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Entendendo a diferença entre vipinho e vipão no Rock in Rio

Um passeio frustrado pela área dos ricos e famosos na Cidade do Rock

Por Leo Aversa
Atualizado em 23 set 2017, 17h46 - Publicado em 23 set 2017, 17h07
O piano branco: considerado atração (Léo Aversa/Veja Rio)
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Foto: Leo Aversa – Crédito obrigatório.
Foto: Leo Aversa – Crédito obrigatório. (Léo Aversa/Veja Rio)

A editora da revista não é uma pessoa de meias palavras

– Pare de enrolar e vá pra sala vip!

– Não estou enrolando, estou refletindo…

– Quem reflete é espelho, vá pros vips que estou mandando!

– Mas agora é o show do Ney Matogrosso com Nação Zumbi!

– Cale-se insolente! A sua obrigação é contar ao leitor como as pessoas muito importantes se divertem

A editora ainda não reconhece a reforma trabalhista. Não a do Temer, a da Princesa Isabel em 1888. Sou cruelmente obrigado a parar de jogar Candy Crush e me arrastar até a tal sala vip, para a conferir a animação esfuziante das celebridades. Enquanto Ney canta “assim assado” entro num grande salão com luz suave, enormes sofás brancos e buffet com comidinhas. Mais rock’n’roll impossível. Imagino que ao menos vou socializar com o Mick Jagger, a Gisele Bündchen, o Papa. Nada disso: parece festa de firma. A turma da contabilidade contando às gargalhadas a piada do pavê, o gerente do financeiro travestido de roqueiro decadente, a secretaria da diretoria desesperada atrás dos brindes.

Lá fora toca uma versão pesada de “sangue latino”. Aqui dentro, no salão da gente relevante, a atração é um pianista tocando versões suaves de clássicos do rock, num piano branco de dar inveja ao Richard Clayderman. A plateia vip o fotografa freneticamente, ou melhor se fotografa freneticamente, com o pianista ao fundo, afinal o Universo só existe para fazer figuração em selfie. Tenho pena dele, de mim, da humanidade. 

Decido comer para afogar as minhas mágoas, sempre funciona. Tenho à disposição uma mesa com chips de banana, batata doce e algum tubérculo que não identifico. Não é o tipo de comida que afoga mágoa, pelo contrário, faz ela se multiplicar como dona de casa no aniversário do Guanabara. A Nação Zumbi canta “Maracatu atômico” e levanta a platéia. A normal, é claro, a muito importante continua alheia, focada no piano branco e no Red Bull de graça. Não consigo entender qual o sentido de ir num festival de rock para ficar ouvindo musica de elevador. Mas como a editora da revista repete a todo momento, sou um chato metódico e cartesiano. Só não digo que é bullying por que o meu psicanalista afirma a mesma coisa. Quem quiser assistir ao show lá longe pode ficar no conforto da enorme varanda, ao invés de ficar cantando, dançando e suando no meio da multidão, como manda o manual do rock. É a mesma diferença entre ir para a cama com uma super model e assistir um filme pornô numa TV de 14 polegadas. Sou mesmo uma mala incorrigível, me conformo enquanto mais uma vez tento, inutilmente, afogar as mágoas, desta vez com dedinhos de tapioca. 

Não encontro com os tais vips. Perdi o show do Ney e da Nação e ainda vou levar esporro da editora. Volto derrotado, o que já é um clássico deste festival. A editora candidamente me explica que os vips de verdade ficam numa salinha exclusiva dentro do salão. Tem vipinho e vipão, completa

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– Então porque você não me conseguiu convite para essa salinha exclusiva?

– Se deixassem pessoas como você entrar deixaria de ser exclusiva.

 Não é uma pessoa de meias palavras.

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