Um rico currículo, no teatro, no cinema e na TV, distingue o ator e diretor de 75 anos e mais de seis décadas de carreira. Paulo José também dá um exemplo de vida e superação há quase vinte anos, pela forma como enfrenta o mal de Parkinson. Sem tempo a perder, dá expediente como diretor em dois espetáculos. Divide o trabalho com Susana Ribeiro no drama JT ? Um Conto de Fadas Punk, em cartaz no CCBB, e prepara a reestreia de Murro em Ponta de Faca, de Augusto Boal (1931-2009), para sábado (5), no Galpão Gamboa. Sua vida dá um documentário: Paulo José na Medida do Impossível, de Pedro Freire, com lançamento previsto ainda para este ano.
É sua a direção da primeira montagem de Murro em Ponta de Faca, em 1978. O texto, com personagens exilados, impregnado de anseios e questões políticas do tempo da ditadura, ainda tem apelo nos dias de hoje?
Em 1978 as pessoas sabiam o que estava acontecendo. Todo mundo tinha um parente na clandestinidade. O que a peça apresentava era mobilizador, dava força ao movimento pela anistia. O próprio Boal era um exilado sem documentos, trocava mais de país do que de roupa. Murro em Ponta de Faca parece ter sido escrita hoje. Não foi preciso fazer nenhuma adaptação. Para que a peça ficasse anacrônica, obsoleta, seria necessária uma revolução na América do Sul, como o próprio Boal escreveu, que jogasse na lata de lixo da história os Barbalho, os Collor,
os Calheiro et caterva.
JT ? Um Conto de Fadas Punk aborda os fenômenos midiáticos. Que contribuição o espetáculo traz às discussões sobre o tema?
A peça tem vários níveis de leitura. Sua aparente fragmentação, cenas intercaladas por depoimentos, entrevistas e projeções, contém a visão contemporânea de uma civilização das imagens, da desinformação pelo excesso de informações. Sua moralidade é uma provocação.
De onde você tira energia para seguir tão ativo?
O segredo da juventude é não driblar os problemas do Parkinson, você não está em condições de driblar nem de jogar futebol de botões. E fazer aquilo que nos dá prazer. Se puder. Outras coisas são ter uma mulher (a figurinista Kika Lopes) como a minha, ter três filhas (as atrizes Bel, Ana e Clara Kutner) como as minhas e ter uma Mirian (sua produtora Mirian Cavour) como a minha. Fazer um filme por ano também dá um baita retorno de mídia. Parece que você fez muitas coisas. O mesmo com televisão. Uma novela a cada dois anos rende para o resto da vida.