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Um fio de esperança

Ao rechaçarem candidatos a vereador aventureiros ou sem trajetória na vida pública, os cariocas deram uma prova de maturidade política

Por Caio Barretto Briso
Atualizado em 5 jun 2017, 14h20 - Publicado em 17 out 2012, 17h35

Em todo pleito tem sido assim, o nobre deputado Tiririca que o diga. Indivíduos famosos (mas nem tanto) se lançam candidatos, contando que a vida pregressa na TV, no palco ou nos gramados sirva de aval automático para um desempenho retumbante nas urnas. Sob esse aspecto, o eleitor carioca deu no domingo passado uma demonstração de amadurecimento. Ele repeliu uma série de postulantes sem experiência na política e que, a despeito das boas intenções que pudessem ter, corriam o risco de ser engolidos na Câmara dos Vereadores, caso eleitos. Exemplos não faltam. Tiveram votação pífia a cantora Rosana (PCdoB), o vocalista Marcelo Tchakabum (PSC) e o ator David Pinheiro (PPS), que adotou o nome de seu personagem no humorístico Escolinha do Professor Raimundo, Davi Sambarilove. Apesar de contar com o apoio de Zico, o maior ídolo do Flamengo, o ex-jogador Andrade (PSDB) não obteve uma vaga, a mesma decepção que amargou Gonçalves (DEM), zagueiro da seleção brasileira na Copa de 1998. Tampouco a filiação foi garantia de êxito. Herdeiro do deputado estadual mais votado do país em 2010, Wagner Montes, o Filho (PRB), passou longe da performance do pai e foi outro que ficou fora. Nenhuma derrota, no entanto, é tão significativa quanto a da vereadora Carminha Jerominho. Presa antes da eleição de 2008 sob a acusação de envolvimento com uma milícia, ela ainda assim obteve mais de 22?000 votos naquela ocasião. Desta vez, porém, o resultado foi bem diferente. Estacionada nos 6?000 votos, não conseguiu a reeleição. São notícias que dão esperanças de uma temporada mais digna no Palácio Pedro Ernesto. “A nova composição parlamentar tem a responsabilidade de provar que a Câmara pode melhorar”, avalia Vitor Iorio, professor de gestão pública da UFRJ.

Quando se iniciar a próxima legislatura, em janeiro, apenas trinta dos atuais 51 vereadores permanecerão em suas cadeiras, numa renovação que beira os 40%, índice um pouco maior que o do pleito anterior. Outro dado marcante foi a pulverização dos votos. Candidata de melhor desempenho, a vereadora Rosa Fernandes (PMDB) será mantida graças à escolha de 68?000 eleitores. Embora expressivo, o número é inferior aos 100?000 votos obtidos por ela em 2004. Outros eleitos agora também tiveram performance inferior à do último pleito, casos de Carlo Caiado, Carlos Bolsonaro, Chiquinho Brazão, Luiz Carlos Ramos, Prof. Uoston, Renato Moura, S. Ferraz, Teresa Bergher e Tio Carlos. “A gigantesca coligação montada por Eduardo Paes estimulou a divisão de votos”, diz o cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC-Rio. “Com vinte partidos na base de apoio, todos beliscaram um pouco da popularidade do prefeito.” Paes, inclusive, foi quem mais lucrou com toda essa sustentação (veja na página ao lado). Na nova formação da casa, sua base aliada contará com 39 vereadores. No outro extremo, com quatro dos doze integrantes da bancada oposicionista, o PSOL promete fazer barulho. Existe ainda a expectativa de que o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), eleito com pouco mais de 44?000 votos, seja o alto-falante da oposição. “Serei duro no objetivo de acabar com a privatização na saúde e na educação, além de garantir os direitos dos servidores”, declara Maia, político com bagagem no Executivo, mas estreante no Legislativo municipal. Cabe ao carioca dar um crédito a quem chega. E cobrar.

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Vitória maiúscula e desafios grandiosos

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Com seus 2 milhões de votos conquistados no último fim de semana, aproximadamente 65% do total válido, o carioca Eduardo Paes, que completará 43 anos em novembro, fez história. Desde 1985, ano em que ocorreu a primeira eleição para o Executivo municipal na era da redemocratização, jamais um prefeito do Rio de Janeiro obteve vantagem tão grande nas urnas. A vitória o encheu de orgulho, mas também de responsabilidades. A partir de agora, e durante o próximo quadriênio, ele defrontará com desafios maiúsculos. Obras de grandes proporções, como a construção das instalações olímpicas, a reforma da Zona Portuária e a derrubada do Elevado da Perimetral, fazem parte do cronograma até os Jogos de 2016. Ou seja: antes de melhorar, vai piorar um bocado. Como se não bastasse o anunciado quebra-quebra, outro problema grave exige uma resposta imediata: as deficiências no setor da saúde pública, que é o calcanhar de aquiles de sua gestão atual, como ele próprio admitiu após a eleição. Portanto, se quiser figurar na galeria onde está em posição de destaque Pereira Passos, responsável pela metamorfose urbana do início do século XX, Eduardo Paes terá de trabalhar exaustivamente nos próximos quatro anos.

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