
Criada em 1984, a dupla gaúcha é única no cenário musical brasileiro. No palco ou no estúdio, seus integrantes assumem personagens. Nico Nicolaiewsky (à esq. na foto) torna-se o Maestro Pletskaya e Hique Gomez encarna Kraunus Sang. Habitantes de um país imaginário chamado Sbornia do Sul, munidos de acordeão e violino, eles interpretam pérolas do fictício folclore sborniano, canções brasileiras e sucessos internacionais. Entre composições como Trem das Onze, de Adoniran Barbosa, e Roxanne, do trio inglês The Police, contam histórias de sua terra natal. De volta ao Rio, o Tangos e Tragédias se apresenta no Teatro Rival de quinta (30) a sábado (1º).
Vocês são muito diferentes. Como lidam com essa realidade na dupla?
Nico: Nossa diferença é um dos elementos que fazem parte da nossa dinâmica, da energia que temos juntos. Eu sou mais conciso, enquanto o Hique gosta mais da exuberância, da energia indomada.
Hique: Nós simplesmente não combinamos. E adoro isso! No palco, somos dois personagens que não se acertam realmente, trazendo à tona um conflito real que é contornado de forma original.
O final do espetáculo é a felicidade nonsense da aceitação dos opostos. Há alguma novidade no repertório?
Nico: Não trabalhamos com novidades, mas com antiguidades. Quando começamos o show, em 1984, nossas músicas já eram antigas. O Ébrio, de Vicente Celestino, e Romance de uma Caveira, de Alvarenga, Ranchinho e Chiquinho Salles, estão fixas no repertório.
Não cansa fazer o mesmo espetáculo durante 28 anos?
Nico: É um desafio, mas, quando encontro alguém que nos viu pela primeira vez na semana passada, concluo que vale a pena. Tratar os mesmos temas de maneiras diferentes, usando a voz de formas variadas, por exemplo, também ajuda.
Hique: Eu sou uma espécie de sacerdote do humor. Fazer o espetáculo é um ritual, poderia repeti-lo por mais 2 000 anos. Cada apresentação é um mistério único e espontâneo. E sessões de terapia em dupla também nos ajudaram bastante.