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Os vizinhos do Maracanã

Reforma que incluiu recapeamento da calçada e reforço na iluminação transforma a parte externa do estádio em atraente área de lazer para os moradores do bairro

Por Ernesto Neves
Atualizado em 2 jun 2017, 13h07 - Publicado em 28 Maio 2014, 20h31

Todas as terças e quintas, o programador de informática Renato Castro e a mulher, a médica Flávia Castro, cumprem um ritual. Eles se dirigem ao calçadão em torno do Maracanã para andar de patins. Aos sábados, quem se diverte é a filha deles, Raissa, de 5 anos, aluna de uma recém-criada escolinha de skate no local. Radicado há vinte anos no bairro, o casal faz parte de um número crescente de pessoas que vêm descobrindo a periferia do estádio como uma atraente área de lazer. Revitalizado para a Copa do Mundo, ao custo de 109,5 milhões de reais, aquele trecho teve melhorias que incluem o recapeamento das calçadas e da ciclovia ? agora toda redesenhada ?, uma nova pista de skate e a ampliação da iluminação. Também foi inaugurada neste mês uma passarela para pedestres sobre a Avenida Radial Oeste, com 530 metros de extensão. Ela liga o bairro ao parque da Quinta da Boa Vista, do outro lado da via férrea, o que também contribuiu para aumentar o afluxo. “Antes, era impossível praticar esportes aqui devido aos buracos no calçamento e à péssima iluminação”, lembra Renato. “Com as mudanças, passamos a nos exercitar em família.”

A revitalização daquele entorno está atrelada à ampla reforma por que passou o estádio com vistas à Copa do Mundo. Como são realizados, quando muito, dois jogos por semana no local, a ideia é mesmo aproveitar melhor aquela área para a diversão, em um bairro com acentuada concentração de prédios e carente de espaços de lazer a céu aberto. Para acabar com o clima inóspito de antes, a região ganhou tratamento paisagístico, cuja principal medida foi o plantio de 122 palmeiras e 203 árvores nativas. Além do embelezamento, espera-se que a iniciativa ajude a amenizar as altas temperaturas registradas no verão. Outra queixa muito comum era quanto à péssima iluminação, que afugentava os frequentadores à noite. A solução foi implantar um novo sistema, com mais de 320 luminárias de LED e projetores, que cobre toda a extensão de 3 quilômetros daquele trecho circular. Para atrair os mais jovens, foi construída uma pista de skate do tipo bowl. Semelhante ao formato de uma piscina, ela tem 700 metros quadrados e profundidade máxima de 2,4 metros. Já a praça em frente ao extinto Museu do Índio virou um dos pontos mais concorridos, com escolinhas de skate, patins e aulas de ginástica, que ficarão suspensas durante o Mundial. “Moro no bairro desde 2007 e jamais tinha vindo aqui”, conta o analista de sistemas Marcelo Ribeiro. “Agora, comprei um skate para que minha filha possa aproveitar melhor este espaço”, diz. Corredora assídua, a professora de educação física Patrícia Aguiar perdeu o receio de ir ao lugar à noite. “Evitava principalmente a parte próxima à Uerj, onde sempre via moradores de rua e usuários de drogas”, diz.

Fotos Felipe Fittipaldi
Fotos Felipe Fittipaldi ()

Apesar da evidente revitalização, como mostra a profusão de corredores, caminhantes, patinadores, skatistas e ciclistas, a região enfrenta uma série de problemas. A menos de um mês do início da Copa, ainda há intervenções a ser concluídas. Operários correm contra o tempo para finalizar a estação intermodal, que terá cinco plataformas para integrar o sistema ferroviário e o metrô. Já a obra na faixa antes ocupada pela favela do Metrô, às margens da Avenida Radial Oeste, permanece sem previsão de quando será concluída. Bem mais mirabolante, o projeto de uma praça suspensa sobre os trilhos de trem nem sequer saiu do papel. Há ainda reclamações de que partes do piso da área de lazer já apresentam sinais de deterioração, com pontos desnivelados e falhas. É inegável que a nova iluminação trouxe uma sensação de segurança, algo que as estatísticas não espelham. Pelo contrário. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), em março dobrou o registro de roubos na região do Maracanã, Praça da Bandeira e São Cristóvão em relação ao mesmo mês do ano passado.

A remodelação do complexo potencializa a já acelerada valorização do Maracanã, um bairro que se situa na conexão entre o Centro e a Zona Norte e reúne 25?000 moradores, majoritariamente de classe média. De acordo com dados do Sindicato da Habitação (Secovi-Rio), em um ano o preço médio do metro quadrado no local teve um incremento de 18%, alcançando a cifra de 6?800 reais. Com a recuperação do cartão-postal, a tendência é que o fenômeno prossiga. “A reforma interna e externa do complexo trouxe glamour à região, com reflexo direto no preço dos imóveis”, diz Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi-Rio. Agora só resta saber se a seleção também vai passear naquele estádio.

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