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O mago da Tijuca

Conheça Paulo Barros, o grande nome do Carnaval carioca que transformou a Unidos da Tijuca na escola campeã de 2012. Antes da vida nos barracões, Barros foi comissário de bordo durante 14 anos

Por Caio Barretto Briso
Atualizado em 5 dez 2016, 15h43 - Publicado em 22 fev 2012, 19h28

As peças de roupa empilhadas no canto da sala provam que o escritório de trabalho foi transformado em dormitório nas últimas semanas. Perfeccionista confesso, o carnavalesco Paulo Barros não tolera erros. E foi com esse espírito workaholic e dedicação integral à escola de samba Unidos da Tijuca que ele ganhou mais um título na Marquês de Sapucaí, o segundo em três anos.

Desta vez, o enredo em homenagem ao centenário do rei do baião, Luiz Gonzaga, não foi tão impactante quanto a comissão de frente de 2010 ? quando seis mulheres, como num passe de mágica, trocavam de roupa na frente de todos em centésimos de segundo ?, tampouco tirou o fôlego da plateia como em 2004, ano da inesquecível alegoria viva A Pirâmide Humana, na qual um conjunto de homens e mulheres pintados de azul representavam o código genético. Mas o desfile deste ano foi bom o suficiente para perder apenas um décimo do total de 300 pontos disputados ? e consolidar Paulo Barros como o grande nome do carnaval desde Joãozinho Trinta. ?Todos foram influenciados pelo Joãozinho. A diferença é que eu criei meu próprio caminho?, diz o campeão.

A trajetória de sucesso do carnavalesco começou justamente em 2004, quando surgiu no Grupo Especial com a Unidos da Tijuca. Com o carro do DNA, que levantou a Sapucaí, a agremiação conquistou o vice-campeonato. Barros repetiu a dose de criatividade no carnaval seguinte e a Tijuca ficou na mesma colocação, apesar de sair da avenida ouvindo os gritos de ?É campeã!? de quem estava no sambódromo. A consagração veio em 2010, com o enredo É Segredo!, sugerido pelo adolescente Vinícius Ferraz, que entrou em contato com Barros em uma rede social dando a ideia de um desfile ilusionista.

O que nem todos sabem é que, antes da vida nos barracões, Barros foi comissário de bordo da Varig durante catorze anos. Dessa experiência ele coleciona histórias hilárias. Certa vez, em um voo do Rio para Lisboa, uma senhora lhe pediu socorro. Estava morrendo de medo de voar de avião. Para acalmá-la, o então jovem de 20 e poucos anos pediu que ela mordesse o passaporte. A justificativa provocou risos na mulher. ?É que se o avião cair e a gente morrer, a senhora será identificada com mais facilidade?, explicou.

?Ele tinha apenas onze anos quando nos conhecemos. Era um menino mal-humorado e extremamente sério. Passávamos tardes inteiras traduzindo músicas do Bee Gees, Neil Diamond e Barbra Streisand?, conta Eliane Lorca, amiga há 38 anos a quem ele chama de irmã. Seu gosto musical, por falar nisso, é variado como as criações que ele põe sobre a avenida. Na adolescência, as músicas estrangeiras deram espaço para o samba de raíz, que ele ouve até hoje com paixão. ?Adoro Cartola, Paulinho da Viola, Martinho da Vila. Mas pagode não é comigo?, diz Barros, que ainda se acha um mal-humorado, principalmente por nunca admitir um erro ? especialmente dele próprio.

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Paulo Roberto Barros Braga tem 49 anos e é o terceiro de quatro filhos. Seus pais, Celina Barros e Valdir Braga, criaram os rebentos em Nilópolis, município do estado do Rio de Janeiro. A família morava em uma pequena casa, onde os quatro irmãos dividiam o mesmo quarto. ?Paulinho foi um menino fechado, estudioso e muito organizado. Nunca gostou de futebol, de bolinha de gude, de soltar pipa. Quando brincavam de casinha, ele gostava de ser a mãe, só pra dar ordem e bater nos amiguinhos. Era mandão?, lembra a mãe.

Com ela, Barros aprendeu uma arte que cultiva até hoje, em sua casa em Itaipu, em Niterói: a gastronomia. ?Ele não é cozinheiro de arroz e feijão, não. Faz um risoto de frutos do mar maravilhoso. Sem falar na costela de boi assada e nos peixes. Sempre que visitamos o Paulinho a casa está cheia de amigos. E ele está sempre cozinhando?, diz Valdir, seu pai. ?A cozinha é uma alquimia, uma mistura de ingredientes que, aparentemente, não se combinam. Não sei repetir um prato, pois não sigo receita. Cada vez faço de um jeito diferente. Acho que, no carnaval, também é assim?, filosofa Barros.

Por ter nascido em Nilópolis, onde fica a escola Beija-Flor, logo cedo ele se apaixonou por carnaval, com a ajuda do tio, Edson Barros, que o levou para a quadra da agremiação pela primeira vez. Barros tinha treze anos e seu talento se revelou pouco depois, quando ele começou a desenhar as próprias fantasias, e também as fantasias dos irmãos, costuradas por dona Celina.

Um episódio ocorrido em 2010 ajuda a definir a personalidade do carnavalesco. Após dois anos na Viradouro e um ano na Vila Isabel, a primeira coisa que ele fez, sem pedir ajuda a ninguém, em seu primeiro dia na volta à Unidos da Tijuca, foi pegar uma mangueira e lavar os pavilhões do barracão. Passou horas limpando o gigantesco espaço sozinho. ?Odeio bagunça. Não consigo trabalhar em um ambiente desorganizado?, diz. Aos críticos que o acusam de fugir das tradições do samba, Barros sugere que cada um encontre o seu próprio caminho para inovar o carnaval. ?O segredo é cada um criar as suas soluções. Eu criei as minhas?.

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