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Beltrame prepara reestruturação de UPPs para combater o tráfico

Recém-confirmado no posto, o secretário José Mariano Beltrame articula uma reforma no programa de pacificação de favelas

Por Ernesto Neves
Atualizado em 2 jun 2017, 12h54 - Publicado em 15 nov 2014, 23h59

 

Passados seis anos desde que o Morro Dona Marta, em Botafogo, foi ocupado para a instalação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora, o programa de UPPs prepara-se para uma reestruturação inédita. Capitaneadas pelo secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, recém-confirmado no cargo, as 38 unidades distribuídas por 264 favelas estão sendo radiografadas profundamente. A análise é feita através de um questionário elaborado pela secretaria e por especialistas da área, entre eles Ignácio Cano, sociólogo e coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

A pesquisa está sendo respondida por comandantes das principais UPPs, e o relatório fica pronto em dezembro. Com base nos resultados, o programa terá reformas que visam a debilitar a ação do tráfico, evitando tentativas de desestabilização promovidas pelos criminosos. Entre as possibilidades em análise está a divisão do território da Rocinha em três UPPs, que seriam chefiadas por diferentes comandantes. Hoje, na maior favela da Zona Sul, com 110 000 moradores, há apenas uma unidade. A região tem enfrentado sucessivos episódios de violência, entre eles pesados tiroteios. Com o território fatiado, os policiais não precisariam se deslocar num raio de longo alcance. “O tráfico passou a ver como a polícia trabalha. É um movimento óbvio, eles tentam uma reação para expandir novamente os tentáculos”, explica o secretário. “Feito o diagnóstico, vem o mais difícil: o nosso aperfeiçoamento”, conclui o secretário, que, depois de implantar e expandir o projeto, agora trata de consolidá-lo.

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Fortalecido por sua estabilidade no cargo — já são oito anos comandando a pasta —, Beltrame também pressiona o governo estadual para que implante um inédito conselho que venha a administrar as políticas públicas nas favelas. Atualmente, grande parte das críticas ao programa de UPPs é direcionada ao limitado avanço em questões sociais, como o incremento da infraestrutura e a melhoria dos serviços de órgãos oficiais e concessionárias. No momento, ele está em conversas avançadas com o governador Luiz Fernando Pezão. O órgão seria formado pelo chefe do governo estadual, assim como pelo prefeito Eduardo Paes e por secretários das principais pastas. A ideia é que técnicos das secretarias trabalhem diariamente dentro das comunidades. Os problemas seriam expostos em reuniões periódicas.

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Cada secretaria teria, então, de apresentar suas soluções. “Acho que seria ambicioso e corajoso pôr tudo isso em planilhas on-line. É uma forma de toda a população acompanhar o que está sendo feito”, explica Beltrame. A centralização das informações no portal também permitiria distribuir os recursos públicos de modo mais justo. A desigualdade entre as comunidades é grande. Enquanto favelas como a Rocinha dispõem de infraestrutura melhor, outras, como Manguinhos, amargam uma situação de miséria. O conselho poderia ainda firmar parcerias com a iniciativa privada. “Tendo a figura máxima do governador e a do prefeito como representantes, esse órgão ganha o peso político de que precisa”, acredita. 

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As propostas chegam no momento em que o programa de pacificação passa por problemas em áreas vitais para as facções criminosas do Rio. Em outubro, uma escalada de tiroteios na região da Mangueira resultou na morte de um PM e em veículos incendiados. Ocorreram ataques ainda no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, no Complexo do Alemão e na até então tranquila Tabajaras, em Copacabana. O governo afirma que o incremento do efetivo vai ajudar a combater as investidas de criminosos. Até fevereiro, mais 2 000 policiais serão incorporados à PM. Outra iniciativa tida como fundamental é o crescente trabalho de investigação da Polícia Civil, que deverá originar ações como a que foi vista na última terça-feira (12), quando uma força-tarefa vasculhou o Morro do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, para cumprir 31 mandados de prisão. Na mesma semana, foi desbaratada uma grande quadrilha de clonagem de cartões de crédito que operava dentro da Rocinha e aplicava golpes no Aeroporto Internacional.

Ainda entre os novos planos de Beltrame está o reforço do treinamento policial, com o objetivo de aprimorar o patrulhamento em becos e vielas. Este é considerado o ponto mais vulnerável para quem trabalha em UPPs. O policial do programa, que é condicionado a fazer o patrulhamento de proximidade com os moradores, fica exposto e entra na mira de criminosos que se aproveitam do caos urbano das favelas cariocas para ali se esconder. Depois da espiral de violência que culminou em índices de crime superiores ao de regiões em guerra, o Rio conseguiu nos últimos doze anos reduzir sua taxa de assassinatos em 63%.  Na longa caminhada que fez contra a violência, a cidade atravessou momentos difíceis, como a invasão do Alemão, em 2010. Por isso, não há tempo a perder quando o assunto é a segurança pública. Integrar esforços e investir continuamente é o único caminho possível para sermos uma metrópole civilizada. 

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