Protestos na Alerj causam prejuízos aos comerciantes do Centro

As perdas chegam a 30%, em um momento já atingido pela crise econômica

Por Pedro Moraes
Atualizado em 2 jun 2017, 11h52 - Publicado em 2 dez 2016, 17h36
Protesto Alerj
Protestos na Alerj: uma rotina (Selmy Yassuda/Veja Rio)
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Anunciado como um plano emergencial para conter a grave crise financeira do estado, o pacote de austeridade proposto pelo governo tem tumultuado a rotina da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), seja dentro do plenário, seja do lado de fora do prédio, com os protestos que pipocam nas ruas. O edifício em estilo eclético erguido em 1926 virou o epicentro para onde convergem os manifestantes e a polícia, uma rotina que, não raro, acaba em embates e muita confusão. Trata‑se de um cenário que mudou drasticamente a rotina dos cariocas que transitam e trabalham por ali e tem provocado sérios prejuízos aos comerciantes da região. O movimento, que já vinha claudicante por causa das intermináveis obras de reurbanização do Centro e da crise econômica, piorou com as manifestações que acontecem desde o início do mês. Os restaurantes estão vazios e os lojistas registram 30% de perda, isso quando não precisam baixar as portas de vez. A batalha entre os servidores e a polícia no dia 8, por exemplo, terminou dentro do restaurante Crystal, na Rua Primeiro de Março. Uma multidão invadiu o local e o tumulto deixou uma manifestante ferida. “Além de uma mulher ter saído com o braço quebrado, destruíram mesas”, reclama o proprietário Antonio Safi. “Os deputados almoçam sempre na casa, mas, quando acontece esse tipo de confusão, ninguém se responsabiliza. O prejuízo é todo nosso”, reclama.

Protesto Centro
Protesto Centro ()

Apesar de os protestos afetarem boa parte do entorno da Rua Primeiro de Março, os lojistas instalados na Rua São José têm motivos a mais para reclamar. Ali, uma loja franqueada de uma marca de bolos, que numa sexta-feira costumava comercializar 600 unidades, agora não chega a vender 350. “Esta era uma época em que o movimento deveria estar melhorando, com a proximidade do Natal. Tenho três lojas que dependem do fluxo das pessoas na calçada. Já não sei o que fazer”, relata o comerciante Rodrigo Barbosa. O fechamento com grades do Palácio Tiradentes impede a passagem de pedestres que vêm da Praça Quinze. Nesse perímetro, duas lanchonetes e um bar, vizinhos ao prédio da Alerj, enfrentam as piores perdas. A queda nas vendas dos estabelecimentos já bate em 80% e a entrega de produtos está prejudicada. A pastelaria Art Café, que passou por uma reforma de mais de 200 000 reais a reboque do projeto de urbanização da área, abre suas portas diariamente, mas não expõe os produtos no balcão. “Estamos tentando apostar nas entregas e os dezesseis funcionários vêm trabalhar diariamente. Mas precisamos de uma solução, pois a demanda não justifica essa estrutura. Se a rua permanecer fechada, ficará difícil manter as pessoas”, afirma o supervisor Alexandre Guy.

Protesto Centro
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Os impactos dos protestos na região não chegam a ser uma novidade. Em junho de 2013, os empresários com negócios por lá já haviam acumulado prejuízos, como é o caso do restaurante Ao Vivo, que fica em frente à Alerj. Na época, a casa teve parte de suas instalações destruídas e foram roubados o estoque de bebidas e os televisores instalados nas paredes. “Agora, ficamos preparados para fechar tudo. Já fomos obrigados a pedir que os clientes fossem embora. Como a casa é grande, mesmo com agilidade, levamos cerca de meia hora para baixar as portas no meio de um protesto”, explica Mônica Pereira, uma das sócias. O Sindicato dos Bares e Restaurantes estuda uma ação jurídica coletiva para repor as perdas dos estabelecimentos que tiveram danos ao patrimônio. Além de atentar para os problemas no movimento de clientes, a entidade demonstra preocupação com o projeto em votação na casa legislativa. “Haverá aumento de imposto sobre a energia e as bebidas frias, e até já se cogitou mexer na alíquota do setor. Somos os maiores empregadores da cidade, mas nossa arrecadação não tem vocação para ser expressiva. É preciso sensibilidade”, afirma Pedro de Lamare, presidente do SindRio.

A agenda da Alerj sobre o pacote de austeridade deverá se alongar até o fim do ano. Até lá o esquema de segurança e os protestos devem prosseguir. Procurada, a Alerj declarou em nota que “a Secretaria de Segurança e o comando da Polícia Militar solicitaram o reforço no policiamento e a colocação de cercas ao redor do Palácio”. Enquanto os vizinhos barulhentos não resolvem suas questões, cabe aos comerciantes apelar para a criatividade e ter paciência até o cerco acabar.

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