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Maromba à moda antiga

Com instalações simplórias e desprovidas de aparelhos de última geração, academias ganham adeptos ao apostar na malhação peso-pesado

Por Lais Botelho
Atualizado em 2 jun 2017, 13h10 - Publicado em 26 mar 2014, 17h51

A modernização costuma ser a chave para o sucesso de um negócio. No sentido inverso desse conceito, uma série de academias cariocas que parecem paradas no tempo não só mantém uma legião fiel de alunos como vem conseguindo conquistar novos adeptos. Nelas, passam ao largo aparelhos de última geração ou qualquer outro vestígio de tecnologia. Inclusive, seus equipamentos ? fundamentalmente, barras, anilhas e halteres ? com frequência estão enferrujados e descascados. Chamados de “impérios do ferro”, esses espaços tradicionais, no entanto, exercem atração justamente por seu aspecto rudimentar. Em oposição ao ambiente de clube das grandes redes de academia, dotadas de piscina, sauna, lanchonete e aonde o aluno vai para ver e ser visto, ali o foco é monotemático: malhar, e ponto final. “É pura maromba, e marcamos em cima, brigo mesmo. Não tem essa de mandar mensagem no celular, conversar ou ver TV”, diz Gustavo Costa, presidente da Federação de Fisiculturismo e Fitness do Rio e dono da Pergus, criada em 1983, em Botafogo, e que possui 800 alunos.

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O leitor não deve se precipitar e achar que esses lugares só reúnem brutamontes. Basta uma espiada na foto maior desta reportagem para que isso seja desmentido. Ela mostra a estudante de psicologia Camila Caputo, de 21 anos, que bate ponto diariamente na Pergus. “Gosto daqui porque somos estimulados diariamente”, diz. É exatamente a rigidez dos treinos, com uma pressão semelhante à de um quartel, que seduz também a estudante de comércio exterior Bruna Cardoso, de 24 anos, assídua frequentadora do lugar e dissidente de um grupo de amigas que optou por uma me­ga-aca­de­mia de shopping. Pois, de resto, não existem mesmo maiores atrativos na Pergus. Como é característico nesse tipo de estabelecimento, quase não há opções de aula coletiva, como running, jumping e muay thai. A única exceção por lá é a sessão de exercícios localizados que tem no comando o próprio Gustavo Costa, com três horas de duração e que fica abarrotada todas as noites.

Nessa linha dos complexos com aparência anacrônica e refratários a modismos, nenhum outro ponto é mais simbólico que a Radar, fundada há vinte anos no alto de uma ladeira em Copacabana. Chama atenção a aparelhagem de musculação, que não é importada, como a das unidades mais famosas da cidade, mas, sim, feita artesanalmente em um galpão de São Cristóvão. “Os equipamentos são confortáveis e têm o ângulo perfeito”, elogia a empresária Flávia Gracie, que não se furta a se deslocar do Recreio, onde mora, para ir malhar em Copacabana. O objetivo da fabricação caseira é adaptar o material às necessidades dos alunos e também possibilitar um aumento de carga, que nas máquinas modernas tem um limite. Assim, há barras duplas para suportar a colocação de mais anilhas, como é o caso do leg press, usado para trabalhar os músculos das pernas. Num aparelho convencional, a carga máxima é de 400 quilos. Nesse, reforçado, a capacidade pode ser duplicada. Principal garota-pro­paganda da Radar, a dançarina Gracyanne Barbosa é uma das alunas que usam o peso extra no exercício. É esse método ultraortodoxo que atrai celebridades como Deborah Secco e Paol­la Oliveira, que já marcaram presença por lá, bem como o ator Miguel Falabella. “Em dezembro, aquilo vira uma sucursal da Globo, com rainhas de bateria e uma série de famosos em projeto para o início do ano”, lembra o ator Alexandre Barilari.

Um dos argumentos que treinadores e pupilos destacam a favor das academias à moda antiga, a exemplo da Sinfonia Sport Center e da Sergio Amim, ambas em Jacarepaguá, é que elas dariam resultado mais rapidamente. Não é bem assim, como alega o professor de educação física Marcello Paiva, criador de um concorrido site sobre malhação. “A pessoa pode ficar forte e com músculos definidos em qualquer lugar, desde que se comprometa com o treino e a dieta”, diz ele. O que é verdade, no entanto, é que esses estabelecimentos, desprovidos da profusão de televisores pelas paredes e sem clima para maior socialização, têm menos fatores de dispersão. Não há mágica, nem substituto para a transpiração.

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