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Rodovia que liga Paraty ao interior de São Paulo tem trecho restaurado

Projeto orçado em mais de R$ 100 milhoes foi planejado com ampla pesquisa histórica e ambiental sob a responsabilidade da UERJ

Por Pedro Moraes
Atualizado em 2 jun 2017, 12h12 - Publicado em 5 mar 2016, 01h00

Com a impaciência estampada no rosto e os braços cruzados, um grupo de operários aguarda junto a uma retroescavadeira. Próximo deles, uma arqueóloga da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) avalia, deitada no chão, um antigo calçamento de pedra ao lado da obra. A pesquisadora estuda a configuração das pedras e dos materiais em um meticuloso trabalho que promete durar algumas horas. Interpelada a respeito do tempo que precisaria para liberar a área, a especialista responde: “Pouca coisa, apenas dois dias”. Essa cena insólita, descrita entre risadas pelos operários, foi rotina no projeto de recuperação da estrada centenária que liga Paraty, no litoral fluminense, ao município de Cunha, no interior de São Paulo. Iniciada em 2012, a obra está em fase de conclusão e deve se tornar, até o fim do mês, a segunda estrada-parque do Estado do Rio — a outra fica em Visconde de Mauá, na Serra da Mantiqueira. Aberta por tropeiros no século XVII como ligação entre a região produtora de ouro em Minas Gerais e o porto fluminense, ela tinha como principal objetivo escoar a carga preciosa até os navios que a levariam para Portugal. Hoje oficialmente chamada de RJ-165, foi alvo de longas discussões entre engenheiros, biólogos, arqueólogos e historiadores até que se chegasse a uma equação que unisse fluidez viária a preservação histórica e ambiental em um trecho de 10 quilômetros que corta o Parque Nacional da Serra da Bocaina, santuário ecológico com trechos intocados de Mata Atlântica. “É uma obra desafiadora, que nos fez procurar soluções originais e se tornou um aprendizado para a construção de futuras estradas­parque”, avalia o engenheiro Josué Setta, professor da Uerj e supervisor acadêmico da gestão ambiental do projeto, responsável pelo trabalho de 55 pesquisadores de seis áreas.

Estrada Cunha-Paraty
Estrada Cunha-Paraty ()

Orçada em pouco mais de 100 milhões de reais, a restauração começou a sair do papel depois que um trecho da estrada foi completamente destruído por uma tempestade, em 2009. Na ocasião, o calçamento da década de 30, praticamente relegado ao abandono, ficou intransitável com a chuva torrencial que caiu por ali. Uma vez definido o projeto de reconstrução, a equipe do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ) embarcou em uma empreitada de alta complexidade. Em determinados trechos, na parte mais alta da serra, a aproximadamente 1 000 metros de altitude, operários e máquinas precisaram trabalhar numa faixa estreita que terminava em um precipício de mais de 200 metros. Foram criadas 26 estruturas de contenção ecologicamente corretas e levantadas duas pontes. O piso é composto de 2,5 milhões de blocos intertravados de concreto, o que garante a permeabilidade do solo e ajuda a controlar a velocidade dos veículos. O traçado segue o que já existia, evitando, dessa forma, maiores danos à vegetação. “Quando recebi o projeto para executar, virei motivo de chacota dos meus colegas. Ninguém acreditava que conseguiríamos concluí-lo, mas sinto ter realmente contribuído para as próximas gerações”, afirma, orgulhoso, o engenheiro Renato Romero, fiscal das obras do DER-RJ, responsável pela intervenção.

QUADRO AMBIENTE
QUADRO AMBIENTE ()

Com base nos estudos científicos realizados na área, os pesquisadores projetaram e construíram seis zoopassagens subterrâneas e outras quatro aéreas, os chamados bichodutos, que permitem a travessia segura dos animais. Ao todo, estudaram-se os hábitos de 427 espécies de vertebrados com o auxílio de câmeras que disparam por meio de sensores termossensíveis e de baldes-armadilha, vistoriados três vezes ao dia, para capturar pequenos animais terrestres. Com tais instrumentos, foi possível observar onças-pardas, tatus, porcos-do-mato e até espécies que se acreditava estarem extintas na região, como o roedor Blarinomys breviceps, popularmente conhecido como rato-do-mato. Ele tem a aparência semelhante à de uma pequena toupeira, em que mal se podem ver as orelhas e os olhos. “Foi uma surpresa, e o melhor foi que encontramos indivíduos em várias partes do parque”, afirma Setta. Agora, o governo do estado busca soluções tecnológicas para fiscalizar o tráfego na área florestal e encontrar a fórmula que permita a visitação e a preservação desse tesouro histórico e natural.

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