Três séculos de esquina
Exposição com fotos de Marc Ferrez e Flávio Carvalho revela o camelô de ontem e de hoje
Poucos fotógrafos captaram tão bem a alma carioca quanto Marc Ferrez. De família francesa, nascido no Rio em 1843, ele se especializou em retratar o cotidiano da cidade, trabalhando desde os tempos do Império, e República adentro. A então capital do país lhe proporcionava paisagens como a Floresta da Tijuca e o Jardim Botânico, mas os tipos humanos que se forjavam junto às aceleradas mudanças na urbe também rendiam belos retratos ? são célebres suas fotos de vendedores de rua, àquela época ainda não popularizados como camelôs. Aberta na semana passada, segue até agosto, na Biblioteca-Parque da Rocinha (Estrada da Gávea, 454), a mostra Ambulantes Ontem e Hoje, que reúne doze obras de Ferrez ? todas elas revelam cariocas que já tinham de se virar, no fim do século XIX, vendendo de tudo um pouco pelas esquinas dos bairros mais pobres e do Centro. Em outra parede estão expostas fotografias atuais (de Flávio Carvalho) que retratam os vendedores de hoje, também num total de doze figuras, que batem ponto nas ruelas da favela ou em seus arredores. Os retratos do passado e do presente têm, em média, 30 centímetros de base e 40 de altura. Além deles, dois pôsteres (de quase 1,5 metro de comprimento) se destacam na exposição, fazendo o contraste entre o terreno verdinho que ali existia em 1885 e a superpovoada comunidade dos dias atuais. O evento é uma parceria do Museu Sankofa, projeto itinerante criado em 2011 na Rocinha, com o prestigiado Instituto Moreira Salles (de seu acervo vieram as fotos), e tem visitação gratuita. As imagens desta página são de 1899 (o vendedor de doces) e de 2014, neste caso, de Aloizio Alves Rodrigues, 38 anos, há doze comercializando na rua empadas feitas em casa ? de uns tempos para cá, também operando no sistema delivery.