A poderosa das festas
Dos camarotes do Rock in Rio aos eventos mais badalados da cidade, Carol Sampaio brilha como a rainha das noites cariocas
Ela não anda, ela desfila. Ela é top, capa de revista.” E foi desfilando em cima de um tremendo salto alto, como canta o funkeiro MC Bola, que Carol Sampaio atravessou a multidão que se aglomerava na quadra da escola de samba Acadêmicos da Rocinha na sexta (14). Na outra ponta do galpão, ela era aguardada pela atriz Bruna Marquezine, que chegou de surpresa ao Baile da Favorita, criado por Carol para unir o mundo do funk ao das patricinhas da Zona Sul e de jovens estrelas da TV. Assediada por fotógrafos e por uma horda de fãs, Bruna esperava com duas amigas a entrada da dona da balada com as pulseirinhas que lhes assegurariam o acesso ao camarote vip do 2º andar. Uma vez lá, a ex de Neymar se esbaldou até a madrugada com os shows dos MCs Buchecha e Leozinho e do grupo Os Leleks. Desconhecida do grande público, mas íntima dos famosos, Carol leva a vida assim: correndo de um lado para o outro para satisfazer às celebridades da vez, paparicando as que vão brilhar em breve e garantindo que as engrenagens que movem os bastidores das grandes festas funcionem com perfeição. “Adoro o que faço, mas essa não é uma rotina para qualquer um”, explica ela, com sua voz grossa característica, uma de suas marcas registradas. “Desde os meus 20 anos passo a minha noite de réveillon servindo champanhe para ator.”
Prestes a completar 31 anos, no dia 14 de março, Ana Carolina Sampaio Pinheiro é hoje o nome mais influente da noite carioca. Flamenguista fanática (tem uma tatuagem com o escudo do time no pulso), é ela quem monta as listas vips mais estelares da cidade. Entre seus trabalhos, só para citar alguns, já organizou o vaivém de celebridades nas apresentações dos astros Joss Stone, Justin Bieber, Lady Gaga, Jack Johnson e em eventos como o Athina Onassis Horse Show e o Rock in Rio. Para ela, os dias que antecedem o Carnaval são os mais agitados do ano. Além de convidar famosos para o camarote mais concorrido do Sambódromo, o da cervejaria Brahma, Carol ainda cuida da organização da ala de artistas da Acadêmicos do Grande Rio, da festa Sapucapeta e de um bloco derivado do seu baile funk, o da Favorita, que no ano passado levou 30 000 pessoas à orla de São Conrado e teve como madrinha a atriz Juliana Paes. “A Carol é uma relações-públicas nata. Se você a deixar em um lugar onde não conhece ninguém, em uma semana ela já vira a pessoa mais popular dali”, elogia José Victor Oliva, diretor-geral do Banco de Eventos, empresa que produz o Camarote da Brahma.
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O talento de um promoter basicamente se mede pela sua capacidade de juntar gente famosa e interessante no mesmo local. Segundo esse critério, Carol é uma profissional extremamente bem-sucedida. Sua agenda tem 45?000 endereços eletrônicos e cerca de 10?000 contatos completos com informações como telefone, endereço e CEP. Mais do que possuir um banco de dados recheado de nomes vistosos, ela tem a capacidade de arregimentar astros e estrelas em qualquer situação. Convidar personalidades para acontecimentos como a pista vip do Cirque du Soleil é simples: todo mundo quer ir. O difícil é levar alguém para onde ninguém tem a menor vontade de dar as caras. Tome-se como exemplo a ação promocional de uma marca de panetones chiques, coordenada por Carol no fim de 2012 em um supermercado do Jardim Botânico. Como a empresa não quis pagar cachê, os raros famosos que apareciam pegavam os brindes e iam embora sem sequer tirar uma foto para o Facebook dos clientes. Ela decidiu apelar então para o amigo Ricardo Pereira, o Fabrício da novela Joia Rara, que mora ali ao lado. O ator não só concordou em ir como fez a festa das senhorinhas no meio das gôndolas.
Se do ponto de vista das empresas a relação com os promotores de eventos é balizada por orçamentos rígidos e contratos de cláusulas pétreas, o mesmo não ocorre na outra ponta. O trato entre esses profissionais e os artistas é estritamente pessoal e baseado em um delicado equilíbrio de interesses e favores mútuos. Os mais espertos desenvolvem uma complexa rede de contatos que inclui grifes, hotéis e restaurantes, entre outros. Assim, ao conseguir para um figurão das novelas hospedagem gratuita em uma pousada luxuosa de Búzios ou um pacote de cosméticos de primeiríssima linha para aquela atriz que despontou na última minissérie, por exemplo, ela reforça laços que garantirão a presença da futura ou atual estrela em uma festa. “Isso não significa que consigo tudo o que me pedem. Às vezes não dá mesmo para encaixar alguém em um espaço exclusivo”, explica. Ela prefere não dar nomes nem entra em detalhes como esse jogo funciona. Mas um episódio apurado por VEJA RIO demonstra tal mecânica. No Carnaval de 2012, o ator José Loreto, então desconhecido, ficou de fora da lista aprovada pela Brahma para o camarote, apesar de seu nome ter sido sugerido pela promoter. Graças à sua influência, a moça arrumou outro lugar para ele na avenida. No ano seguinte, consagrado como Darkson, de Avenida Brasil, o bonitão foi convidado com status de estrela de primeira grandeza pela cervejaria. Aceitou de bom grado o favor prestado pela amiga no ano anterior.
Com uma equipe de oito auxiliares instalada em um escritório de Ipanema, Carol Sampaio controla uma empresa que nos meses bons chega a faturar 100?000 reais por mês (nos mais modestos a cifra fica em 50?000). Para sustentar suas atividades, mantém gastos que assustam. Só as contas de celulares consomem 8?000 reais. A acelerada vida noturna exige pesados investimentos e cuidados com a aparência. Só de batons da marca canadense MAC, ela tem em casa 28 unidades, sem contar as dezenas de potes de cremes e cosméticos importados. Seu closet guarda mais de 400 vestidos, 150 pares de sapatos de grifes variadas e catorze bolsas das marcas Chanel e Prada. Há três anos ela não tira férias, mas quando consegue uma brecha na agenda viaja em grande estilo, hospedando-se sempre na casa de amigos, como o lateral-esquerdo André Santos, na Turquia, e a modelo Ellen Jabour, em Paris. Atualmente, namora o jogador de futebol Rodrigo Alvim, que teve passagem pelo Flamengo e hoje está sem clube. “Mas casar só depois da Olimpíada. Até lá tem muito trabalho”, explica.
Sob o verniz de glamour, o mundo da badalação e dos coquetéis apresenta uma série de percalços para aqueles que são os responsáveis por fazer a máquina girar. Há cinco anos, a dama da noite no Rio protagonizou uma saia justa ao organizar uma festa em um casarão no Joá para o dono de uma famosa marca de sapatos carioca. Trabalhando em estreito contato com a filha dele, convidou uma atriz veterana das novelas, que aceitou prontamente. No dia da celebração, ao ver a lista, o empresário disse que detestava a tal atriz e mandou Carol desconvidá-la. Sem saber o que fazer, ela recorreu à filha, que contemporizou e disse que acalmaria os ânimos do pai. Assim que avistou a celebridade na pista de dança, o anfitrião ficou possesso e desligou o som, deixando atônitos os 450 convidados. A solução foi espalhar à boca miúda que os vizinhos haviam reclamado do barulho e ir encerrando aos poucos a comemoração. Além de perrengues frequentes com os clientes, os promoters precisam ter casca grossa para viver em uma atmosfera de profunda ciumeira. Entre seus colegas de profissão, Carol acumula pelo menos dois desafetos. A primeira é Isabela Menezes, a quem substituiu no camarote da Brahma e no Lounge da Oi, no Fashion Rio. Procurada pela reportagem, Isabela se limitou a dar um cutucão na concorrente: “Ela é popular, eu sou elite”. O outro é Diógenes Queiroz. Ex-funcionário dela, os dois tiveram um desentendimento quando, em uma entrevista, ele a criticou. Contatado, Diógenes não quis falar sobre o assunto.
Em um território competitivo como o da promoção de eventos é preciso ter personalidade forte e tino para os negócios para se destacar. Isso Carol tem de sobra. Filha de pais separados, ela sempre se espelhou na mãe, Marly Sampaio, ex-empresária do ramo da noite e dona de casas no estilo piano-bar que ganharam fama na cidade, como o Park?s, em São Conrado, e o Rhapsody, na Lagoa. Desde criança convivia com luminares do mundo do entretenimento, entre eles Boni, Ricardo Amaral e Ari de Carvalho. Seu primeiro trabalho surgiu por acaso, aos 16 anos, quando uma prima que trabalhava na área de marketing da Tommy Hilfiger a convidou para levar uns amigos à inauguração da loja que abriria no Rio Sul. Já de primeira, ela emplacou 150 pessoas e em meio a elas famosos como a atriz Fernanda Rodrigues, o ator Thierry Figueira e o goleiro Júlio César. Foi um sucesso. Em troca ela recebeu um ano de roupas grátis da grife. “Tenho muito orgulho dela. Minha única frustração foi ela não ter terminado a faculdade de direito, mas não teve jeito”, diz Marly.
O Rio é uma cidade com vocação incontestável para festas e eventos abarrotados de celebridades. Tal traço sempre fez parte da atmosfera carioca, desde os tempos do Império, passando pela antiga capital federal. Nesse cenário, a figura do promoter que organiza comemorações em grande escala é relativamente nova. Até o início dos anos 1990, normalmente o papel de organizador de eventos era exercido pelos donos de boates, bares e restaurantes que convidavam amigos famosos para animar as noitadas. Eventualmente, os estabelecimentos mais profissionalizados contratavam um relações-públicas para ajudar o proprietário na tarefa. Foi assim, por exemplo, que o rei da noite Ricardo Amaral fez a fama de seu Hippopotamus, em Ipanema, durante os seus 31 anos de existência. “Os promoters daquele tempo não ficavam pulando de galho em galho”, dispara o empresário. Com a proliferação das festas e das celebridades, o panorama hoje é bem menos romântico. A noite tornou-se o território onde uma nova geração de jovens criativos, competitivos e despachados, tendo Carol Sampaio à frente, vai construindo o seu reinado.