Como a Unidos de Padre Miguel voltou ao Grupo Especial após 5 décadas
Escola vai celebrar Iyá Nassô, ialorixá que 'plantou axé' com primeiro terreiro de candomblé no Brasil, um enredo de Alexandre Louzada e Lucas Milato

Abrindo o desfile de domingo (2), a Unidos de Padre Miguel, UPM para os mais íntimos, está de volta ao Grupo Especial do carnaval carioca após 52 anos. Com uma apresentação considerada tecnicamente perfeita em todos os quesitos, a Boi Vermelho conquistou o título da Série Ouro do ano passado ao obter os 270 pontos possíveis com o enredo “O Redentor do Sertão”, sobre a vida de Padre Cícero e suas benfeitorias a partir do imaginário popular. E garantiu seu retorno à elite do samba em 2025, na qual tenta permanecer com “Egbé Iyá Nassô”, história da sacerdotisa que fundou o primeiro terreiro de candomblé do Brasil, a Casa Branca do Engenho Velho, contada pelos carnavalescos Alexandre Louzada – tetracampeão com quatro escolas diferentes – e Lucas Milato – estreante no Especial após o título no antigo grupo de acesso.
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Fundada em 1954, na Vila Vintém, na Zona Oeste, a Unidos de Padre Miguel só foi registrada na Associação de Escolas do Rio de Janeiro (ASESRJ) três anos depois. Criada como uma das representantes da Zona Rural do Rio, a agremiação adotou como símbolo Boi Vermelho. Suas cores são o vermelho e branco em homenagem ao então dono da fábrica de tecidos Bangu, Guilherme da Silveira Filho, que doava matéria-prima para as apresentações da escola. E já em seu primeiro desfile na Praça XI, em 1959, conquistou o direito de se apresentar entre as grandes escolas em 1960. Mas sua má colocação a fez retornar às categorias inferiores, chegando, inclusive, a não desfilar em alguns. A escola de Padre Miguel voltou a desfilar entre as grandes em 1964, 1971 e 1972.
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Com dois campeonatos seguidos – em 2005 no Grupo D e em 2006 no Grupo C -, a UPM aos poucos conseguiu retornar ao desfile no Sambódromo em 2006, pelo Grupo B. Até 2020, era mais conhecida pelo escudo com as mãos entrelaçadas, uma alusão ao símbolo da Bateria Guerreiros da Unidos. Foi quando a agremiação voltou a ter o Boi Vermelho como símbolo oficial em seu pavilhão. Agora este boi vai guiar a narrativa inspirada no terreiro Casa Branca do Engenho Velho (ou Ilê Axé Iyá Nassô Oká), fundado no século XIX, na Barroquinha, em Salvador (BA), entre 1820 e 1830. Entre 1860 e 1870, o templo foi transferido para o Engenho Velho da Federação, onde está até hoje. “Além de contar a história da saga, da coragem, de todo o enfrentamento de preconceito, existe essa similaridade que hoje todas as escolas de samba são legítimas representantes, são pequenas Áfricas que mantêm as suas tradições”, disse ao portal G1 Alexandre Louzada.

Confira o samba-enredo
Awurê Obá kaô! Awurê Obá kaô!
Vila Vintém é terra de macumbeiro!
No meu Egbé governado por mulher
Iyá Nassô é rainha do candomblé!
Eiêô! Kaô kabesilê Babá Obá!
Couraça de fogo no orô do velho ajapá
A raça do povo do Alafin, e arde em mim
Rubro ventre de Oyó
Na escuridão nunca andarei só
Vovó dizia: Sangue de preto é mais forte que a travessia!
Saudade que invade!
Foi maré em tempestade
Sopra a ancestralidade no mar (ê rainha)
Preceito é herança sem martírio
Airá guarda seus filhos no ilê da Barroquinha
É a semente que a fé germinou, Iyá Adetá
O fruto que o axé cultivou, Iyá Akalá
Iyá Nassô, ê Babá Assika
Iyá Nassô, ê Babá Assika
Vou voltar mainha, eu vou
Vou voltar mainha, chore não
Que lá na Bahia
Xangô fez revolução
Oxê, a defesa da alma na palma da mão
No clã de Obatossi
Há bravura de Oxóssi no meu panteão
É d’Oxum o acalanto que guarda o otá
Do velho engenho, xirê que mantenho no meu caminhar
Toca o adarrum que meu orixá responde
Olorum, guia o boi vermelho seja onde for
Gira saia aiabá, traz as águas de Oxalá
Justiça de Ogodô, tambor guerreiro firma o alujá