O robô cirurgião
Com tecnologia desenvolvida pela agência espacial americana, chega ao Rio um aparelho capaz de realizar operações em seres humanos
Quando se fala em medicina de ponta, frequentemente os cariocas ouvem que a melhor opção é pegar a ponte aérea para São Paulo. Na capital paulista estão, entre outros, os hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein, reconhecidos centros de excelência. Aos poucos, porém, um novo panorama começa a se esboçar no Rio, fruto do investimento maciço feito por grandes grupos privados e estabelecimentos públicos. Desde o início de março, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) realiza cirurgias com o uso de um robô de última geração. Trata-se do quarto aparelho em funcionamento no país e o pioneiro por aqui. É o primeiro também disponível na rede pública, pois os demais pertencem a instituições particulares. Batizado de Da Vinci, o doutor-autômato representa um avanço em vários aspectos. Reduz quase à metade o tempo de duração das cirurgias, atua com mais precisão na área afetada e possibilita ao paciente uma recuperação mais rápida. ?Ele alcança locais de difícil acesso sem precisar fazer cortes ou com incisões mínimas?, afirma Luiz Antônio Santini, diretor-geral do Inca. A previsão é que, até o meio do ano, comece a funcionar o segundo exemplar do gênero na cidade, encomendado pelo Hospital Samaritano.
A tecnologia do Da Vinci foi desenvolvida pela Nasa. O objetivo da agência espacial americana era fabricar uma máquina que possibilitasse a execução de cirurgias a distância, caso fosse necessária uma intervenção em um astronauta. Na adaptação feita pela Intuitive Surgical, empresa que patenteou a engenhoca, o médico fica instalado num console a cerca de 3 metros do paciente, de onde controla os braços do aparelho por meio de sensores acoplados a suas mãos. Cada tentáculo do robô exerce uma função: três deles portam instrumentos, como pinça, bisturi e tesoura, e o outro leva na extremidade uma microcâmera, que fornece imagens tridimensionais. A vantagem é que as hastes são capazes de fazer movimentos de rotação completa, o que facilita a operação em regiões do corpo difíceis de alcançar.
Em um mês, o Inca já realizou nove intervenções para a retirada de tumores em partes delicadas da cabeça e do pescoço. Por enquanto, apenas três profissionais estão habilitados a manusear a máquina. Eles tiveram de fazer um curso de trinta dias nos Estados Unidos com o fabricante, que vendeu a peça ao Inca por 5 milhões de reais. O valor, em certa medida, é repassado ao paciente. Cada procedimento tem um custo 40% maior que o de numa cirurgia comum. Embora o doutor Da Vinci ainda esteja restrito a poucos, sua chegada é um tremendo avanço para a medicina carioca.