No Rio, 71% dos transplantes não seguiram protocolo de transporte
Procedimentos ocorreram no Hospital São Francisco na Providência de Deus, na Tijuca, segundo relatório do Denasus

Técnicos do Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus) encontraram uma série de irregularidades no Programa de Transplantes do Rio. Em relatório divulgado pela Globonews, eles detalham o que no Hospital São Francisco na Providência de Deus, na Tijuca, Zona Norte, no primeiro semestre de 2024, foram realizados 144 transplantes, sendo 71,6% dos casos feitos com órgãos recebidos com inconformidades em relação às normas sanitárias. Entre elas estão “irregularidades no processo de etiquetagem” e no “acondicionamento e transporte dos órgãos a serem transplantados, tais como: inconformidades no saco estéril, insegurança da caixa isotérmica, quantidade de gelo inadequada e documentação inadequada”.
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Segundo o Denasus, o hospital teria informado à Central de Transplantes sobre os problemas. Apesar disso, as cirurgias foram realizadas. Segundo o hospital, todos os órgãos “são avaliados pelas equipes do serviço de transplantes e apenas aqueles considerados seguros e próprios para o procedimento são transplantados, assegurando-se a qualidade e eficiência no procedimento”. Além das falhas em seguir os protocolos sanitários no transporte dos órgãos, o relatório também aponta um suposto direcionamento na contratação do laboratório PCS Lab Saleme — onde foram cometidos os erros que culminaram no transplante de órgãos infectados com HIV, no ano passado. O laboratório realizava exames em 11 unidades estaduais. Ao todo, seis pessoas foram infectadas com HIV após os exames do laboratório PCS indicarem erroneamente que dois doadores não tinham o vírus.
“Consideramos como graves (as irregularidades) porque elas podem, de alguma maneira, comprometer todo o processo. Faltou fiscalização ao contrato, e há problemas que indicam favorecimento de parentes. São indícios que devem agora ser investigados por outras instâncias como o próprio governo estadual, já que não temos essa competência”, disse ao jornal O Globo Alexandre Alves Rodrigues, diretor do Denasus. Desde a última semana, os técnicos do Ministério da Saúde e da Secretaria estadual de Saúde já se reuniram duas vezes para discutir os problemas apontados pelo relatório. “Já foram sanadas inúmeras não conformidades. Hoje, os etiquetamentos, a testagem, já estão sendo feitos de maneira adequada, por exemplo. Vamos continuar acompanhando com visitas e ações ao longo do ano, pensando na melhoria contínua”, acrescentou.
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Órgãos de controle, como o Ministério Público, investigam se houve algum favorecimento na contratação do PCS Lab Saleme pela Fundação Saúde, vinculada à Secretaria estadual de Saúde. Os sócios do laboratório são parentes do ex-secretário de Saúde e deputado federal Dr. Luizinho, que sempre negou envolvimento na contratação e afirma que não estava mais à frente da pasta na época da contatação. A Secretaria Estadual de Sáude diz que a licitação “foi feita por processo eletrônico, por menor preço, sem qualquer possibilidade de direcionamento”. O laboratório também nega que tenha havido direcionamento. Em nota, a Secretaria estadual de Saúde diz aonda que os fluxos do programa de transplantes foram revistos e que houve reforço no treinamento das equipes que atuam em hospitais públicos e privados.