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Empresário Pedro Salomão prega a felicidade nos negócios e faz sucesso

O morador de Copacabana que leva seu estilo 'carioca de bem com a vida' para o trabalho transformou a gestão de pessoas, virou palestrante e se prepara para lançar livro

Por Daniela Pessoa
Atualizado em 2 jun 2017, 12h04 - Publicado em 25 jun 2016, 01h00

Logo no hall de entrada do escritório da Rádio Ibiza, instalada num casarão em Copacabana, estão estampados os três valores da empresa: I – Ser feliz; II – Fazer o outro feliz; III – Sem os dois mandamentos anteriores, nada tem importância. Em vez de catracas, baias e carpete, há um quintal com jardim usado para reuniões (e churrascos) e banheiros com chuveiro para quem quiser dar um mergulho na praia e depois tomar uma ducha. O próprio dono do negócio, sempre de sunga embaixo da roupa, encoraja esse hábito. O trabalho, para ele, precisa ser uma extensão de casa. “Um funcionário que recebe afeto e atenção na empresa vai dar afeto e atenção ao cliente. Capitalismo combina, sim, com felicidade”, garante Pedro Ganem Salomão, ou simplesmente Pedrinho. Sempre com um sorrisão estampado no rosto, ele abraça e beija todos os seus cinquenta funcionários, além de usar interlocuções como “irmão” e “meu amor” para falar com qualquer um, inclusive com o gari da rua. “Às vezes, ele irrita com esse papo de felicidade, por ser um cara muito utópico. Quando exagera, até dou um toque”, confidencia Levy Gasparian, um de seus sócios. Ainda assim, na empresa não há do que reclamar. Sediada no Rio e com escritórios em São Paulo e Curitiba, a agência criada em 2006 monta trilhas sonoras personalizadas para lojas como Farm, restaurantes como Gero e até uma estação de esqui no Chile, sendo responsável pela identidade musical de 700 marcas. Logo no primeiro ano, a companhia conquistou seu primeiro milhão de reais. Em 2015, o faturamento bateu em 7 milhões graças também a uma produtora de vídeos lançada por ele, e em 2016, mesmo com a crise econômica, a expectativa dos sócios é que esse valor dobre com novos negócios como a Cheiro Ibiza, que desenvolve fragrâncias para ambientes, a plataforma de música Doixx e o site Noo, a última aquisição do grupo.

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Empreendedor de sucesso, Salomão tem avançado em outra seara com seu estilo boa-praça, e, digamos, feliz. Aos 36 anos, ele tornou-se um requisitado palestrante ao levar as experiências da Rádio Ibiza e de sua vida pessoal a outros executivos e empreendedores. Com agenda cheia, costuma ministrar até quarenta palestras por mês para clientes como a operadora de TV a cabo NET e o Banco do Brasil, e em feiras e universidades espalhadas por todo o país. Em 29 de junho, ele lança seu primeiro livro, Empreendendo Felicidade. Sem estatísticas nem estratégias, a obra traz basicamente histórias de apelo emocional. “O que faz a diferença na minha trajetória não são os casos de sucesso, nem ideias brilhantes, mas sim a forma de gerir as pessoas”, explica. Como empresário, Pedrinho tem aversão a processos seletivos padronizados e organogramas — ele sempre adota a conversa olho no olho cada vez que vai contratar alguém. Leituras obrigatórias para os grandes CEOs mundiais, como O Príncipe, de Maquiavel, e A Arte da Guerra, de Sun Tzu, também não fazem sua cabeça. “Detesto patentes e hierarquia. Prefiro o exemplo de liderança dos jesuítas, baseado em autoconsciência, amor, heroísmo e inventividade ”, explica o católico praticante, devoto de Santa Clara, Santa Rita e Nossa Senhora. Tampouco ele é fã de personalidades como o fundador da Apple, Steve Jobs. “O cara mal falava com a filha. Para mim, não há sucesso profissional que justifique o fracasso familiar”, dispara. Entre seus ídolos estão Rony Meisler, dono da grife de roupas masculinas Reserva, e o ex-camelô David Portes, hoje guru do marketing. Apesar de respeitar culturas organizacionais como a da Ambev, criada por Jorge Paulo Lemann, o mais reverenciado homem de negócios do Brasil, Salomão não compactua com seus princípios: “São empresas que fazem filantropia, tem boa imagem mas submetem os funcionários à maior pauleira”.

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À primeira vista, o estilo de gestão defendido por Pedrinho parece simplista ou ingênuo diante daquele adotado na maioria das grandes empresas. Mas as palavras desse carioca amante do surfe, da praia, do samba, da Portela e das artes marciais estão longe de ser lançadas no vazio. Também baseados em uma concepção peculiar de felicidade, os modelos de gestão mais agressivos e competitivos se sustentam nos preceitos do esforço individual, da capacidade de vencer desafios, da produtividade e da recompensa pelo esforço. Isso justifica por que tantas pessoas sonham em trabalhar nas grandes corporações. No entanto, tal mentalidade, embora legítima e eficaz em seus resultados, não é mais uma unanimidade. Jovens talentosos saídos das melhores universidades, com idade que varia dos 20 a 30 anos, prezam valores como a camaradagem, a descontração e uma abordagem mais emocional do trabalho. “Para as novas gerações, conhecidas como Y e Z, o trabalho deve ser lugar de satisfação. O futuro, portanto, não pertence ao patrão, mas sim ao líder, um papel que profissionais como Pedrinho incorporam muito bem, ao se colocar no mesmo patamar, dialogar e entender as necessidades do outro”, explica Gleiner Costa, professor da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da UFRJ.

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Quem ouve Pedro Salomão discorrer sobre a felicidade não imagina as reviravoltas que ele enfrentou na vida. Não à toa, a parte mais surpreendente de suas palestras é aquela em que fala de seu passado. Filho caçula de um armador de origem libanesa, dono de uma frota de oito navios, um hotel-fazenda e uma cobertura de 500 metros quadrados na Lagoa, ele teve uma infância privilegiada. Aos 13 anos, assistiu à riqueza da família esvair-se com a derrocada dos negócios navais do patriarca. Com três irmãs mais velhas casadas ou morando fora do país, coube a Pedrinho acompanhar a mãe, já separada do pai, em uma vertiginosa queda no padrão de vida. Da cobertura, passaram para um apartamento de pouco mais de 50 metros quadrados em Copacabana, onde moraram de favor. Segundo ele próprio costuma contar, era o menos inteligente da casa, mas, sendo o único homem de uma família de origem árabe e tradições arraigadas, sentia-se na obrigação de ser genial. Formou-se em administração pela PUC para tentar salvar a empresa familiar (duas tias ajudaram a pagar os estudos), mas fracassou. Aos 25 anos, viu o pai definhar e morrer vítima de um câncer agressivo. Quando conseguiu emprego num banco, foi a glória, ao menos para a mãe e as tias. No entanto, a rotina de terno e gravata não durou muito. Logo pediu demissão para ajudar dois amigos de colégio a tocar uma produtora que deu origem à Rádio Ibiza, quando ninguém ainda pensava em usar a música como ferramenta para construir e incrementar uma marca. “A gente chegava às reuniões, apresentava a ideia, todo mundo achava lindo e perguntava: ‘Onde está o estudo que comprova que isso funciona?’. Aí entrava o conceito de transparência em que eu sempre acreditei. Não tínhamos dado nenhum, simplesmente porque eles não existiam. Era tudo uma aposta. Meu pai costumava dizer que, como havia nascido pelado, estava sempre no lucro”, diverte-se.

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Os filósofos gregos foram os primeiros a se ocupar com definições para o que consideravam uma vida feliz, a chamada eudaimonia. Para Aristóteles, era basicamente ser uma pessoa de bem, que vive sob os preceitos da ética, da razão e da virtude. Os epicuristas (seguidores de  Epicuro) argumentavam que tal estado de espírito era alcançado quando se levava em conta tudo o que trouxesse prazer, desde que, obviamente, fosse respeitado um rígido conjunto de regras proposto por eles. Os estoicos, por sua vez, não davam tanto valor ao prazer e argumentavam que todas as pessoas têm condições de encontrar a felicidade, não importa quanto seu dia a dia seja difícil ou sacrificado. Pode-se dizer que Pedro Salomão comunga de uma versão modernizada dessa concepção. Para ele, é possível encontrar a alegria nas coisas mais simples, como dedicar-se à pessoa amada, brincar com os filhos pequenos, praticar esportes, professar uma fé religiosa ou ajudar o próximo. E o mais importante: não é preciso jogar tudo para o alto para ser feliz. “Sou viciado no meu trabalho, mas não sou workaholic. Também não compro a ideia de ano sabático como válvula de escape. Para mim, a felicidade está bem aqui, não em meditar na Índia”, resume. Quando sai do trabalho, Pedro desliga o celular e se esforça para deixar de lado as preocupações, até a manhã seguinte.  Para isso, incorpora uma rotina repleta de atividades. Às segundas, a pelada de futebol é sagrada. Nos outros dias da semana, surfa, corre, luta jiu-jítsu (já foi campeão brasileiro) e devora tigelas de açaí. “As pessoas querem ganhar bônus, Prêmio Nobel, mas a minha ideia de sucesso não tem a ver com dinheiro nem com status. Para mim, sucesso é dar um mergulho depois de uma reunião e ir à feira com o meu filho toda semana”, conta o empresário, que embolsa, por mês, cerca de 24 000 reais expondo seus pontos de vista para plateias cuja audiência já ultrapassou um total de 100 000 pessoas.

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Fã de samba, estudioso e exímio entendedor do ritmo, Pedro Salomão é o típico carioca para quem todo dia é dia de alegria, de Carnaval. As roupas coloridas e estampadas usadas sempre com um de seus múltiplos pares de alpargatas combinam à perfeição com seu discurso (embora ele carregue no pulso máquinas de precisão suíça das marcas Rolex e Baume & Mercier). Popular, tem um milhão de amigos, que não lhe poupam elogios. “Ele faz as coisas com alma e propósito. É um cara de muita sensibilidade e otimismo. Com ele, aprendi a ter fé”, revela Kátia Barros, dona da Farm. “O Pedrinho é um legítimo representante do carioca, que virou meu amigo e terapeuta. Se ele quisesse, eu largaria o Pedro Paulo agora e o apoiaria para candidato à prefeitura”, brinca o prefeito Eduardo Paes. Frequentemente, o empresário é convidado ainda para fazer uma pontinha de garoto-propaganda e fotografar campanhas de marcas como Richards. Tamanha popularidade e exposição também alimenta críticas. Há quem o considere exibido, por publicar montanhas de fotos de si mesmo nas redes sociais, e conservador em excesso, por suas posições no que diz respeito a assuntos como família, religião, drogas e criminalidade. “Para mim, antes um bandido morto do que um PM morto. Drogas e aborto jamais devem ser legalizados e feminismo virou extremismo”, dispara Pedro. “Deve haver muita gente que me acha um pilantra, mas não perco nem um minuto com quem não gosta de mim. Prefiro rezar e agradecer. Afinal, sou o cara mais feliz do mundo”, diz ele, cheio de amor para dar — e vender.

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