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Especialista em incêndio

Novo comandante dos bombeiros, o coronel Simões encara o desafio de pacificar a corporação

Por Caio Barretto Briso
Atualizado em 5 jun 2017, 14h57 - Publicado em 16 jun 2011, 21h47

QUEM É ELE

Sérgio Simões

Idade 53 anos

Família Divorciado, tem duas filhas

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Trajetória?Ingressou no Corpo de Bombeiros em 1977. Esteve à frente do Grupamento de Busca e Salvamento e foi chefe da unidade de Angra dos Reis

Em seu período no Grupamento de Busca e Salvamento (GBS), a unidade acionada nas missões mais arriscadas do Corpo de Bombeiros fluminense, o coronel Sérgio Simões teve de lidar com situações extremas. Ele jamais apagará da memória a madrugada do dia 11 de dezembro de 1981. Um incêndio de grandes proporções atingiu o edifício da Vale, no Centro do Rio. Como integrantes do GBS, o oficial e um grupo de colegas tiveram a missão de atingir o alto do prédio. No meio da operação, eles ficaram encurralados entre o 11º e o 16º andar. Simões escalou uma janela e tentava descer pela escada, mas uma rajada de fumaça preta infestou o ambiente e quase o levou a perder os sentidos. Assim que recobrou o raciocínio, conseguiu escapar das labaredas ? até hoje ele não sabe como. “Pensei que era o fim da linha”, recorda, com a emoção que aflora toda vez que narra o episódio. “Comecei a ter alucinações, via uma criança andando de triciclo no jardim. Tempos depois, descobri que era uma lembrança da minha infância.” Essa não foi a única vez em que ele viu a morte face a face. Em 2002, época em que comandava o batalhão de Angra dos Reis, vasculhava um deslizamento de terra após uma tempestade quando, de repente, pisou em um mar de lama e começou a afundar. Isolado, gritou, em vão, por socorro. Seu corpo já estava submerso até o queixo no instante em que, milagrosamente, seus pés encontraram uma pedra salvadora.

Esse carioca de 53 anos de idade e 34 de carreira está envolvido agora em outra missão delicada, que, embora não o ponha em risco de vida, se prenuncia tremendamente desgastante. Há duas semanas, ele foi nomeado para uma dupla função: é o novo comandante dos bombeiros do Rio e também secretário estadual de Defesa Civil, que volta a ser uma pasta independente, depois de estar atrelada à Secretaria de Saúde desde 2007. Cabe a ele pacificar uma corporação em guerra por aumento salarial e protagonista da crise mais grave enfrentada pelo governador Sérgio Cabral em seus quatro anos e meio de mandato.

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Trata-se de um movimento de alta combustão, que envolve uma arrastada negociação, manobras com interesses políticos dos líderes da campanha e enfrentamentos não só no campo das argumentações. Como se sabe, o ápice da tensão aconteceu com a invasão do quartel-general dos bombeiros na madrugada do dia 4, que resultou na prisão de 439 revoltosos. Após seis dias de cárcere, eles foram libertados por decisão judicial. Logo após o confronto que opôs os bombeiros a policiais do Bope no pátio do QG, o coronel Simões assumiu o comando da corporação. Desde então, afirma que tem dormido no máximo quatro horas por dia e não sabe o que é folga. Passou o último domingo (12) enfurnado em seu gabinete, reunindo documentos para o encontro do dia seguinte com o governador, com quem mantém contato diário. Seus dois celulares tocam o tempo todo, tal qual uma sirene abrindo caminho no trânsito.

Rudy Trindade/ Ag. O Globo
Rudy Trindade/ Ag. O Globo ()

Criado em 1856, o Corpo de Bombeiros do Rio é o mais antigo do país. É, também, o que tem atividades mais abrangentes, o que explica, em parte, o fato de seu efetivo de 16?500 servidores ser quase o dobro do de São Paulo e aproximadamente 25% do contingente do Brasil inteiro. Apagar incêndio é apenas uma de suas muitas funções. Entre as incumbências dos bombeiros estão resgatar afogados nas praias, prestar atendimento emergencial nas ruas e buscar sobreviventes em desabamentos e deslizamentos de terra. Médicos e dentistas da corporação são responsáveis também pelo serviço nas Unidades de Pronto Atendimento (Upas). Com tantas atribuições e missões destacadas, como no terremoto do Haiti e na tragédia do Morro do Bumba, em Niterói, a tropa fluminense conseguiu reforçar ainda mais a confiança e a simpatia da população. Uma pesquisa realizada pelo Ibope em 2009 já apontava que o Corpo de Bombeiros é a instituição com maior credibilidade do país, com 88 pontos numa escala de zero a 100. Prova disso foi uma passeata de apoio à categoria em Copacabana que reuniu 25?000 pessoas no domingo passado.

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Divorciado e pai de duas filhas, Simões mora na Barra. Para relaxar, tem o hábito de correr 10 quilômetros por dia na orla do bairro, uma prática suspensa a contragosto. Nessa sua espinhosa tarefa de intermediar uma reivindicação salarial com alta dose de tensão, ele busca lições nas campanhas similares dos anos 80. “A diferença é que aqueles movimentos começaram com os oficiais superiores e nenhum de nós tinha interesse eleitoral”, compara. “A população nem ficou sabendo dos protestos. Tivemos mais respeito pela hierarquia.” Desta vez, Simões se vale de toda a sua habilidade para debelar um dos mais resistentes incêndios que já encarou. Que os danos sejam os menores possíveis.

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