Projeto promove replantio do leito do Rio Guandu
Começam a sair de um viveiro em Magé as plantas que vão reflorestar a Mata Atlântica e proteger nossos rios. E o mais curioso é que são presos que tocam o projeto
O que quaresmeiras, suinãs e embaúbas têm a ver com a água que consumimos e bebemos diariamente? Tudo, ainda mais nestes tempos de crise hídrica no Sudeste. Trata-se de plantas típicas da Mata Atlântica que, a partir de pequenas mudas (dessas três e de outras 147 espécies), vêm sendo cultivadas, desde junho do ano passado, num enorme terreno em Magé, na Baixada. O objetivo é, depois de crescidas, transportá-las para o entorno de rios de todo o estado, dando mais vida às suas margens e garantindo, assim, a qualidade da água. No fim de 2014, os primeiros exemplares foram plantados em volta do Guandu, em Seropédica. Logo depois, foi a vez de o Rio Macacu, na cidade de Cachoeiras de Macacu, receber o reforço verde. Hoje as mudinhas já estão virando árvores, e agora alguns riachos urbanos serão contemplados. O projeto, da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), segue firme, mas no início foi alvo de piadas apenas por um motivo: seria tocado por detentos. “Fui chamado de maluco”, conta o técnico em saneamento Alcione Duarte, coordenador do Replantando Vida.
O nome do maior viveiro do projeto, com 300 000 metros quadrados, é Dorothy Stang, uma homenagem à missionária americana assassinada na Amazônia em 2005. Fica dentro do Presídio Estadual Marco Aurélio Vergas Tavares de Mattos. Ali, 180 homens, a maioria deles em processo de fim de pena, trabalham das 7 da manhã às 4 da tarde cuidando do “jardim”. Eles foram treinados por professores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e há uma contrapartida: a cada três dias de labuta, descontam-se 24 horas do tempo total da sentença. A concorrência é grande, e só os condenados de bom comportamento são chamados a contribuir com o projeto. A Cedae quer acelerar o ritmo da plantação e para isso está reivindicando a participação de mais 150 trabalhadores, também oriundos do sistema prisional. Se eles vierem, a meta será atingir, daqui a um ano, o cultivo de mais 1 milhão de plantas.
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A quantidade, sem dúvida respeitosa, na verdade é uma gota d’água perto do oceano de problemas que envolvem as bacias hidrográficas fluminenses. Segundo cálculos do professor Paulo Leles, do Instituto de Florestas da própria UFRRJ, seria necessário, a cada ano, o plantio de cerca de 20 milhões de mudas, isso para dar início a um processo de restauração da mata apenas na área do Paraíba do Sul, o rio mais caudaloso e mais importante para o abastecimento dos fluminenses. Nesse ritmo, contando com mais quinze viveiros como o de Magé, seriam quarenta anos de atuação — mas os primeiros resultados viriam em vinte anos, a metade do tempo. “Tão importante quanto reflorestar é acompanhar o crescimento das mudas até que a natureza passe a domar o sistema”, diz Leles.
Reflorestar a Mata Atlântica para preservar a qualidade da água não é preocupação recente. O precursor do tema foi dom Pedro II, que em 1862 determinou que o major Manoel Archer, com mão de obra escrava, iniciasse um processo de readequação do Maciço da Tijuca. Grandes plantações de café viram-se dizimadas, árvores foram replantadas ali e animais vieram de outros estados, justamente trazidos para compor um novo padrão de meio ambiente, o que fez nascer uma das maiores florestas urbanas do mundo. Assim, água na capital não faltou.
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Hoje, além da empreitada da Cedae, há outras iniciativas que visam à proteção dos rios. Uma delas tem como foco as nascentes de cada córrego, onde, afinal, tudo começa — para o bem ou para o mal. Trata-se da campanha Água Limpa, do programa Rio Rural, da Secretaria Estadual de Agricultura. Acaba de ser alcançada a marca de 1 800 nascentes identificadas no estado e que já receberam ações de conservação. O objetivo é chegar, em 2016, a 2016 nascentes revigoradas — e essa brincadeira com os números do ano dos Jogos Olímpicos virou meta a ser cumprida.
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É um projeto que depende da parceria dos produtores. Com recursos do Banco Mundial, eles recebem uma verba que parte dos 7 000 reais e, apoiados por técnicos, cercam áreas onde os rios nascem, replantam as redondezas e afastam os animais. “Queremos que os agricultores adotem novas práticas sustentáveis”, afirma o agrônomo Marcelo Costa, um dos coordenadores do Rio Rural, contando que é no noroeste do estado, em municípios como Campos, Cardoso Moreira e Natividade, que a adesão tem sido maior. A cidade campeã é Santa Maria Madalena, com 122 nascentes revitalizadas. ■