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Com Parreira no comando, novo laboratório une ciência e futebol

Parque Olímpico ganha núcleo de pesquisa focado em futebol, futsal e beach soccer

Por Saulo Pereira Guimarães
Atualizado em 27 abr 2018, 07h30 - Publicado em 27 abr 2018, 07h30
(Fábio Gomes/Agência O Globo)

O que Romário, Ronaldo Fenômeno e Zico têm em comum? Além de fazerem parte da lista dos sessenta maiores artilheiros da história das Copas, os três são cariocas. O baixinho é da Vila da Penha. O dentuço, de Bento Ribeiro. E o galinho, de Quintino. A coincidência indica, na verdade, uma vocação. “O Rio é a cidade em que mais nasceram jogadores que disputaram Mundiais pela seleção”, afirma Luis Verdini, professor de educação física da UFRJ e autor de estudo sobre o tema. “De Duque de Caxias, por exemplo, só tem o Roberto Dinamite”, comenta o pesquisador. Ao todo, foram 64 dos 315 convocados nos vinte torneios entre 1930 e 2014. Para descobrir por que o Rio é tão bom de bola e responder a outras perguntas, será criado em junho, no Parque Olímpico, o Laboratório de Estudos da Ciência do Futebol de Campo, Futsal e Beach Soccer. Com coordenação do tetracampeão Carlos Alberto Parreira, o núcleo é fruto de uma parceria do Ministério dos Esportes com a UFRJ, e ocupará uma sala na Arena Carioca 2. “Trata-se de um espaço que precisa ser mais bem aproveitado”, diz Parreira. “Estou empolgado com o desafio, até porque o Brasil é muito carente de pesquisas na área do esporte. Temos um material muito rico para ser analisado”, completa o técnico, responsável pelas seleções de 1994 e 2006.

Além da estrutura deixada pelos Jogos Olímpicos, pesaram na escolha da Barra a presença dos locais de competição e a proximidade da CBF e de outras entidades esportivas. De acordo com o ministério, mais de 400?000 reais serão investidos no novo centro, que funcionará até 2020, pelo menos. Em vez de tubos de ensaio e cobaias, os cinquenta cientistas, todos da UFRJ, usarão laptops modernos e programas de última geração para examinar imagens e dados produzidos por atletas em ação. A questão do treinamento, a prevenção de lesões e a formação de treinadores são algumas das áreas de conhecimento a ser exploradas. O primeiro grande experimento começa em junho, quando 96 horas de vídeo das 64 partidas disputadas na Copa da Rússia serão analisadas do ponto de vista tático, de acordo com instruções de Parreira. Os pesquisadores também pretendem pôr à prova dogmas, como o mito de que todo goleiro precisa ter mais de 1,86 metro e a crença de que o futebol de salão é um formador de craques para o campo. “A meta é produzir seis artigos por ano”, adianta Verdini, que auxiliará na gestão do núcleo.

(Kadawittfeldarchitektur/Divulgação)

Novidade no país, a mistura entre futebol e ciência já é tradição em outras partes do mundo. Criado na década de 80 na Universidade do Porto, em Portugal, o método da periodização tática dá igual importância às partes física, técnica e tática do treinamento — no modelo clássico, elas têm pesos diferentes. A teoria conta entre seus seguidores com José Mourinho, eleito pela Fifa o melhor treinador do mundo em 2011 e atualmente à frente do Manchester United, no Reino Unido. Embora existam hoje 21 grupos de pesquisa focados em futebol, o Brasil tem pouca geração de conhecimento sobre o tema, sobretudo em comparação com a quantidade de talentos que produz. De acordo com a Fifa, o país teve o maior número de jogadores transferidos ao redor do mundo em 2017. A venda dos passes dos 1?755 atletas movimentou mais de 1 bilhão de dólares. Extrair o máximo de informações sobre o funcionamento dessa verdadeira fábrica de craques é o desafio de Parreira e seus colegas. Para se prepararem para a empreitada, eles criaram em novembro no Fundão o grupo de estudos que, em breve, aportará na Barra. “Nosso futebol sempre foi in natura, enquanto o resto do mundo produzia o esporte in vitro”, comenta Verdini. “Já pensou se a gente conseguir fazer o que eles já fazem lá fora?”, sonha. Talento é o que não falta para isso. ß

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