, acho que com isso vamos ser ouvidos por todo mundo. Mas acho que conseguiremos mais. Nosso site foi estabilizado e, agora, podemos receber até 30 assinaturas por segundo.

9- Vocês têm medo de críticas? De acusarem o movimento de ser contra o progresso?

Acho que o vídeo é uma resposta a isso. Temos um corpo técnico muito forte para nos ajudar, temos embasamento. É um projeto idealizado há 30 anos, quando as tecnologias eram outras. Será, além de um desastre, um fracasso econômico. O professor da USP Célio Bermann demonstra isso. Segundo ele, se os mesmos 25 bilhões fossem usados para melhorar o sistema elétrico brasileiro, conseguiríamos economizar energia suficiente para esquecer Belo Monte.

10- O que vocês farão após colherem as assinaturas? Vão a Brasília?

Ainda é surpresa. Mas é um passo natural sim ir a Brasília para conversar com políticos.

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