“Somos um grande centro de coordenação”, diz Nicola Miccione

Secretário da Casa Civil do Estado fala sobre os desafios, conquistas e o papel de articulação da pasta em projetos estratégicos para a cidade

Por Redação VEJA Rio
25 jul 2025, 07h30
Nicola Miccione, Secretário da Casa Civil do Rio de Janeiro
Nicola Miccione, Secretário da Casa Civil do Rio de Janeiro (Leo Lemos/Reprodução)
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À frente da Casa Civil desde 2020, Nicola Moreira Miccione conhece de perto os bastidores das decisões do governo estadual. Advogado formado pela Universidade Federal do Ceará, com pós-graduação em direito processual civil pela Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará e MBA em gestão empresarial pela Universidade de São Paulo, acumulou quase duas décadas de experiência no Banco do Nordeste, atuando em áreas jurídicas e na promoção de investimentos. Natural do Pará, fincou laços no Rio — onde recebeu, em 2024, os títulos de Cidadão e Benemérito do Estado pela Assembleia Legislativa. No comando da pasta, coordenou processos como a concessão do saneamento — considerado o maior projeto socioambiental em andamento na América Latina e modelo para outros estados — e o programa Pacto RJ, que reúne 17 bilhões de reais em investimentos em diferentes setores. Em entrevista a VEJA RIO, Miccione detalha o funcionamento da Casa Civil e aborda os desafios e os principais projetos acompanhados hoje pela secretaria.

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Qual é o papel da Casa Civil dentro do governo do estado? A Casa Civil funciona como um grande centro de coordenação, reunindo o corpo técnico mais qualificado e operando como a primeira linha de comando do governador. Cabe à pasta articular as ações demandadas por ele com as secretarias — que têm sua autonomia —, além de atuar junto a outros poderes, órgãos e entidades da sociedade civil. Se o governo fosse uma empresa, a Casa Civil seria como o CEO responsável por executar as diretrizes do presidente, o governador. Mais do que encaminhar demandas, acompanhamos os desdobramentos e cobramos resultados. Somos também responsáveis pela publicação do Diário Oficial, pelas nomeações e pela supervisão de estatais.

No começo de julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a aplicação de uma tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil. Qual impacto essa medida terá sobre a economia fluminense? O Rio de Janeiro é o segundo maior estado exportador para os Estados Unidos, com 7,4 bilhões de dólares em vendas no último ano, principalmente de petróleo refinado e semimanufaturados de ferro e aço. Para enfrentar os efeitos dessa medida, que deve entrar em vigor em agosto, criamos um grupo de trabalho executivo, liderado pela Casa Civil, com o apoio de secretarias estratégicas e instituições do setor produtivo. O objetivo é construir um estudo aprofundado, definir ações concretas para minimizar os impactos e proteger empregos e investimentos no estado.

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A pasta participou da retomada das obras do metrô da Gávea. Como esse processo foi conduzido? A Casa Civil passou a coordenar a retomada das obras do metrô da Gávea após uma demanda do governador, Cláudio Castro. Em articulação com a Secretaria de Transportes, a Procuradoria Geral do Estado, o Ministério Público e o Tribunal de Contas, construímos uma solução jurídica e técnica que evitou uma nova licitação e garantiu segurança para manter o consórcio anterior. O Termo de Ajustamento de Conduta [TAC] prevê investimento de 600 milhões de reais pela concessionária, 97 milhões de reais pelo governo e 300 milhões de reais de reserva. Também resolvemos a unificação das linhas, antes operadas por dois consórcios distintos, para eliminar a duplicidade de tributação, perdas operacionais e logísticas, tornando a operação mais eficiente.

O Rio foi pioneiro na concessão de saneamento após o Novo Marco Legal. O que diferencia o modelo desenvolvido pela Casa Civil e quais são os resultados até agora? O projeto atraiu cerca de 25 bilhões de reais em outorgas, a maior parte destinada aos municípios. Os recursos permitiram novos investimentos, que estão reunidos no Programa Pacto RJ [www.pacto.rj.gov.br]. A Cedae [Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro] saiu mais fortalecida, focando a produção de água com obras estruturantes, como o Novo Guandu, enquanto concessionárias assumiram a distribuição e o esgotamento sanitário. Desde então, mais de 14 000 empregos foram gerados e cerca de 13 milhões de pessoas foram beneficiadas. Ambientalmente, também temos avanços visíveis: a Lagoa Rodrigo de Freitas foi revitalizada, o Complexo Lagunar da Barra e Jacarepaguá recebeu investimentos e a Baía de Guanabara apresenta sinais concretos de recuperação, com praias balneáveis e fauna marinha retornando.

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Em 2024, o Complexo do Maracanã foi concedido ao consórcio Fla-Flu. Quais são os ganhos esperados? A nova concessão foi construída com diálogo intenso com o Tribunal de Contas, que validou uma exigência fundamental: a garantia de que o estádio seguiria priorizando o futebol. Em 2024, o consórcio Fla-Flu venceu a licitação de forma transparente. O contrato de 20 anos prevê cerca de 180 milhões de reais em investimentos no Maracanã e no Maracanãzinho, além do pagamento de outorgas fixa e variável. Ganha o estado, que moderniza um patrimônio público sem abrir mão da regulação; ganham os clubes e a população, que mantêm um estádio vivo e à altura da importância do futebol no Rio.

O governo pretende conceder o Estádio de Remo da Lagoa à iniciativa privada. Qual é a proposta dessa concessão? A ideia é transformar o Estádio de Remo, localizado dentro do complexo Lagoon, em um espaço multifuncional, com centro de convenções, eventos, gastronomia e cultura. O edital deve ser lançado entre agosto e setembro. O governo quer atrair a iniciativa privada sem limitar o uso do espaço a uma única atividade, respeitando sua localização e vocação. Com o turismo em crescimento, a revitalização da Lagoa e o projeto de revitalização do Jardim de Alah em andamento, este é o momento ideal para tornar o Estádio de Remo um novo polo de cultura, lazer e esporte no Rio.

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Com o fim do contrato atual previsto para 2027, como está o processo de decisão sobre a nova concessão ou renovação do serviço de gás canalizado no estado? Estamos avaliando, com o apoio da Fundação Getulio Vargas e da Agenersa, qual seria o melhor caminho. A decisão será baseada no valor justo da outorga e na capacidade de garantir investimentos e continuidade do serviço. A nova concessão pode injetar bilhões na economia fluminense. Como maior produtor de gás natural do país, o Rio precisa de um contrato moderno que assegure a expansão da rede com preços competitivos para indústria, comércio e residências.

O Museu da Imagem e do Som está com as obras retomadas e em andamento. Qual é a expectativa para o retorno das suas atividades? A previsão é concluir a construção do MIS até o fim de 2025 ou início de 2026, com uma abertura gradual no começo do próximo ano. O projeto está alinhado a uma das principais diretrizes do governo atual: usar recursos da concessão do saneamento para retomar obras paradas e valorizar o investimento público já realizado. O estado também tem feito um investimento histórico em cultura, aplicando mais de 200 milhões de reais anuais pela Lei de Incentivo à Cultura, além de recursos diretos para manutenção e revitalização de equipamentos. O MIS será a coroação desse esforço cultural.

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