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Violência vira rotina em bairros situados na rota dos traficantes

Alto Gávea e Alto Leblon registram casos de invasão e assalto

Por Saulo Pereira Guimarães e Gustavo Ferreira
Atualizado em 24 nov 2017, 12h52 - Publicado em 24 nov 2017, 12h52
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René Hasenclever, presidente da Associação de Moradores e Amigos da Gávea. “É o tipo de problema que só vai acabar se for realizado um trabalho social forte nas comunidades, não há outra saída” (FELIPE FITTIPALDI/Veja Rio)

Um incidente movimentou recentemente a Casa Santa Ignez, instituição de caridade que funciona no Alto da Gávea desde 1919 e atende 220 crianças da Rocinha. Em outubro, numa noite de sábado, dois homens entraram em um terreno baldio vizinho à sede da creche e invadiram a propriedade, um casarão amarelo de dois andares onde moram quatro freiras. Uma vez dentro da casa, eles ligaram um aparelho de som e até tomaram uma garrafa de espumante, sobra de um bazar de caridade. As freiras, que vivem em regime de clausura em celas isoladas da área onde os homens estavam, chamaram a polícia assim que ouviram o barulho. Ao chegarem ao local, os policiais conseguiram prender um dos invasores, que estava armado com um facão. “Em quase 100 anos de existência, nunca havíamos registrado um caso desse tipo”, afirma Christiane Barbosa, presidente da entidade.

Episódios como o da Casa Santa Ignez têm se tornado recorrentes em bairros tidos como tranquilos antes do recrudescimento das disputas entre as gangues que brigam pelo controle do tráfico na Rocinha. De acordo com um levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP), o número de roubos na Gávea, Jardim Botânico, Lagoa, São Conrado e Vidigal cresceu 38% entre janeiro e setembro de 2017, em comparação com o mesmo período do ano passado. Em 2016, 321 assaltos foram registrados. Neste ano já houve 442 ocorrências. Em alguns pontos, como o Alto da Gávea e o Alto Leblon, o medo da criminalidade mudou a rotina de moradores e de quem trabalha nas redondezas. As ruas ficam vazias à noite, e mesmo os recorrentes engarrafamentos nos horários de entrada e saída dos colégios diminuíram. No último dia 3, um tiroteio na favela Parque da Cidade surpreendeu pais e alunos que saíam da unidade da Escola Parque, que fica a 230 metros da comunidade. Segundo moradores, da mesma forma que acontece na vizinha Rocinha, há uma briga pelo controle do tráfico no local. Situada na Estrada da Gávea, a Escola Americana suspendeu as aulas por quatro dias em setembro e chegou a proibir a circulação de alunos, professores e funcionários em áreas externas. A instituição conta com salas blindadas há pelo menos sete anos. “Os tiroteios aqui não têm mais dia nem hora para acontecer. E a situação é particularmente ruim nas áreas mais próximas das favelas”, diz René Hasenclever, presidente da Associação de Moradores e Amigos da Gávea. “É o tipo de problema que só vai acabar se for realizado um trabalho social forte nas comunidades, não há outra saída”, avalia.

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O quadro de insegurança avança mesmo por bairros que não fazem limite diretamente com a Rocinha. Durante os confrontos, há dois meses, bandidos se refugiaram na mata do Parque Dois Irmãos, nos arredores da Rua Timóteo da Costa, no Alto Leblon. Roubos por motoqueiros armados também se tornaram frequentes por ali, e há registros de ocorrências em outros pontos da região (veja o quadro ao lado). Semanalmente, a presidente da Associação de Moradores e Amigos do Leblon, Evelyn Rosenzweig, recebe pelo menos quatro mensagens de seus vizinhos dando conta de novos crimes no bairro. “Hoje, eu não saio para caminhar por aqui nem durante o dia”, diz ela.

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Um dos reflexos dessa situação é a desvalorização dos imóveis do Alto da Gávea, que chega a 80% nos últimos dez anos. Para se ter uma ideia, um sítio de 2 500 metros quadrados na região sai hoje por 2,5 milhões de reais, o mesmo preço de uma propriedade com um terço do tamanho em Guaratiba, na Zona Oeste. “Por causa da violência, há apartamentos de 15 milhões de reais sendo vendidos por 5 milhões no Alto da Gávea”, afirma Rubem Vasconcelos, presidente da Patrimóvel. Até julho de 2018, o Leblon ganhará uma operação nos moldes da Lagoa Presente, financiada pelos comerciantes locais. Duplas com bicicletas e motos patrulharão as ruas, e serão instaladas no bairro duas torres de segurança com câmeras de 360 graus e alcance de 4 quilômetros. Até lá, a solução é evitar carregar objetos de valor, redobrar a atenção e, para os que têm fé, fazer como as freiras da Casa Santa Ignez: chamar a polícia e rezar para que tudo acabe bem.

Zona de risco

Endereços marcados pelo crescimento da criminalidade no Leblon e na Gávea

› Avenida Afrânio de Melo Franco, Leblon. Uma mulher foi roubada por um ciclista armado, no dia 12. Na delegacia, a vítima encontrou outras cinco pessoas atacadas pelo mesmo bandido.

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› Rua General Urquiza, Leblon. Um arrastão na altura do número 128 assustou moradores da região há menos de um mês.

› Rua João Lyra, Leblon. Quando voltava do supermercado, uma senhora foi assaltada por uma dupla que levou as compras e o dinheiro da vítima.

› Rua Marquês de São Vicente, Alto da Gávea. Um tiroteio no dia 3, na favela Parque da Cidade, amedrontou os pais que aguardavam os filhos na saída da Escola Parque.

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› Rua Mary Pessoa, Alto da Gávea. Dois homens que saíram da Rocinha invadiram a Casa Santa Ignez, creche onde moram quatro freiras. Chamada pelas religiosas, a polícia prendeu um dos invasores.

› Rua Sambaíba, Alto Leblon. Um assalto à mão armada cometido por uma dupla em uma moto aconteceu perto do Clube Federal em meados de novembro. Os bandidos escaparam dos policiais, que patrulham a área desde os confrontos na Rocinha.

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