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O Rio corre para o mar: cariocas descobrem o turismo e o lazer náutico

Em um movimento quase instintivo, atividades em águas marinhas viram opção à clausura e registram aumento histórico durante a pandemia

Por Fábio Codeço Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 15 jan 2021, 10h01 - Publicado em 15 jan 2021, 06h00

Com o novo coronavírus ainda circulando por aí e exigindo cuidados, muita gente garimpa espaços abertos no leque variado que o Rio tem a oferecer e, em um movimento quase instintivo, acaba por encontrar o mar. É cada vez mais graúda a turma que aluga barcos em busca de novos ventos na Baía de Guanabara e arredores. Esse gênero de turismo, tão comum noutras praias, como nas de Angra dos Reis e da Ilha Grande e nas bandas europeias, era pouco difundido nas fronteiras cariocas, mas aí veio a pandemia e deu uma chacoalhada no modo como as pessoas se entretêm. “Quando reinauguramos a Marina da Glória, no fim de 2016, havia basicamente os passeios de saveiro e escuna. Faltavam alternativas mais personalizadas, ao gosto do freguês”, avalia Gabriela Lobato, CEO da BR Marinas. E elas vieram junto com a necessidade por lazer ao ar livre e escapulidas da reclusão. “Pulamos de três ou quatro embarcações para as cinquenta de hoje”, calcula Gabriela.

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A imagem mostra duas pessoa num dingue, barco a vela, nas águas da Baía de Guanabara
Aulas andam disputadas no curso de vela: 50% mais alunos do que no último verão (CL Vela/Divulgação)

A bordo de lanchas, veleiros e iates, os passeios descortinam paisagens deslumbrantes que proporcionam saudável contato com a natureza distante das aglomerações. Os roteiros mais usuais duram de três a seis horas e percorrem pontos da Guanabara de onde se avistam, de pertinho, a Ilha Fiscal, praias do Rio e da região oceânica de Niterói, o arquipélago das Cagarras e as Ilhas Tijucas (esses dois últimos, aliás, destinos indicados para a prática de mergulho). O público da dolce vita aquática não só cresceu, como deu uma mudada de perfil na pandemia, segundo conta um dos pioneiros na Marina, Cassio Gurjão, da Sail in Rio. Com o turismo estrangeiro por ora freado pelo vírus, antes responsável pelo maior quinhão de sua renda, ele viu a clientela local multiplicar-se por dez — neste fim de 2020, contou 200 cariocas flutuando em suas embarcações. “Para eles, a baía era sinônimo de poluição. A maioria dos moradores da cidade nunca tinha experimentado o programa e se surpreende com as belezas com que esbarramos no caminho”, afirma Gurjão, que já presenciou até pedido de casamento em seu veleiro de 40 pés, onde se alojam até dez pessoas.

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A imagem mostra um grupo de pessoas com traje de banho e roupa de mergulho acenando para a câmera à beira da Baía de Guanabara
Um dos grupos logo depois de um passeio: Ilhas Tijucas são o destino mais buscado (Rio Boat Experience/Divulgação)

Cada grupo escolhe o próprio trajeto e assim vão se achando verdadeiras preciosidades marítimas. Um exemplo é a Praia do Morcego, uma enseada selvagem e de difícil acesso por terra que se forma ao pé de morro homônimo, em Niterói. “Gosto de ir até lá porque dá para nadar até a areia e relaxar”, conta Ivan Hermolin, da lancha Fanfa, que registrou 50% de subida na procura por passeios. “A maior parte é de cariocas que não têm viajado e que vão atrás de uma atividade para a família sem aglomeração”, confirma a tendência. Criado na Ilha da Coroa, onde mora, na Barra da Tijuca, o profissional de marketing Guilherme Braga mantém íntima relação com o mar desde pequeno. “Meu pai tinha barco, comecei a velejar e a mergulhar muito novo”, lembra ele, que transformou o hobby em renda. Proprietário de dois veleiros, Guilherme criou a Rio Boat Experience, que oferece a chance de nadar com tartarugas, observar pássaros marinhos, surfar em praias inabitadas e até praticar caça submarina. “O Rio de Janeiro é uma metrópole que permite mudar inteiramente de ares sem sair da cidade. Em cinco minutos, você pode estar imerso na natureza, sem poluição sonora nem pessoas por perto”, ressalta.

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Há fartura de exemplos em que a paisagem carioca se impõe. As saídas da Rio Boat Experience, pela manhã, passam pela Joatinga e logo se aporta nas Ilhas Tijucas, onde águas calmas e cristalinas para o banho e saltos do costão de pedra em diferentes níveis aguardam os navegantes. O aluguel (250 reais por pessoa, em média) inclui os equipamentos, como snorkel, pé de pato, coletes, arpões, roupas de borracha e flutuadores. Poucos pontos na cidade são tão aprazíveis para o mergulho — é frequente cruzar por lá com tartarugas marinhas. Quem quer um bom tour submerso ou pretende explorar vistas novas encontra no Guia de Biodiversidade Marinha e Mergulho das Ilhas do Rio uma boa referência. Lançado no ano passado pelo projeto Ilhas do Rio, mapeou a fauna e a flora marinha e terrestre da área, identificando mais de 600 espécies. Entre julho e outubro, com um pouco de sorte, é possível bater os olhos em baleias jubartes a caminho do Nordeste.

A imagem mostra a Marina da Glória com barcos ancorados
Na Marina da Glória, o número de embarcações para aluguel cresceu mais de dez vezes (Fabio Cavalcanti/Divulgação)

À medida que a procura aumenta, o mercado evolui a todo o vapor, facilitando a vida dos que acham que navegar é preciso. Há dois anos, Marcus Cabral criou o Navegue Now, aplicativo que faz a ponte entre donos de embarcações (são mais de 150 cadastrados) e interessados em alugá-las. O número de usuários dobrou de agosto a novembro do ano passado, alcançando 10 000.

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A média mensal de consultas foi a 1 200, 167% mais que no mesmo período de 2019. “O rápido crescimento em 2020 foi impulsionado pelo mercado interno e ocorre de forma gradativa, inclusive com o aumento na compra de barcos e megaiates. Não é moda passageira”, aposta Cabral, que acaba de lançar o Táxi Boat Now, um app de transporte aquático nos moldes do Uber para as regiões de Angra e Ilha Grande.

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Os números mostram que o barco foi alçado ao rol dos desejos familiares. “Nossa demanda triplicou e não estávamos preparados para aten­dê-la. Só não crescemos mais porque começou a faltar matéria-prima no mercado”, afirma Paulo Tadeu, presidente da Real Powerboats, o maior estaleiro carioca, e vice-presidente da Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e seus Implementos (Acobar). Segundo ele, a solicitação de vagas em marinas registrou avanço de mais de 10% no Rio e superior a 20% na Baía de Angra dos Reis. A onda segue animadora no comércio de barcos usados e nas escolas náuticas. Sócio da CL Vela, há duas décadas na Marina da Glória, Lula Evangelista diz que sua turma de alunos saltou para 180 em outubro, 50% mais que no mesmo mês em 2019. A disparada se deve aos cursos individuais de vela e de habilitação náutica, que dão a permissão para pilotar. “As aulas teóricas têm sido ao ar livre e vai só o aluno no veleiro, enquanto o professor fica num bote ao lado. O distanciamento é total”, explica Evangelista.

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A aventura pode se esticar em viagens de três a seis dias. Nessa modalidade, a Costa Verde reserva os melhores destinos no estado, sobretudo Ilha Grande, Angra dos Reis e Paraty. “São lugares com mares mais calmos e, por isso, dormir a bordo é confortável”, fala o expert Marcelo Pellerano, da Rio Sailing, que costuma atracar nessa rota paradisíaca. “O barco é uma casa ambulante”, resume. Partindo do Rio ou de Niterói (prepare-se para saídas às 3 da manhã), são de oito a dez horas até Ilha Grande, dependendo da intensidade do vento. Logo nas primeiras horas, a luz do crepúsculo, com o sol nascendo e lua se pondo, oferece espetáculo memorável. “A experiência me deu uma sensação de liberdade e me aproximou muito da minha família”, entusiasma-se a pedagoga Priscilla Santos, que tem feito travessias (é assim que ela já fala) acompanhada do marido e do filho de 12 anos. Pela Rio Sailing, a diária de um veleiro de 36 pés com capacidade para quatro pessoas (há dois quartos de casal, um banheiro, sala e cozinha) sai por 1 800 reais, com café da manhã e roupa de cama. Incluídos, vento no rosto e paisagens sem igual.

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