Um dos símbolos de São Cristóvão comemora o fim de uma longa reforma

Após cinco anos, o Conjunto Pedregulho tem sua restauração finalizada. O prédio teve seus pisos, paredes, esquadrias e áreas comuns do complexo reformados.

Por Lula Branco Martins
Atualizado em 2 jun 2017, 12h30 - Publicado em 8 ago 2015, 01h00
A fachada sinuosa do bloco A: a reforma começou em 2010 e custou 46 milhões de reais
A fachada sinuosa do bloco A: a reforma começou em 2010 e custou 46 milhões de reais (Divulgação/)
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Imagine você residir num prédio que, a cada ano, recebe a visita de 10 000 pessoas, a maioria turistas, além de arquitetos e estudantes, todos vidrados em suas linhas ousadas, querendo conhecer “ao vivo” a planta dos apartamentos e o famoso corredor de 250 metros de extensão, uma “varanda social”, como se diz por lá, que reúne e aproxima os moradores. É assim a rotina do Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, mais conhecido como Pedregulho, no alto de um morro no subúrbio de São Cristóvão, na Zona Norte. Erguido nos anos 50 do século XX pela engenheira Carmen Portinho, com projeto arquitetônico assinado por Affonso Eduardo Reidy, era a princípio destinado a funcionários públicos (o Rio era a capital do país na época). Agora o edifício festeja o término de sua primeira grande reforma, iniciada em novembro de 2010. Na semana que vem — em data ainda não confirmada —, o governador do estado, Luiz Fernando Pezão, irá ao condomínio para, oficialmente, decretar o fim das obras. Ao mesmo tempo, está sendo lançado um livro de 180 páginas, intitulado Pedregulho: o Sonho Pioneiro da Habitação Popular no Brasil, sobre a história do conjunto. De autoria do urbanista Alfredo Britto e com belas fotos de Felipe Varanda, ele tem noite de autógrafos programada para a próxima terça-feira (11), na Travessa do Shopping Leblon.

Contraste na apresentação e na limpeza do prédio principal: o azul volta a ser a cor predominante
Contraste na apresentação e na limpeza do prédio principal: o azul volta a ser a cor predominante ()

Não é por acaso tamanha badalação em torno do edifício. De contorno absolutamente particular, na forma da letra S, e revestido por cobogós, placas de cerâmica vazadas que lhe garantem boa ventilação, o prédio principal do Pedregulho — no complexo há outros dois, com aparência mais comum — chama a atenção dos que o avistam de longe, da Avenida Brasil por exemplo, e também de quem mexe com cinema. Lá foram rodadas cenas de inúmeros filmes, do nacional Central do Brasil, em 1999, ao americano Velozes e Furiosos 5: Operação Rio, produção de 2011. “Os americanos queriam fazer umas explosões no mato aqui de trás, mas não deixamos. Mesmo sendo só de mentirinha, elas podiam assustar o pessoal da Favela do Tuiuti”, lembra Hamílton Marinho, no conjunto há 45 anos, espécie de guia turístico informal do lugar. Ele leva visitantes à escola decorada com painéis de azulejos de Candido Portinari e mostra também o que restou dos jardins planejados por Burle Marx no início do projeto.Como a maioria dos moradores, Marinho está contente com o banho de loja patrocinado pelo governo estadual, mas não deixa de apontar problemas. “Nosso posto de saúde está fechado e a lavanderia, não contemplada pela atual reforma, simplesmente não funciona”, diz. Outra reivindicação comum por lá é a instalação de elevadores. O que pega nesse caso é que, como o prédio foi tombado pela prefeitura, em 1986, fica difícil arranjar um canto para erguer a coluna elevatória. Aliás, nem todos os detalhes da reforma foram aceitos por unanimidade. Muitos moradores haviam posto esquadrias de alumínio nas janelas, substituindo as de madeira, que agora voltaram. A firma responsável teve de promover palestras para convencer os mais renitentes, e só assim as portas puderam ser abertas aos operários. No fim dos embates, ficou tudo azul — tanto no que diz respeito à relação entre as duas partes, quanto à cor predominante da fachada. 

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Infografico
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Com unidades pequenas nos andares de baixo, mas também confortáveis dúplex de até 80 metros quadrados nos pisos superiores, o Pedregulho sempre se orgulhou de misturar todo tipo de gente. Hoje vivem ali açougueiros, médicos, pastores, motoristas de táxi, classe C, classe B, praticamente qualquer um. “A ideia central de Reidy era valorizar o ser humano”, conta Britto, autor do livro. Em sua obra, as imagens revelam não apenas o conjunto de edifícios, mas o que se vê de lá de cima, como o Estádio Nilton Santos (Engenhão), o Mercado Municipal do Rio de Janeiro (mais conhecido pela antiga sigla, Cadeg) e, esticando-se o pescoço, a Ponte Rio­-Niterói. Novinho em folha, por isso mesmo esperando dobrar o número de turistas e curiosos, o Pedregulho mais do que nunca quer ver — e ser visto.

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