Protestos na Alerj causam prejuízos aos comerciantes do Centro
As perdas chegam a 30%, em um momento já atingido pela crise econômica
Anunciado como um plano emergencial para conter a grave crise financeira do estado, o pacote de austeridade proposto pelo governo tem tumultuado a rotina da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), seja dentro do plenário, seja do lado de fora do prédio, com os protestos que pipocam nas ruas. O edifício em estilo eclético erguido em 1926 virou o epicentro para onde convergem os manifestantes e a polícia, uma rotina que, não raro, acaba em embates e muita confusão. Trata‑se de um cenário que mudou drasticamente a rotina dos cariocas que transitam e trabalham por ali e tem provocado sérios prejuízos aos comerciantes da região. O movimento, que já vinha claudicante por causa das intermináveis obras de reurbanização do Centro e da crise econômica, piorou com as manifestações que acontecem desde o início do mês. Os restaurantes estão vazios e os lojistas registram 30% de perda, isso quando não precisam baixar as portas de vez. A batalha entre os servidores e a polícia no dia 8, por exemplo, terminou dentro do restaurante Crystal, na Rua Primeiro de Março. Uma multidão invadiu o local e o tumulto deixou uma manifestante ferida. “Além de uma mulher ter saído com o braço quebrado, destruíram mesas”, reclama o proprietário Antonio Safi. “Os deputados almoçam sempre na casa, mas, quando acontece esse tipo de confusão, ninguém se responsabiliza. O prejuízo é todo nosso”, reclama.
Apesar de os protestos afetarem boa parte do entorno da Rua Primeiro de Março, os lojistas instalados na Rua São José têm motivos a mais para reclamar. Ali, uma loja franqueada de uma marca de bolos, que numa sexta-feira costumava comercializar 600 unidades, agora não chega a vender 350. “Esta era uma época em que o movimento deveria estar melhorando, com a proximidade do Natal. Tenho três lojas que dependem do fluxo das pessoas na calçada. Já não sei o que fazer”, relata o comerciante Rodrigo Barbosa. O fechamento com grades do Palácio Tiradentes impede a passagem de pedestres que vêm da Praça Quinze. Nesse perímetro, duas lanchonetes e um bar, vizinhos ao prédio da Alerj, enfrentam as piores perdas. A queda nas vendas dos estabelecimentos já bate em 80% e a entrega de produtos está prejudicada. A pastelaria Art Café, que passou por uma reforma de mais de 200 000 reais a reboque do projeto de urbanização da área, abre suas portas diariamente, mas não expõe os produtos no balcão. “Estamos tentando apostar nas entregas e os dezesseis funcionários vêm trabalhar diariamente. Mas precisamos de uma solução, pois a demanda não justifica essa estrutura. Se a rua permanecer fechada, ficará difícil manter as pessoas”, afirma o supervisor Alexandre Guy.
Os impactos dos protestos na região não chegam a ser uma novidade. Em junho de 2013, os empresários com negócios por lá já haviam acumulado prejuízos, como é o caso do restaurante Ao Vivo, que fica em frente à Alerj. Na época, a casa teve parte de suas instalações destruídas e foram roubados o estoque de bebidas e os televisores instalados nas paredes. “Agora, ficamos preparados para fechar tudo. Já fomos obrigados a pedir que os clientes fossem embora. Como a casa é grande, mesmo com agilidade, levamos cerca de meia hora para baixar as portas no meio de um protesto”, explica Mônica Pereira, uma das sócias. O Sindicato dos Bares e Restaurantes estuda uma ação jurídica coletiva para repor as perdas dos estabelecimentos que tiveram danos ao patrimônio. Além de atentar para os problemas no movimento de clientes, a entidade demonstra preocupação com o projeto em votação na casa legislativa. “Haverá aumento de imposto sobre a energia e as bebidas frias, e até já se cogitou mexer na alíquota do setor. Somos os maiores empregadores da cidade, mas nossa arrecadação não tem vocação para ser expressiva. É preciso sensibilidade”, afirma Pedro de Lamare, presidente do SindRio.
A agenda da Alerj sobre o pacote de austeridade deverá se alongar até o fim do ano. Até lá o esquema de segurança e os protestos devem prosseguir. Procurada, a Alerj declarou em nota que “a Secretaria de Segurança e o comando da Polícia Militar solicitaram o reforço no policiamento e a colocação de cercas ao redor do Palácio”. Enquanto os vizinhos barulhentos não resolvem suas questões, cabe aos comerciantes apelar para a criatividade e ter paciência até o cerco acabar.