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Rio tem 5500 corpos de vítimas de violência desaparecidos, aponta MP

Documentário acompanhou mãe cujo filho morto por milícia teve restos mortais identificados, mas acabou enterrado em lugar desconhecido e está sumido há 9 anos

Por Da Redação
Atualizado em 9 out 2024, 14h53 - Publicado em 9 out 2024, 14h53
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  • DNA
    Laudos de DNA: Rio de Janeiro é o estado que mais insere esse tipo de amostra no Banco Nacional de Desaparecidos e responde por 20% dos casos em todo o Brasil. (Governo do Estado de São Paulo/Reprodução)

    Cerca de 5,5 mil corpos de vítimas de violência estão desaparecidos no estado do Rio e milhares de outros, que foram localizados, ou são enterrados como indigentes até são identificados, mas as famílias nem ficam sabendo. É o que aponta Um levantamento do Ministério Público estadual. O número de pessoas assassinadas no Rio cujos parentes desconhecem o paradeiro do corpo é uma incógnita, apesar de levantamentos nesse sentido. Mas os dados do Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (PLID) do MPRJ dão uma ideia do tamanho do problema. No banco de dados nacional do programa, hoje constam 7.276 casos de situação de desaparecimento no território fluminense que foram localizados pelas autoridades. Metade deles ainda não têm identificação (3.623). A outra metade já foi identificada pelo estado, mas as famílias ainda não foram comunicadas (3.653).

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    Os dados foram mostrados pelo RJ-TV 2, da TV Globo. Segundo o MP, entre todos os casos, 75% foram mortes violentas. Não são números fechados, porque partem de informações ainda em apuração ou de dados incompletos na origem, mas o levantamento indica que 5467 corpos decorrentes de crimes continuam desaparecidos. “O estado terá obrigação de procurar até que seja localizado, e é óbvio que investigações policiais podem chegar a um resultado que seja: ‘Olha o corpo infelizmente teve este destino’. Mas eu preciso comprovar pra família que este foi o destino daquela pessoa. Hoje nós já temos famílias ajuizando ações judiciais contra o estado processando o estado por esse processo de desaparecimento por omissão ou por negligência”, disse à Globo André Luiz Souza Cruz, gestor do PLID-MPRJ.

    Em apenas um laboratório, são emitidos até 2,5 mil laudos de DNA por ano de exames em corpos de vítimas não identificadas, análises de evidências coletadas de crimes e principalmente, a coleta de DNA de parentes de desaparecidos. O Rio de Janeiro é o estado que mais insere esse tipo de amostra no Banco Nacional de Desaparecidos e responde por 20% dos casos em todo o Brasil. Esse trabalho está a cargo do Instituto de Pesquisa e Perícia em Genética Forense da Polícia Civil (IPPGF-PC), que enfrenta os desafios da dinâmica criminal do Rio de Janeiro. “A gente está falando aqui especificamente de ocultação de cadáver. Práticas para dificultar propositalmente a identificação das vítimas. Isso faz com que o DNA seja um pouco mais acionado aqui no Rio de Janeiro”, diz Alípio Santos Rocha, diretor da IPPGF-PC.

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    Documentário aborda o problema

     

    O assunto é tema de um documentário que estreia nesta quarta (8), com debate, na mostra Novos Rumos, do Festival de Cinema do Rio. “Paradeiros” tem como fio condutor a história de uma mãe que perde o filho em uma chacina promovida pela milícia. Ela conta que que seu filho foi retido por milicianos que fechavam vias na região onde moravam e, depois, morto, por volta das 20h, com várias testemunhas. A mãe reivindicou o corpo diretamente aos criminosos. “E eles falando que ali não tinha corpo nenhum e era proibido procura. Eles não sabem o que é para uma mãe, além de não ter o filho não ter o corpo para enterrar”, diz ela. Dois meses depois, ela chegou a reconhecer num banco de imagens do IML parte do corpo do filho, encontrado na Praia da Bica, na Ilha do Governador.

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    Quando o corpo chega ao IML, parentes têm 15 dias para fazer o sepultamento. Se isso não acontece, peritos colhem o material para o DNA e a pessoa é sepultada como não-identificada. Quatro meses depois, quando o resultado do exame de DNA confirmou a identidade do filho da personagem do filme, ja era tarde. As autoridades não souberam dizer onde estava o rapaz. “Perderam alguma papelada lá nunca souberam dizer onde que meu filho foi enterrado”, lamenta ela, que, após 9 anos, ainda não encontrou o corpo.

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    “Essa mãe, assim como tantas outras mães no Rio de Janeiro, ela perde o filho duas vezes. O filho dela desaparece duas vezes: uma vez nas mãos da milicia e outra nas mãos do estado, que perde os registros de onde o filho dela está enterrado. Então, a gente faz uma busca através da rota que ela percorreu nas instituições estatais pra tentar entender por que isso aconteceu”, disse a diretora do filme, Rita Piffer, à Globo.

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