Urban jungle (ou selva urbana) é tendência na decoração
Da cozinha ao banheiro, cariocas levam a natureza para dentro de casa e transformam cômodos em mini-florestas. Conceito nasceu na Escandinávia
Buritis, jequitibás, guaimbés, helicônias, manacás — a lista é longa. Encravado na Mata Atlântica, o Rio tem hoje um terço de seu território coberto por esse que é um dos biomas mais ricos do mundo, com 20 000 espécies só de plantas. Na capital, são quase 35 000 hectares, o equivalente a 42 000 vezes o tamanho do Maracanã, segundo o mapeamento da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) feito em 2017. Com paisagens naturais capazes de tirar o fôlego à sua volta, os cariocas agora estão levando a floresta para dentro de casa. A tendência da urban jungle, ou selva urbana, na tradução para o português, vem da arquitetura escandinava e consiste em encher os cômodos com plantas dos mais variados tipos, para compensar a falta de verde das metrópoles. No Rio tropical, a moda pegou fácil. Em Ipanema, o publicitário Gabriel Oliveira, 36 anos, lotou seu apartamento, de 60 metros quadrados, com costelas-de-adão, aráceas, Ficus lyrata (conhecida como figueira-lira), planta carnívora e ainda um bonsai de 35 anos. No total, há vinte vasos e mudas. “A vegetação traz vida e aconchego ao lar. Consegui uma decoração impactante num momento em que eu não gostaria de gastar muito dinheiro. Todos os meus amigos querem copiar”, vangloria-se Oliveira, que rega sua minisselva dia sim, dia não, e a aduba uma vez por mês.
Exuberantes, esses projetos verdejantes ganham força na internet. De acordo com a rede social de fotos Pinterest, em 2017 houve um crescimento de 75% no interesse pelo segmento de lar e decoração — e as plantas, em especial, fizeram o maior sucesso: as buscas por tipos e as pesquisas sobre o tema dentro da plataforma aumentaram 533%. Da cozinha ao banheiro, a regra é uma só: verde, muito verde. A possibilidade de composições e combinações é praticamente infinita, ou seja, favorece um exercício delicioso de criatividade. “Minha dica é misturar: agrupe em um canto da sala, por exemplo, espécies com diferentes alturas, texturas e cores de folhagem. Opte também por vasos de tamanhos e materiais variados. Aposte ainda nos terrários, inclusive nos suspensos”, sugere o arquiteto Fabiano Ravaglia, que, em 2017, antecipou a tendência na mostra Morar Mais por Menos, ao expor o projeto de uma sala de estar toda verde. Ele avisa: “A samambaia que a gente via na casa das nossas avós apoiada naquele suporte metálico alto no chão está de volta desse mesmo jeito, mas necessita de muita rega”.
Em voga também nas estampas de roupas e em itens de decoração como quadros e almofadas, a costela-de-adão é uma das melhores plantas para cultivar em apartamento, junto com cactos e suculentas (veja o quadro ao lado). Para criar volume, Ravaglia recomenda as peperômias, que pendem lindamente de locais mais altos, como estantes e prateleiras. Para a advogada Danielle Toledo, 39 anos, sua pequena floresta caseira faz mais do que embelezar o apartamento onde ela vive, em Jacarepaguá, e deixar o ambiente mais fresco. “Cuidar das plantinhas é uma terapia, como diz a minha psicóloga. Outro dia fui criticada porque comprei um regador dourado de 200 reais, mas o fiz para tornar o ritual ainda mais prazeroso. Também ponho uma música ou canto quando as rego”, revela Danielle, que compartilha suas dicas no Instagram (@decorcommusica) enquanto festeja a chegada de passarinhos à sua janela, atraídos pelas flores. É quase um conto de fadas.