Tempestades acentuam a queda de árvores; mas a culpa não é só do tempo

A poda drástica, a compactação do solo e os canteiros cercados por muros ou cimentados são outras principais causas

Por Renata Magalhães
Atualizado em 25 abr 2025, 15h10 - Publicado em 25 abr 2025, 08h00
queda de árvores
16 de abril de 2025: a Rua Almirante Haddock de Sá, em Ipanema, interditada após forte ventania  (Centro de Operações Rio/Divulgação)
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O vídeo da queda de uma gigantesca árvore no Largo dos Leões, próximo à Cobal do Humaitá, na Zona Sul, durante uma forte chuva no fim do ano, viralizou nas redes. A cena foi impressionante: arrancada pela raiz, ela foi ao chão, destruindo de imediato a grade que cercava a praça, bem como brinquedos e bancos, enquanto parte dos galhos ficaram sobre o asfalto, fechando o trânsito. Este foi apenas um de mais de oitocentos casos registrados na cidade em 2024, segundo dados da Comlurb, o órgão responsável pelo manejo das árvores em áreas públicas.

A crise ambiental vem intensificando episódios climáticos, o que traz cada vez mais temporais e ventos além dos 100 quilômetros por hora – mas a culpa pelo triste fim de troncos e copas não é só do mau tempo, não. São vários os fatores que contribuem para episódios como este, desde falta de planejamento no plantio até escassez de manutenção. “A espécie que predomina naquela região do Humaitá tem crescimento acelerado, daí ganha altura muito rápido, e há defeitos em sua formação, o que ajuda a explicar as estruturas mais frágeis”, afirma Renato Rodrigues, diretor de serviços urbanos da Comlurb.

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Até 2008, a responsabilidade pelo manejo das verdejantes espécies era da Fundação Parques e Jardins, ligada à prefeitura, que passou a cuidar apenas de planejamento, plantio e reflorestamento. Quando a Comlurb assumiu, os recursos para a manutenção das áreas verdes eram limitados e, durante mais de uma década, as vistorias e podas ficaram prejudicadas. O cenário começou a mudar em 2021, quando a atual gestão investiu 78 milhões de reais em novos equipamentos de corte, frota de veículos, parque de máquinas, materiais de segurança e equipe especializada.

Atualmente, a companhia garante conseguir atender 90% das solicitações de avaliação de risco e remoção, mas há obstáculos no caminho da prevenção. “A presença de estacionamentos junto ao meio fio, com os carros embaixo dos galhos, e a resistência de moradores são algumas delas. Ainda temos um embate constante com a Light, que faz a poda para mexer em linhas energizadas sem a presença de um técnico ou engenheiro florestal”, conta Rodrigues, alertando para os riscos da falta de supervisão.

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A chamada poda drástica – que reduz mais de 30% do volume da copa de uma árvore ou arbusto – é apontada como uma das principais causas de queda das árvores no Rio, bem como a compactação do solo, para diminuir os volumes das raízes na calçada, e os canteiros cercados por muros ou cimentados, que tornam a base impermeável, impedindo a entrada de água, ar e nutrientes no solo. “Essa poda mexe na estrutura primária de crescimento e gera brotos muito frágeis, que podem sucumbir até mesmo ao peso da água da chuva”, diz o biólogo Leandro Lima, um dos responsáveis pelo Fórum Municipal de Arborização do Rio de Janeiro, que envolve entidades diversas com o objetivo de informar e conscientizar, promovendo debates junto à população.

Também lançaram uma carta-compromisso com demandas para o poder público – dentre elas, novos concursos para aumentar e treinar o contingente de funcionários da Comlurb e a criação de uma trilha eficaz de denúncia para podagens irregulares. “Precisamos repensar a forma como cuidamos das árvores urbanas, essenciais para o equilíbrio ambiental, a qualidade do ar e o bem-estar”, alerta Leandro.

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queda de árvores
(Freepik/Reprodução)

Entre os campeões em pedidos de avaliação de riscos e remoção na cidade estão Campo Grande e Tijuca. O trabalho na Zona Norte acaba sendo mais eficiente: as equipes conseguem fazer o trabalho em cerca de oito árvores por dia – número que cai para três ou quatro na Zona Sul, em razão, sobretudo, dos estacionamentos de meio fio. Não à toa, em 12 de março, após uma chuva prevista para todo o mês despencar em uma só noite em bairros como Urca e Copacabana, quinze árvores tombaram, afetando a vida em volta.

“Ficamos sem luz o dia seguinte inteiro e tivemos que encerrar nossas atividades na hora do almoço, mandando de volta para casa mais de cem crianças”, conta Amanda Machado, coordenadora da creche e escola Curiosa Idade, em Laranjeiras, onde ocorreu uma das quedas. Felizmente, ninguém se machucou. Mas não é sempre assim. Em setembro passado, um adolescente foi atingido no bairro enquanto andava de bicicleta e levado ao Hospital Miguel Couto em estado grave.

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Diante das repetidas ondas de calor que vem fazendo da cidade uma estufa, o problema tende a se tornar ainda mais recorrente se nada for feito. Além de reforçar a manutenção, especialistas afirmam ser
necessário também ampliar as áreas verdes, no lugar de eliminá–las, como sugere uma turma desinformada. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana calcula que o Rio tem déficit de aproximadamente um milhão de árvores, sendo as zonas Norte e Oeste as mais afetadas.

Acaba que isso produz uma diferença de até onze graus entre bairros mais ou menos arborizados, como o abafado Cordovil, na Zona Norte, e o mais ameno Jardim Botânico, na Zona Sul. Estão em curso projetos de reflorestamento como o Corredores Verdes, parceria entre a Fundação Parques e Jardins e a secretaria municipal de Meio Ambiente e Clima. “O primeiro foi implantado em 2024, em Irajá, que alcança temperaturas acima de 42 graus e integra a lista de ilhas de calor da cidade. Foram 22 quilômetros de arborização ali”, diz o presidente Ricardo Pinheiro, que replicou a bem-vinda iniciativa em Guaratiba e Bangu. Que venha mais verde por aí.

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