Rio tem “Tropa de Elite” para Big Data
Equipe formada por sete profissionais cruza milhares de dados para apresentar propostas e soluções para a cidade. E já contabiliza sucessos
O que têm em comum a seleção alemã e o Rio? Além do “acariocado” Podolski, o uso de Big Data (estudos que dão luz e vida a um grande volume de números e dados por meio de análises e cruzamentos inteligentes) no planejamento de suas ações. Enquanto a primeira elaborou suas vitoriosas estratégias de jogo e de comunicação por meio da análise estatística de todo o volume de referências e informações obtidas em treinamentos, jogos e até a participação e o humor dos torcedores nas redes sociais, a Prefeitura do Rio montou o Pensa – Sala de Ideias, um time de experts que busca desenhar políticas e soluções para a cidade utilizando informações geradas pelos mais de 6,3 milhões de cidadãos e os mais variados sensores. Entram aí índices obtidos pelas diversas secretarias e órgãos públicos, somados aos que chegam via câmeras de controle, GPSs, radares e canais como a central telefônica e mobile de atendimento ao público 1746, além das redes sociais – só para citar algumas das fontes que geram mais de um milhão de dados da cidade por dia.
Para formar o Pensa, uma seleção pública foi aberta e quase 200 currículos foram avaliados até se chegarem a quatro nomes, que junto a dois líderes cariocas (servidores municipais selecionados por meio de um programa de capacitação profissional de alto nível) e um coordenador trabalham juntos no Centro de Operações Rio analisando dados abertos de todas as secretarias e propondo soluções para eventuais problemas.
“O Pensa não executa projetos. Ele propõe e testa hipóteses, avalia eventuais ganhos e desenvolve, em conjunto com os demais órgãos da prefeitura, ideias que possam ser aplicadas em curto prazo e que tragam benefícios ao maior número possível de cidadãos”, explica Pablo Cerdeira, coordenador do grupo.
As primeiras conquistas já podem ser comemoradas. Ao longo do primeiro ano de atuação, o grupo apresentou mais de 15 projetos e, entre outras vitórias, ajudou a reduzir em 94% o número de casos de dengue na cidade ao identificar correlações que apontavam as regiões mais afetadas de forma rápida. O estudo foi encaminhado aos órgãos de limpeza, saúde e educação, que fizeram várias ações práticas de prevenção e de conscientização da população. “E não adianta dizer que tivemos sorte por conta do baixo índice de chuvas no verão passado, pois em algumas regiões de São Paulo choveu menos ainda e o número de casos da doença foi até maior que em anos anteriores”, explica Cerdeira.
O primeiro objeto de estudo do grupo foi o mapeamento das árvores da cidade – e a partir da informação de que elas ficam vulneráveis a partir de ventos superiores a 40km/h, passou-se a emitir um sistema de alerta para a Comlurb toda vez que chega-se nesse índice. O órgão também passou a conhecer as regiões da cidade em que há maior número de registros de queda e, de forma preventiva, intensificou o serviço de poda nos locais mais comumente afetados.
O grupo também analisou o fluxo de pessoas que se dirige a Copacabana no Réveillon e ajudou no planejamento estratégico da Secretaria de Transportes para a festa. As mesmas bases de informações também foram utilizadas com este intuito para o plano de locomoção colocado em prática durante a Copa do Mundo.
Os alagamentos também foram objeto de estudo: o Pensa cruzou desde dados históricos da cidade com informações do aplicativo Waze e de GPSs das frotas de ônibus para identificar os principais focos do problema. Os estacionamentos irregulares também ganharam a atenção da equipe, que estudou os dias, horários e locais em que mais ocorrem este tipo de infração e recomendaram para a Guarda Municipal ações preventivas nos locais. Descobriu-se que 80% dos chamados acontecem em 15% das vias, e por meio dos dados dos GPSs dos equipamentos dos guardas municipais é possível avaliar o melhor posicionamento do contingente para evitar este tipo de delito.
Entre os projetos mais recentes, estão a utilização de câmeras e radares para localização de veículos roubados, em parceria com a Secretaria Estadual de Segurança, e estudos viários para a implantação da Transcarioca. No momento, as sete mentes brilhantes do Pensa estão debruçadas sobre questões ligadas à mobilidade urbana (regiões mais engarrafadas e o prejuízo financeiro causado pelo excesso de trânsito) e os impactos causados nas mudanças de percurso de veículos por conta da derrubada da Perimetral.
QUEM FORMA O PENSA – SALA DE IDEIAS
– Pablo Cerdeira, 35
Formado em Direito pela USP, professor da FGV Rio e mestrando em Matemática Aplicada, Cerdeira deixou o cargo de subsecretário de Defesa do Consumidor da Casa Civil para gerenciar a equipe.
– Pedro Árias – 27
Formado em Geografia pela UFRJ com mestrado em Engenharia Cartográfica pelo IME) e líder carioca.
– Sergio Bastos, 53
Formado em Física pelo SESNI, mestre em Engenharia Mecânica pela COPPE e doutorando em Engenharia Industrial pela PUC, também é líder carioca.
– Marcelo Granja, 30
Engenheiro mecânico formado pela Unicamp com mestrado na Stanford University.
– Pedro Bittencourt, 27
Graduado pela PUC em Engenharia de Sistemas, mestrado em Engenharia Mecânica e doutorado em Engenharia Eletrônica pela COPPE.
– Graziella Caputo, 32
Formada em Ciências da Computação pela UFJF, tem mestrado e doutorado em Sistemas Computacionais pela COPPE.
– Ricardo Matheus, 26
Com graduação e mestrado da USP na área de administração pública e doutorando em Engenharia da Informação pela Delft/HOL.