Para Thiago Lacerda
Aos 35 anos, ator se prepara para estrear nesta sexta (22), no Espaço Tom Jobim, uma montagem de Hamlet
Mais conhecido do público por seu trabalho na televisão, o ator tem desenvolvido sólida carreira no teatro. Curiosamente, seus últimos personagens no palco foram figuras de trajetória épica: em 2003, ele viveu ninguém menos que o filho de Deus na adaptação de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, do português José Saramago. Cinco anos depois, interpretou o devasso imperador romano Calígula, na peça do franco-argelino Albert Camus. Aos 35 anos, Thiago Lacerda se prepara para estrear na sexta (22), no Espaço Tom Jobim, uma montagem de Hamlet ? seguindo a linha de personagens grandiosos, ele encarna justamente o atormentado príncipe da Dinamarca. Dirigida pelo niteroiense Ron Daniels, um especialista na obra de William Shakespeare, a peça foi bem recebida em São Paulo, onde cumpriu temporada no ano passado.
Viver em sequência Jesus Cristo, Calígula e Hamlet, três personagens tão grandiosos, não dá um certo receio? Sempre tive interesse por essas figuras épicas. Mas nada disso foi planejado. Tudo aconteceu de forma natural, e eu fui embarcando. No caso de Hamlet, recebi um convite e aceitei na hora. Já tinha uma série de referências a respeito do personagem, por todos os filmes baseados na peça e montagens que havia visto no teatro. É talvez a figura mais investigada da dramaturgia ocidental, mas não fiquei com medo das comparações.
Você já se sentiu alvo de algum tipo de preconceito por ser considerado um galã da Globo e estar encenando Shakespeare? Não sei o que as pessoas pensam, mas também não fico me preocupando. A gente precisa se manter firme contra certos preconceitos, e a melhor maneira de fazer isso é tocar o barco adiante, trabalhar. Não quero provar nada para ninguém, meu compromisso é com o meu ofício. Fico feliz de pensar que muita gente que vai ao teatro atraída pela fama que conquistei na televisão talvez esteja vendo uma montagem pela primeira vez.
Que história é essa de cortar o cabelo de maneira esquisita para a peça? Foi uma ideia que tive para transmitir ao público uma certa estranheza estética. O Hamlet é um enigma. Quando esse personagem aparece, a plateia entende que há algo de errado com ele. Resolvi traduzir isso pelo cabelo. Eu mesmo o corto antes de entrar em cena.