Prefeitura fecha Campo de Santana para gravações da Record
Equipe de "Apocalipse" ocupou quase toda a área verde e liberou apenas um trecho exíguo para circulação no parque próximo à Central do Brasil e ao Saara
Em tempos em que as contenções orçamentárias e verbas restritas de patrocinadores tem promovido um aperto nos orçamentos das produções para a TV, até mesmo aquelas de proporções bíblicas, a equipe da novela Apocalipse, da Record, tem aproveitado o como nunca o cenário exuberante do Rio para enfeitar suas externas.
Neste fim de semana, a produção ocupou praticamente toda a área da Praça da República, gerida pela Fundação Parques e Jardins da Prefeitura do Rio, extensa área verde no Centro conhecida como Campo de Santana. No sábado (4), o portão lateral, próximo ao hospital Souza Aguiar, que normalmente fica aberto todo o dia, era acessível somente a caminhões e pessoas autorizadas pela produção da emissora pertencente à Igreja Universal do Reino de Deus, à qual o prefeito Marcelo Crivella é ligado. Um operador de tráfego que trabalha para o município – cerca de uma dezena foram destacados para o serviço – informou que a interdição seria mantida até 17h. Os portões da Presidente Vargas e o da Saara estavam abertos, mas o público só podia circular por uma pequena área delimitada junto à extremidade do parque, demarcada por faixas de interdição.
Filmagens de grandes proporções exigem autorização da Prefeitura e precisam ser realizadas por meio da plataforma Rio Ainda Mais Fácil. Todos os trâmites burocráticos para a liberação da área e o pagamento de taxas, assegurou a VEJA RIO o presidente da Fundação Parques e Jardins, Roberto Rodrigues de Oliveira, estão em dia. Ele no entanto não forneceu maiores detalhes sobre a interdição. O subprefeito do Centro, Marcelo Rottemberg, ao ser procurado, disse que não tinha informações sobre a gravação. “O Campo de Santana é da Fundação Parques e Jardins”, alegou.
Servidores habituados a lidar com autorização de eventos em áreas públicas estranharam o fechamento de um dos portões de acesso e a dimensão da restrição. “A cidade está sendo entregue à Igreja Universal”, reclamou o morador João Luiz Costa, que costuma se exercitar na área. A interdição acontece em momento de tensão entre Crivella e os produtores culturais da Cidade que se queixam da dificuldade para conseguir autorizações para utilização de áreas públicas da cidade para realização de eventos e da repressão oficial.
Muito utilizada por moradores do Centro que buscam uma área para se exercitar e por trabalhadores, que cruzam o parque público para chegar até o Saara ou à Central do Brasil, o parque público reverencia a República, proclamada nos seus arredores há quase 130 anos. Com paisagismo assinado pelo francês Auguste Glaziou, a Praça da República reúne obras de grande valor artístico e bens tombados. Em setembro, a Prefeitura foi notificada pelo Ministério Público Federal por ter sido conivente com a pichação e a depredação de um bem tombado, o Paço Imperial, por ocasião de evento realizado em espaço público.
Segundo Roberto Rodrigues Oliveira, que assumiu a presidência da Fundação Parques e Jardins, na recente reforma de secretariado anunciada em no mês passado, esta foi a segunda e última etapa da gravação de Apocalipse autorizada pela licença vigente.
Nota-resposta da RioFilme (atualização em 5 de novembro):