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Ninho de cobras e urubus

Articulações, ataques e ameaças. A eleição para a presidência do Flamengo é só no fim do ano, mas o caldeirão político do clube, embalado pelos resultados medíocres do time, já ferve

Por Felipe Carneiro e Renan França
Atualizado em 5 jun 2017, 14h30 - Publicado em 20 jun 2012, 20h20

Debates incandescentes na ordem do dia, com troca de ataques pesados entre oposição e situação em ano eleitoral. A descrição, que poderia se referir ao Congresso Nacional, é um retrato dos bastidores políticos do Flamengo, o clube mais popular do país, com cerca de 30 milhões de admiradores. A saída abrupta de Ronaldinho Gaúcho, que rescindiu seu contrato na Justiça e ainda cobra uma dívida de 40 milhões de reais, acirrou os ânimos. Na segunda-feira passada, diversos representantes da oposição se reuniram no Teatro do Leblon em busca de um discurso uníssono. Com tantas correntes e até adversários no mesmo balaio, uma coligação exigiria delicada costura de forças – tarefa digna do padroeiro do clube, São Judas Tadeu, o santo das causas impossíveis. Mesmo no que tange à situação, a unidade é frágil. Em rota de colisão com a presidente Patrícia Amorim, o vice Helio Ferraz já declarou que ela não terá seu apoio na tentativa de reeleger-se em dezembro. “É impossível traçar um mapa político do Flamengo. As correntes surgem, alinham-se e voltam a brigar pelos mais diferentes motivos, sejam ideológicos, políticos ou pessoais”, analisa o advogado Adalberto Ribeiro, ex-procurador-geral do clube.

[—FI—]

Heterodoxos, os grupos da Gávea apontam para muitas direções e interesses. Na ala dos ex-presidentes estão figuras com mais influência política que cacife eleitoral em si, como Marcio Braga, Antonio Dunshee de Abranches e Kléber Leite. No mosaico se encontram ainda forças emergentes, a exemplo do presidente do conselho fiscal, Leonardo Ribeiro, ex-chefe de torcida organizada que virou um dos pilares da gestão atual. Somam-se a eles as turmas da pelada, da sauna, do tênis, da piscina, além da temida Boca Maldita, como é conhecida a patota de sócios antigos e reclamões. Esse caldeirão multifacetado, verdadeiro ninho de cobras e urubus, é um manancial de futricas, rasteiras e revides. Enquanto cerca de 200 pessoas debatiam no Teatro do Leblon o futuro rubro-negro, ali perto, na sede da Gávea, membros dos conselhos deliberativo e fiscal davam o troco e convocavam para depor Marcio Braga e Kléber Leite, dois dos articuladores da oposição. Eles terão de prestar conta sobre o suposto desaparecimento de 3 milhões de reais referentes a uma parte da venda do jogador Renato Augusto, concretizada em 2008. Tido como o porta-voz dos descontentes, Marcio Braga, por sua vez, vai entrar com um pedido de abertura de inquérito para investigar o imbróglio Ronaldinho Gaúcho. Numa situação extrema, cogita até mesmo pedir o impeachment da presidente.

Administrar uma instituição com a grandeza do Flamengo é um desafio que, a julgar pela quantidade de pré-candidatos, seduz muita gente. Envolve doses cavalares de paixão – e dinheiro. Apenas 5% dos municípios do país têm orçamento igual ou maior que o do clube, calculado em 204 milhões de reais no exercício do ano passado (veja o quadro). Apesar das receitas cada vez maiores, o rubro-negro se vê às voltas com uma dívida na casa de 355 milhões de reais, um legado danoso que cai no colo de quem assume o poder. Embora tenha um vultoso faturamento, a agremiação é gerida de maneira amadora – um defeito comum a outros grandes do Rio, aliás. Razão de ser do clube, o futebol é de competência exclusiva do conselho diretor, formado por quinze vice-presidentes não remunerados. A recompensa por seu trabalho, além do poder e da visibilidade proporcionada pelo cargo, vem na forma de mimos. Eles ganham ingressos para jogos e camisas do time, partilha que pode virar um problema – como quase tudo na Gávea. Recentemente, Leonardo Ribeiro vociferou ao saber que a cota do vice de finanças Michel Levy era de 25 camisas por mês, cinco vezes maior que a sua. “Qualquer besteira ganha ressonância aqui”, explica o empresário e ex-presidente Delair Dumbrosck, derrotado por Patrícia Amorim no pleito de 2009 e um dos críticos mais ferrenhos da presidente.

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A instabilidade é um tsunami que já dragou muita gente na Gávea, independentemente da estatura. Dela não escapou nem mesmo o maior ídolo da história flamenguista. Nomeado diretor executivo de futebol em 2010, Zico durou apenas quatro meses no cargo. Pediu demissão alegando sofrer fortes pressões políticas, sem ter o devido suporte da presidência. Há quem garanta, no entanto, que a agitação de agora é apenas uma marola. Três anos atrás, conselheiros mais violentos chegaram a atirar cadeiras em seus pares por um motivo banal: eles não queriam ver na camisa rubro-negra, chamada de “manto sagrado”, os detalhes em azul do logotipo de um patrocinador. Presidente do conselho atualmente, o desembargador aposentado Sylvio Capanema conseguiu pôr ordem na casa. Algo que tanto a situação quanto a oposição prometem fazer em breve.

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