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As semelhanças e diferenças de Rio e São Paulo

Em obra recém-lançada, Felipe Frisch reúne peculiaridades sobre a vida nasmetrópoles

Por Jana Sampaio
Atualizado em 2 jun 2017, 12h11 - Publicado em 28 mar 2016, 14h50

Apesar da pequena distância que as separam – apenas 400 quilômetros ou 45 minutos de avião –, Rio de Janeiro e São Paulo protagonizam uma rivalidade histórica. O FlaXFlu, que envolve as duas principais metrópoles brasileiras, retrata semelhanças e diferenças de clima, paisagem e costumes. Se por um lado a Cidade Maravilhosa, mais famoso cartão-postal do Brasil, atrai pelo visual deslumbrante e receptividade dos cariocas, por outro, a Sampa cantada por Caetano Veloso, coração financeiro do país, conquista pela vida cultural agitada e os passeios gastronômicos.

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Para compreender – e se divertir – com tais curiosidades, confira abaixo algumas que podem ser encontradas no livro Ponte Aérea: Manual de sobrevivência entre Rio e São Paulo (Matrix Editora, 208 páginas, R$ 39,90), escrito pelo carioca Felipe Frisch, que se divide entre as duas cidades há doze anos. 

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1.      Aterro ou Praia? (do capítulo sobre táxis e taxistas)

A primeira coisa que quem chega ao Rio pelo Santos Dumont precisa saber é se quer ir “pelo aterro ou pela praia” se estiver indo para a Zona Sul. Se você vacilar na hora de responder, o taxista terá certeza de que você não é da cidade e cortará caminho por Bangu.  (…)

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Portanto, se você nunca tiver ido ao Rio antes, não pense que o taxista já está te enganando só porque ele está indo mais próximo à Baía de Guanabara quando você respondeu “aterro”. 

2.      É o Marcelo? (do capítulo sobre táxis e taxistas)

Se você acha que o taxista carioca é malandro, é porque não conhece os passageiros do Rio. Uma vez, enquanto eu aguardava a chegada do táxi que havia pedido numa cooperativa, um motorista se aproximou, abriu a janela e perguntou “Marcelo?”, ao que eu prontamente respondi “não, Felipe”. “Ah, então pode entrar, é para você mesmo”, ele respondeu. E era, pois o número do carro correspondia ao que havia sido informado a mim.

Durante o caminho, ele me explicou que tem passageiro que finge que foi ele que chamou o táxi que chegou. A solução do taxista, para não ser passado para trás, nem deixar o cliente na mão, é mentir o nome do passageiro que ele está esperando. E o passageiro carioca, cansado de tanto ser enrolado nessa vida, decidiu responder à malandragem do taxista com ainda mais esperteza.  

Em outras palavras, a situação está tão grave que estão roubando até corrida de táxi no Rio.

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Ponte Aérea

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3.      Arrastão (capítulo “Purgatório…”)

Tá, o Rio introduziu o “arrastão” e a “saidinha de banco” no vocabulário criminal brasileiro, mas vanguarda é assim mesmo: não importa o segmento, o que interessa é criar tendência para o resto do país. Em São Paulo, como tudo vira edifício, muito rapidamente o sinônimo para assaltos em massa passou a ser utilizado para casos em que assaltantes invadem prédios, de preferência residenciais, para obter ilegalmente os bens materiais de valor dos moradores.  

Essa última modalidade não faz tanto sucesso no Rio, primeiro porque a cidade tem menos edifícios, mas também porque bandido carioca não vai ficar se cansando, subindo em prédio, se é muito mais fácil fazer isso na praia.

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4.      Maçanetas e portões (capítulo “Purgatório…”)

Cada povo alimenta a própria paranoia como pode. Em São Paulo, o entregador de pizza ou de qualquer coisa não sobe até o apartamento de destino da encomenda. (…)

Já no Rio é impossível girar a maçaneta da porta de um apartamento do lado de fora. Em outras palavras, mesmo que a porta esteja destrancada, só é possível abri-la com a chave, a não ser que você esteja do lado de dentro do imóvel, o que é um choque para os paulistas e outras naturalidades que visitam o Rio.  (…)

Da mesma forma, visitar o prédio de um amigo paulistano pela primeira vez pode te dar a sensação de que esse amigo fez algo errado e você está entrando num presídio, em que é preciso passar por pelo menos dois portões, e ficar preso entre eles, para se identificar para o porteiro.  

5.      Rio, a meca (ou maca) do bom atendimento (capítulo “Purgatório…”)

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O problema do setor de serviços no Rio não é falta de educação, mas de audição. Só isso explica que algumas pessoas ignorem um cumprimento de “bom dia”, ou faz com que respondam com um grosseiro “eu tô atendendo outra pessoa”. Ou eu sou mudo e não sei. (…)

A qualidade do atendimento no Rio é quase uma unanimidade. Dos 520 entrevistados, 82% disseram que os serviços em São Paulo são melhores, enquanto apenas 3% disseram que são o garçom e o balconista cariocas que sabem das coisas. (…)

Esse estilo já levou alguns estabelecimentos a cultivarem fama pelo péssimo relacionamento com clientes, e cariocas parecem adorar isso, pois, quanto mais maltratados são, com mais frequência vão ao estabelecimento. Também, com um calor daqueles, não dá para querer que alguém trabalhe de bom humor, vai. 

No fundo, não é que o serviço seja ruim no Rio, ele é personalizado. O garçom carioca sabe o que é melhor para você. Se ele não traz a cerveja que você pediu, pode ser só porque você já bebeu demais, ainda que essa seja a sua primeira cerveja do dia.  

Ponte Aérea

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6.      Bar estilo carioca 

Tá aí uma invenção tipicamente paulistana, que só chegou ao Rio nos anos 2000, importado de São Paulo logicamente. Paulistano acha que é só fazer um bar com decoração de ladrilho colorido, móveis de madeira e petiscos para se passar por um bar da Lapa. Aí, vêm aquele chope cremoso (a mais de R$ 10 a unidade), um petisco diferente, o garçom todo arrumado e atencioso, e acabam com a magia do ambiente. (…)

Código linguístico para quem vive na ponte-área

– Roleta no Rio x Catraca em SP

– Bombeiro no Rio x Encanador em SP

– Área de serviço no Rio x Lavanderia em SP

– Play no Rio x Parquinho em SP

– Joelho no Rio x Enroladinho de presunto e queijo em SP

– Biscoito no Rio x Bolacha em SP

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Ponte Aérea
Ponte Aérea ()

Totó

O jogo de “pebolim” dos paulistanos no Rio (corresponde à onomatopeia do barulho que a bolinha faz quando bate na mesa, não é óbvio?). Nome de cachorro em São Paulo.

Cê-Ê-Tê

A Companhia de Engarrafamento de Tráfego paulistana. Cariocas acham graça quando ouvem a sigla pela primeira vez, acostumados a chamar sua equivalente CET-Rio de “sétirriu”. Um dos primeiros sintomas de conversão do carioca é quando ele tenta pronunciar a sigla, sem sucesso, e fala “cê-É-tê”. À semelhança do que ocorre quando eu tento falar “bolacha” e, logicamente, sai “bulacha”. Os passos seguintes são: chamar refrigerante de “refri”, falar “balada”, “trampo”, “meu”, e “sossegado”.

Cegonha ou caminhão-cegonha

Símbolo da origem da vida na mitologia do mundo ocidental, não à toa é sinônimo para caminhões que transportam automóveis em São Paulo, chamados de “jamanta” no resto do país.

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