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Rio sacro

Um roteiro para você apreciar as belezas e raridades guardadas nas igrejas cariocas

Por Louise Peres
Atualizado em 5 jun 2017, 14h34 - Publicado em 19 abr 2012, 16h01

Mais do que templos católicos e construções históricas, as igrejas do Rio são guardiãs de exemplares únicos da arte e da arquitetura coloniais brasileiras. Predominantemente barrocas, elas impressionam pela beleza de seus interiores. ?Suas talhas, pinturas, afrescos e esculturas fazem das igrejas do Rio de Janeiro, principalmente as de origem colonial, as mais expressivas desse período?, afirma Nireu Cavalcanti, arquiteto, historiador e professor da pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFF. Aqui também estão o trabalho de grandes artistas ? entalhadores, marmoristas e escultores – da época, como a primeira pintura em perspectiva feita no Brasil.

Além de belos trabalhos artísticos, essas igrejas ostentam a riqueza daquele tempo. É enorme a quantidade de ouro que decora o interior de algumas delas. A prática acentuava um contraste: no mesmo Rio de Janeiro caracterizado pela simplicidade de suas casas, eram erguidas igrejas monumentais, de obras riquíssimas. ?Antes da chegada da corte portuguesa, os ricos não tinham o direito de expressar sua posição social nas construções. Uma lei coibia o uso de elementos como o ouro, papéis e revestimentos estrangeiros?, explica Cavalcanti. A necessidade de discrição em suas residências fez com que a elite, através de irmandades e ordens de leigos, investisse muito dinheiro nesses templos. ?O ciclo do ouro se inicia no século XVII, e tem seu apogeu por volta de 1750. Uma lenta decadência se inicia e ele dura até o século XIX. Por isso, quanto mais recentes, menos ouro essas igrejas têm?, explica o historiador Milton Teixeira.

Quer conhecer de perto? No roteiro abaixo, apontamos o que vale a pena ser visto nos templos mais representativos da arte sacra no Rio.

MOSTEIRO DE SÃO BENTO

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Do lado de fora, uma fachada austera, rústica, como eram os primeiros templos da época da colonização; dentro, um festival de ouro cobre uma das mais belas talhas em estilo barroco da cidade. O contraste entre a simplicidade e a riqueza torna ainda mais impressionante a experiência de visitar o Mosteiro de São Bento, surgido cerca de vinte anos após a fundação do Rio, em 1565. ?Lá está a grande expressão da obra de Inácio Ferreira Pinto, entalhador famoso no período colonial?, aponta Nireu Cavalcanti. Seu interior também abriga traços do estilo rococó, além de um raríssimo órgão barroco do século XIX, do qual resta apenas a caixa.

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Rua Dom Gerardo, 68 ? Centro, tel. 2206-8100. https://www.osb.org.br – Visitação: diariamente, de 7 às 18h. Missas de segunda a sábado, 7h30; aos domingos, 10h e 18h.

IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO DA PENITÊNCIA

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Construído em terreno doado pelos frades franciscanos ao lado da igreja do Convento de Santo Antônio e inaugurado em 1622, o templo abriga a primeira pintura em perspectiva feita no Brasil, pelo pintor português Caetano da Costa Coelho. Vindo de Lisboa, ele viajou em seguida para Minas Gerais, sendo também autor de pinturas das famosas igrejas históricas mineiras. São belíssimas as talhas revestidas de ouro da capela-mor e da nave, executadas pelos artistas portugueses Manuel de Brito e Francisco Xavier de Brito. ?É a segunda igreja mais rica do Rio, perdendo apenas para o Mosteiro de São Bento?, afirma Milton Teixeira. A igreja e o convento passam hoje por reformas, mas seguem abertos para visitação.

Largo da Carioca, 5, Centro , tel. 2262-0197 ? Visitação de terça a sexta, de 9 às 12h e de 13 às 16h.

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IGREJA DE NOSSA SENHORA DE BONSUCESSO

Datada de meados do século XVIII, a igreja guarda os altares da igreja jesuítica demolida quando o Morro do Castelo foi derrubado, nas reformas urbanas sofridas pela cidade em 1922. ?A lembrança que nós temos daquela igreja está na lá?, afirma Nireu Cavalcanti.

Rua Santa Luzia, 206, Centro, tel. 2220-3001 / 2517-8008. Visitação de segunda a sexta, de 7h às 15h30.

IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CANDELÁRIA

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Impossível não notar tamanha imponência em plena avenida Presidente Vargas. Sua construção levou mais de 100 anos ? a obra foi iniciada em meados do século XVII e só terminou no fim do século XVIII. O projeto do engenheiro militar João Rocio teve na imensa cúpula um grande desafio de engenharia para a época. ?Os profissionais envolvidos se questionaram sobre o material a ser usado. Madeira, para ficar mais leve? Todos achavam que aquilo ia cair?, conta Cavalcanti. A solução foi trazer de Portugal um marmorarista e escultor, para montar aqui as pedras numeradas da estrutura, a maior de todos os templos do Rio. Atente também para o belíssimo trabalho em mármore que decoração a catedral.

Praça Pio X, Centro, tel. 2233-2324. Visitação de segunda a sexta, de 7h30 às 16h; sábados de 8h às 12h; domingos de 9h às 13h. Sobre funcionamento em feriados, consulte a igreja.

IGREJA DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA DO OUTEIRO

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Situada num ponto estratégico da cidade, a igreja é considerada uma joia da arquitetura setecentista e um dos maiores patrimônios da arquitetura colonial religiosa brasileira. Datada de 1739, a obra é atribuída ao engenheiro e arquiteto tenente-coronel José Cardoso de Ramalho. ?É a única restante da cidade que reúne linguagem, concepção e volumetria barrocas. Sua proporção em relação ao morro é muito bonita?, ressalta Nireu Cavalcanti. Além disso, visitar a igreja e as construções que a cercam permite ao público sentir o clima do Rio de Janeiro de antigamente.

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Praça Nossa Senhora da Glória, 135, Glória, tel. 2225-2869 / 2265-9236. Visitação, de segunda a sexta, de 9 às 12h e 13 às 16h, sábados e domingos de 9 às 12h.

IGREJA NOSSA SENHORA DO CARMO – ANTIGA SÉ

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A antiga Catedral Metropolitana do Rio, que recentemente passou por obras que restauraram parte das fachadas, os vitrais, a estrutura da torre e os telhados, tem seu interior em estilo rococó ? mais delicado e posterior ao barroco. A talha é um trabalho de Inácio Ferreira Pinto e Mestre Valentim, outro artista notável da época. No século XIX, o templo, então capela Real, recebeu cerimônias da família Real Portuguesa, como a coroação de D. Pedro I e o batizado e o casamento da princesa Isabel. Construída em 1761, a igreja passou por diversas modificações na fachada. Segundo o arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti, a antiga torre barroca foi derrubada para dar lugar a outra, maior, com o objetivo de torná-la a mais alta da cidade. ?No núcleo antigo da cidade, temos uma dominância do neoclassicismo e o ecletismo histórico. A Antiga Sé é um típico exemplar disso?, afirma ele, referindo-se à mistura de estilos, comum nos templos cariocas.

Rua Sete de Setembro, 14, Centro, tel. 2242-7766. Visitação de segunda a sexta, de 10 às 15h30, sábados e domingos, de 11 às 13h. Visitas guiadas para grupos: de 10 às 15h20, (R$ 5,00 por pessoa). Requer agendamento prévio, de 10 às 16h, pelo tel. 2221-0501.

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CATEDRAL METROPOLITANA DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO

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Fechando a lista, um exemplar moderno, distante da estética das demais. Inspirada na pirâmide que os Maias construíram na Península de Yucatan, no México, a Catedral Metropolitana teve sua pedra fundamental abençoada e lançada por Dom Jaime de Barros Câmara em 20 de janeiro de 1964, data em que se celebra São Sebastião, padroeiro da cidade. Engana-se quem pensa que a construção, apontada como um dos monumentos mais feios da cidade em eleição promovida por VEJA RIO, não tenha nada de belo. A beleza está em seu interior. ?Ela possui lindos vitrais, os maiores de todas as igrejas do Rio?, aponta o historiador Nireu Cavalcanti, que destaca também as dimensões monumentais do templo, cuja área de 8000 metros quadrados tem capacidade para abrigar 5 000 pessoas sentadas ou 20 000 em pé.

Avenida Chile, 245 ? Centro, tel. 2240-2669

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