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Antes terreno dos jovens, TikTok prova que idade não é documento no app

Em busca de um remédio contra o tédio e a tensão em tempos de pandemia, uma turma mais madura encontrou na plataforma uma forma de se divertir

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 5 jun 2020, 18h15 - Publicado em 5 jun 2020, 06h00
O casal Fran Sartor e Paulo Herédia, da página Capitão Zeferino: o primeiro passo foi deixar a vergonha de lado  (Capitao Zeferino/Veja Rio)
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O TikTok apareceu no planeta como um aplicativo de compartilhamento de vídeos para a turma em busca de uma linguagem rápida e muito visual. Consiste em aparições-relâmpago, sem roteiro definido (embora há quem capriche), em que as pessoas cantam, dançam, fazem dublagens e lançam desafios os mais inimagináveis para quem as assiste, como imitar coreografias famosas ou dublar hits musicais.

Assim, por proporcionar a instantaneidade com a qual as novas gerações tanto se identificam, virou um fenômeno de escala global, arrastando milhões de crianças e jovens para a frente da telinha do celular. Pois a pandemia, de novo ela, sacolejou o mundo com tamanha intensidade que o TikTok passou a receber uma tribo diferente: os recém-chegados são mais velhos e entram ali em busca de diversão e alívio para o estresse nestes tempos de tantas limitações.

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Ao observar a filha Lívian, 21 anos, representante da chamada Geração Z, passar horas entretida com dancinhas em frente ao smartphone, o humorista Renato Aragão, 85 anos, resolveu ver como funcionava o TikTok. Estava confinado em sua casa, na Barra da Tijuca, e acabou encontrando no aplicativo uma brincadeira para espantar o tédio. “Eu sou muito ativo, gosto de me exercitar, de me mexer. Quando gravo um desses vídeos, é o momento de extravasar”, explica o eterno Didi, que dá detalhes: “Pulo, grito e não me incomodo em fazer os movimentos certinhos”. Está indo bem: já contabiliza mais de 600 000 seguidores na plataforma, onde pode ser visto se requebrando ao som de sucessos de Ivete Sangalo e Ludmilla ao lado da esposa, Lilian.

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Dois pra lá dois pra cá… O importante é entrar na dança! Quem aí nessa quarentena já ensaiou uns passinhos?!

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A empresa chinesa à qual pertence a plataforma não divulga números, mas confirma que, sim, o público mais velho que se arrisca nas coreografias cresceu durante a pandemia, o que dá para perceber em uma navegada rápida. Esse pessoal está ajudando a alavancar os números. Em meados de maio, o app figurava no Brasil como o número 1 da categoria de entretenimento no Google Play e na App Store. “É uma bobeira muito bem-vinda neste momento tenso. Às vezes, estamos chateados e abrimos o TikTok para relaxar. Meia hora depois, estamos rindo e animados para gravar os nossos vídeos”, conta o criador de conteúdo Paulo Herédia, 39 anos, que embarcou na onda junto com a mulher, Fran Sartor, de 34.

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Fran vai logo avisando: o primeiro passo para aderir é deixar a vergonha de lado. “Jamais imaginei que fôssemos ver as blogueiras de moda, que fazem pose de cara fechada no Instagram, empenhadas nos desafios musicais do TikTok. É tipo a Disney, a diferença é que estamos dentro de casa”, define Fran.

De acordo com um estudo feito pela consultoria de marketing digital SEMrush, a pedido de VEJA RIO, as buscas pelo termo “TikTok” dispararam, no país, 82% entre março e abril, justamente no período em que o carioca já estava isolado, como reza a cartilha da prevenção ao vírus. Só para ter uma comparação, a procura por “YouTube” e “Instagram” cresceu 20% no mesmo período, enquanto a caça aos termos “Twitter” e “Facebook” ficou igual.

“Adolescentes são ávidos por novidade e amam estar num espaço sem adultos. Antes da quarentena, eles reinavam sozinhos no aplicativo, com uma certa privacidade. A questão é que nenhuma plataforma social se desenvolve apenas com o público muito jovem, que é suscetível a mudanças, e naturalmente o TikTok acabaria tentando atrair mais faixas etárias”, analisa Willian Rocha, professor de redes sociais da Escola Superior de Propaganda e Marketing.

Nascido na China, em 2016, como Douyin, o aplicativo alcançou 100 milhões de usuários em um ano. Meses depois, a empresa que controla a marca comprou, por 1 bilhão de dólares, o Musical.ly, plataforma semelhante, que oferecia dublagens de músicas de até quinze segundos, então muito popular entre adolescentes americanos.

Dessa união digital, veio o TikTok, em 2017 e, hoje em dia, o Douyin funciona apenas na China. A cantora Preta Gil, 45 anos, conta que engajou-se nesta seara desde “que era tudo mato”. “Cheguei a lançar um álbum pelo Musical.ly, há três anos. Quando virou TikTok e surgiram tantas possibilidades para incrementar os vídeos, tive de me readaptar”, diz Preta, que entrega: “Minha sobrinha Flor (filha de Bela Gil), de 11 anos, domina tudo e de vez em quando me ajuda a fazer uns vídeos mais elaborados, bem editados, mas eu gosto mesmo é de dublar memes com a minha neta, Sol, de 4 anos”.

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Fiquem em casa, por você, pelos que vocês amam e por todos que não podem ficar em casa!!! Depois de 26 dias enfim pude ficar com minha Sol ☀️ Fiquem com Deus bom final de semana 🙏🏽💜

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+ Isolamento social inspira grandes artistas plásticos cariocas

Se os mais novos (e as celebridades que frequentam o app) executam coreografias e dublagens com desenvoltura, os adultos estreantes vêm mostrando que há novos nichos a desbravar na plataforma: tem gente gravando vídeo de receitas, de malhação, sobre educação a distância e até com dicas jurídicas. “Faço o exercício de ficar pensando no que vou criar, de acordo com meus interesses”, conta o empresário Juan Carlo Carvalho, de 34 anos, morador da Barra, apreciador de viagens e academia, que, privado das duas paixões na quarentena, encontrou no app uma distração.

Juan Carlo Coroatoker
Juan Carlo Carvalho: ao ver-se cercado por adolescentes, ele se deu um apelido, ‘Coroatoker’ (Naira Figueira/Divulgação)

“No Instagram, as pessoas querem mostrar que são bonitas e que têm dinheiro. Já o TikTok é para passar vergonha mesmo”, compara. Ao se ver cercado de adolescentes assim que aderiu à plataforma, o empresário tratou de criar o apelido “coroatoker”. Com o maior orgulho.

 

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Assim como Gretchen (60), outros famosos ‘maduros’ aderiram ao TikTok, como Luciano Huck (48), Ellen DeGeneres (62), Jane Fonda (82), Will Smith (51) e Jennifer Lopez (50) (Daryan Dornelles/Divulgação)

Ellen DeGeneres, 62 anos; Gretchen, 60 anos; Luciano Huck, 48 anos; Jane Fonda, 82 anos; Will Smith, 51 anos; Jennifer Lopez, 50 anos.

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+ Rio tem diversas estratégias para retomada do turismo pós-pandemia

Manual do usuário

Um roteiro para se sair bem nos vídeos curtos da plataforma

Nada se cria

Ninguém pode se autoproclamar dono de uma ideia. Os vídeos estão lá para ser copiados e editados.

Em rede

Além de assistir à produção dos colegas de app, é bom postar comentários, um tremendo empurrão para que outras pessoas passem a prestar atenção no seu perfil.

Paciência e verás

Diferente de um post no Instagram, que recebe boa parte das curtidas em uma só tacada, no TikTok a resposta se vê ao longo dos dias.

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Sim, hashtags

Há uma coleção delas que, àsvezes, dizem mais do que mil palavras. Exemplo: IB ou Inspired By, usada quando alguém resolve dar o crédito a outrem pela “imitação” de uma ideia.

Por dentro das gírias

Não confundir “hitar” (quando algo vira um hit, bomba) com flopar (justamente o contrário).

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