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Festa de família

Encontro reúne descendentes de uma das mais emblemáticas dinastias cariocas

Por Sabrina Wurm
Atualizado em 5 jun 2017, 14h53 - Publicado em 12 ago 2011, 17h24

Quem caminha pelo Rio de Janeiro tem boas possibilidades de deparar com algum legado da família Guinle. São ruas, palácio, hotel, condomínio, hospital e clube com o carimbo de uma das dinastias mais emblemáticas da cidade no século passado. Seus integrantes foram protagonistas de episódios fundamentais da história econômica, arquitetônica, política, esportiva e cultural do nosso município e, consequentemente, do Bra­sil. Eles tiveram participação de­­ci­­si­va na construção do Copacabana Pa­lace, do Pa­lácio das Laranjeiras, do Hos­pital Universitário Gaffrée e Guinle e do aristocrático Estádio das Laranjeiras, o maior da cidade quando inaugurado, no fim dos anos 10. Se os bens palpáveis se espraiam por diversos endereços, o patrimônio imaterial deixado por eles é igualmente generoso. Nenhum outro membro da linhagem ganhou tanta notoriedade quanto o playboy Jorginho Guinle, perdulário desmedido (e invejado), que torrou todo o seu quinhão, estimado em mais de 100 milhões de reais em valores de hoje, com festas, viagens e mulheres ? ou melhor, divindades do porte de Marilyn Monroe, Rita Hayworth, Ava Gardner e Kim Novak.

Gianne Carvalho
Gianne Carvalho ()

O fascínio por essas e outras histórias contadas pelo pai motivou o estudante Raphael Guinle, 10 anos, a organizar um encontro da família para que primos, tios e tios-avós pudessem se conhecer, trocar relatos e estreitar a relação. Integrante da sexta geração do clã (veja o quadro na pág. 34), o menino criou uma página no Fa­ce­book que, em dois meses, já contabilizava 100 parentes cadastrados. Cerca de setenta deles compareceram ao encontro, realizado no domingo passado (7) no Bar do Copa, local apropriadamente escolhido pelos participantes. Entre os presentes, representantes de três linhagens, estavam o ex-presidente da Riotur José Eduardo, o estilista e empresário Eduardo e a produtora de eventos Georgiana, filha de Jor­gi­nho. Uma ausência comentada foi a da atriz Guilhermina Guinle, hoje a componente mais famosa da dinastia, que estava viajando. “Meu pai fala muito dos nossos antepassados e sempre quis saber por onde andam os mais jovens”, revela Raphael, que é filho de Eduardo, dono de uma grife masculina no Fashion Mall.

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Na reunião, o Copacabana Palace, erigido por iniciativa de Octávio Guinle na década de 20 e hoje pertencente ao grupo Oriente Express, era o único resquício de um glamour que ficou para trás. A família hoje é composta de gente como a gente (Tatiana, Bárbara, Gilberto, Joaquim, Antônio, Ma­riana, Vicente), a maioria de classe média ou média alta, oriunda do Rio, de Petrópolis, Nova Friburgo, Florianópolis e São Paulo. Ao contrário das primeiras gerações, marca­das por engenheiros com faro empreendedor, o clã tem atualmente a predominância de profissionais liberais com carreira na área de humanas. Alguns dos presentes entraram pela primeira vez no imponente hotel. Numa cortesia em nome do passado, o estabelecimento liberou os convidados de pagar a entrada no bar, que é de 120 reais para homens e 70 para mulheres. Evi­den­te­mente, não houve nem sombra das extravagâncias típicas de Jorginho Guinle: nada de champanhe, caviar ou lagosta à mesa. O item do cardápio mais pedido foi mesmo a plebeia cerveja, a 12 reais a garrafa.

Gianne Carvalho
Gianne Carvalho ()

Em meio a apresentações informais e à inevitável pergunta “o que você faz?”, o assunto central nas rodas era a trajetória iniciada pelo patriarca, o gaúcho de origem francesa Eduardo Palassin Guinle (1846-1912), que se estabeleceu no Rio no fim do século XIX, ao lado da mulher, Guilhermina, e de sete filhos. Ou nove, já que há uma contro­vér­sia so­bre a morte de dois bebês logo depois do nascimento. Engenheiro e fundador da Companhia Do­cas de Santos, Palassin conseguiu, no fim do século XIX, a concessão para explorar o principal porto do país. Em pouco tempo, ele expandiu seus negócios e se tornou peça-chave da elite financeira da época, deixando uma herança estimada atualmente em 2 bilhões de reais, que, ao longo de quase um século, se perdeu pelo caminho.

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Seus herdeiros diretos investiram no ramo imobiliário, em empresas de construção e energia elétrica, seguradoras, bancos e corretoras. Eduardo construiu o Palácio das Laranjeiras, hoje residência oficial do governador, e o Parque Guinle. Seus irmãos Carlos, pai de Jorginho, criou a Granja Comary, em Teresópolis, e Arnaldo foi patrono do Fluminense Football Club. Já Octávio ergueu o Copacabana Palace, pioneiro no ramo na orla do bairro. Histórias sobre o próprio Copa, como não poderia dei­xar de ser, alimentaram os bate-papos, repletos de nostalgia. Filho do fundador do hotel, o empresário e ex-secretário municipal de Tu­rismo José Eduardo Guinle, 61 anos, era um dos mais falantes. Ao lado dos filhos Tatiana e José Eduardo, ele recordava sua infância e sua adolescência vividas no hotel, onde morou com os pais numa suíte de 650 metros quadrados no 6º andar. “Um dos momentos inesquecíveis foi quando conheci Nat King Cole”, diz ele, referindo-se à apresentação do cantor e pianista americano que ocorreu ali no quintal da sua casa, em 1959.

[—FI—]

Que outra família teve o privilégio de ter como playground o majestoso hotel? A produtora de eventos e jornalista Georgiana, 41 anos, puxava pela memória casos impagáveis de travessuras pelos corredores do prédio. Certa vez, esmigalhou uma barata e colou-a em um quadro de natureza-morta. Periga estar lá até hoje, incorporada à cena. Com seu jeito expansivo, que cativou os primos recém-conhecidos, Georgiana revelou também traquinices do pai, como o epi­sódio em que Jorginho e a atriz Kim Novak foram para a rua fantasiados de mendigos após um baile de Carnaval. Numa tentativa de reabilitar a trajetória dele, a filha fez questão de destacar aos mais novos que Jorginho não foi tão somente o criador do “ócio corporation”, como ela diz ironicamente. “Ele era uma espécie de relações-públicas do hotel e foi consultor de Walt Disney para a criação do Zé Carioca”, afirmou Georgiana, que foi batizada na religião evangélica na piscina da pérgula, em 1994. No fim do encontro, o empresário Eduardo Guinle fez um breve agradecimento ao microfone. Ele aproveitou para pedir que todos lhe encaminhassem um e-mail com o nome completo, a data e o local de nascimento. A ideia é iniciar uma missão trabalhosa: montar a árvore genealógica completa da família. “Tenho o projeto de escrever um livro sobre a nossa sa­ga”, conta Eduardo. Certamente, será uma obra de vários volumes.ß

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