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Terapia de choque

A prefeitura promete pacote de obras para recuperar a Avenida Brasil

Por Caio Barretto Briso
Atualizado em 5 dez 2016, 16h03 - Publicado em 16 set 2011, 15h58

Se fosse paciente de um hospital, a Avenida Brasil seria do tipo que sobrevive na UTI, respirando por aparelhos. Com quase 60 quilômetros de extensão, ela vive tomada por um tráfego pesadíssimo de 250?000 veículos por dia, com suas faixas de rolamento em condições sofríveis. Seu entorno é coalhado de galpões abandonados e terrenos baldios, sem contar as favelas conflagradas que a cercam em vários trechos. Como se fosse uma terra de ninguém, costuma ser evitada pelos motoristas à noite. Tal situação de penúria pode mudar nos próximos meses. Em uma tentativa de recuperar a via, ainda hoje a mais importante porta de entrada para a cidade, a prefeitura conduz uma espécie de terapia de choque na forma de um pacote de investimentos da ordem de 80 milhões de reais. De imediato, pretende-se dar uma cara nova à área entre o Porto do Rio e o acesso à Via Dutra, um trecho de 17 quilômetros. Já estão em andamento ali melhorias no asfalto, passarelas, iluminação, canteiros e sinalização. O objetivo, além de facilitar a vida de quem cruza a avenida diariamente, é deixar a região pronta para receber empresas, indústrias de setores variados e até empreendimentos residenciais. “Queremos entregar um novo espaço ao povo carioca”, promete o prefeito Eduardo Paes.

Mais do que necessária, a ação da prefeitura vai ao encontro de um diagnóstico feito pela agência Rio Negócios, encarregada de fomentar investimentos no município. Uma equipe de vinte profissionais percorreu o trecho de 24 quilômetros entre a Rodoviária Novo Rio e Deodoro para avaliar o entorno de 29 milhões de metros quadrados nas margens desse trajeto. Terminada a vistoria de aproximadamente 1?000 imóveis, descobriu-se que 37% deles estão em estado deplorável de conservação. E que quase 300 construções estão abandonadas ou à venda. Trata-se de um número sem paralelo em nenhuma outra região. O levantamento foi essencial para as autoridades conhecerem a real dimensão da situação ? mas também uma prova de que o desafio pela frente é de proporções hercúleas. “Trata-se de uma área de enorme potencial, que liga a zona industrial de Santa Cruz ao Parque Tecnológico da UFRJ, no Fundão, estratégica para o desenvolvimento dos negócios na cidade”, diz o advogado Marcelo Haddad, diretor da agência.

Além das obras básicas de infraestrutura, a grande novidade na recuperação responde por uma sigla: BRT. O sistema, um corredor exclusivo de ônibus, é idêntico aos da Transoeste, Transolímpica e Transcarioca. Na semana passada, o governo federal garantiu à prefeitura o repasse de 1,3 bilhão de reais necessário à implantação do projeto. Serão cinco estações ao longo de 20 quilômetros, com capacidade para transportar 330?000 pessoas por dia. Em paralelo, a prefeitura tenta aprovar na Câmara dos Vereadores o Plano de Estruturação Urbana (PEU) da Avenida Brasil. O projeto prevê a transformação de imóveis abandonados em conjuntos habitacionais por meio de mudanças nas regras de ocupação da área. Pela legislação atual, os terrenos onde se localizam instalações industriais não podem receber empreendimentos residenciais nem comércio ao seu redor. Com o novo plano, isso vai mudar. Ou seja: condomínios e shoppings poderão ser erguidos ali, com isenção de tributos durante as obras.

Inaugurada em 1947, após oito anos de obras, a Avenida Brasil foi um marco da engenharia brasileira. A construção exigiu a movimentação de uma quantidade colossal de terra, pois boa parte de seu caminho ? a exemplo das áreas de Manguinhos e da Maré, como os próprios nomes sugerem ? era dominada por mangues. Não raro, as águas da Baía de Guanabara invadiam as pistas quase vazias, no tempo em que poucos carros a atravessavam. Via principal de entrada e saída da então capital federal, estimulou a fundação de diversos bairros, principalmente na Zona Oeste, e reduziu o tempo de viagem até São Paulo, além de abrir uma nova fronteira industrial na cidade. Prevista no projeto original, a urbanização criteriosa que aconteceria nos arredores nunca saiu do papel. Uma das ideias que se perderam foi transformar uma parte da área em um parque semelhante ao do Aterro do Flamengo. “O caos urbano de hoje é resultado de uma série de boas ideias que foram esquecidas”, afirma o pesquisador da Fiocruz Renato Gama-Rosa, que escreveu uma tese de doutorado sobre o tema. A esperança é que o mesmo não ocorra com os projetos atuais, uma tentativa de dar ao Rio um acesso digno de sua importância.

[—FI—]

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