Pó branco em calçadas da Zona Sul pode ser para demarcação de caminhadas
Grupo Hash House Harriers, criado na Malásia em 1932 e que faz suas atividades desde 2001 na cidade, costuma usar farinha e giz para orientar trajetos
O suposto veneno em forma de pó branco que estaria sendo espalhado por ruas da Zona Sul do Rio, e que anda deixando tutores de cães apreensivos, pode não passar de um inocente rastro de … farinha. A pista vem do engenheiro Marcelo de Andrade, que atribui a um grupo de caminhada urbana as marcas vistas por pessoas que, desde a semana passada, responsabilizam um casal flagrado por câmeras de segurança andando por uma calçada e deixando algo não identificado em canteiros nas calçadas por estar supostamente envenenando animais. “Acredito que deve estar acontecendo algum equívoco. Pois trata-se de um grupo de caminhada urbana que como vários outros grupos demarcam caminhadas em circuitos urbanos. E suas ferramentas são farinha de trigo e giz”, diz Andrade, referindo-se ao Hash House Harriers (HHH), um grupo informal de origem malasiana que se reúne regularmente para atividades atléticas (caminhada ou corrida), seguidas de sessões de bebida, especialmente de cerveja.
+ Polícia investiga denúncia de suposto envenenamento de cães na Zona Sul
Segundo Andrade – que chegou a liderar o grupo RioHHH, do qual faz parte desde 2004 -, os Hash House Harriers existem desde 1932 e hoje estão espalhados por mais de 140 países. “No dia 5 de agosto, um sábado, houve uma edição que começou na estação Cardeal Arco-Verde do metrô, em Copacabana, passou por Botafogo e terminou na Urca. Eu conheço o casal que aparece nas imagens. os dois estavam fazendo as marcas do circuito. A gente usa farinha de trigo porque choveu, lavou“, contou ele, que naquele dia não participou da ação porque tinha um compromisso, mas busca contatos da polícia para ajudar a esclarecer o que houve. “A maior parte dos integrantes é de expatriados, muitos com dificuldades com o português. O casal, inclusive, não está no país no momento. Por eu ser brasileiro estou procurando ajudar”, diz ele, que já até entrou em contato com alguns perfis que divulgaram o caso como envenenamento para dar explicações e pedir a retirada dos posts.
Em vídeos de ações dos HHH mundo a fora, é possível ver que os integrantes deixam rastros de farinha pelas ruas para orientar os trajetos. Os participantes precisam encontrar marcas no chão, como círculos, que funcionam como check points para que eles saibam se estão no caminho certo. Segundo a Wikipedia, “em um hash, um ou mais membros (“lebres”) deixam uma trilha, que é seguida pelo restante do grupo (a “matilha” ou “cães”). Papel, farinha ou giz são geralmente usados para marcar a trilha, que termina periodicamente em um ‘cheque’. A matilha deve descobrir onde começa novamente. Frequentemente, a trilha inclui trilhas falsas, atalhos, becos sem saída, retornos e divisões. Esses recursos são projetados para manter o grupo unido, apesar das diferenças no nível de condicionamento físico ou na velocidade de corrida, pois os primeiros são forçados a desacelerar para encontrar a trilha ‘verdadeira’, permitindo que os retardatários os alcancem”.
Especialistas em corrida e em trilhas urbanas ouvidos pela Veja Rio, no entanto, não conhecem os Hash House Harriers e desconhecem grupos que deixem marcas de farinha ou giz pelas vias do Rio. Segundo eles, na cidade há alguns grupos que marcam trilhas com autorização da prefeitura do Rio, mas na Transcarioca. Essas marcas são como pegadas pintadas de amarelo e preto nas pedras, como se fosse a sola de um tênis. Outras indicações de trajeto são feitas pela própria prefeitura com placas. Andrade explica que há até maratonistas entre os RioHHH. “É uma atividade de lazer e sem fins lucrativos. Não somos ativos nas redes sociais. Fazemos muitos encontros na Floresta da Tijuca. Lá os guardas até nos conhecem”, relata ele. O RioHHH tem hoje cerca de vinte integrantes fixos. Em março um circuito nacional promovido aqui reuniu 48 pessoas de 21 nacionalidades entre a Lapa e Santa Teresa.
+ Para receber VEJA RIO em casa, clique aqui
Procurada para falar sobre o assunto, a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) – que está à frente do caso – reiterou que a investigação está em andamento e que busca identificar as pessoas que aparecem nos vídeos, postados principalmente por grupos ligados à causa animal. As postagens, que incluem vídeos de câmeras de segurança mostrando um homem e uma mulher com roupas esportivas interrompendo uma caminhada para depositar algo não identificado nas bordas de canteiros, dão conta de que se trataria de um veneno que teria matado pelo menos um cão. Amostras do pó foram recolhidas e enviadas para perícia a fim de desvendar do que se trata, mas o laudo ainda não está pronto.
[/newsletter]