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O pianista

Antes meio esquecido e obsoleto, esse profissional retoma seu espaço nos salões de bares e restaurantes com repertório que vai da bossa nova ao rock pesado

Por Fabio Codeço
Atualizado em 2 jun 2017, 13h19 - Publicado em 30 out 2013, 20h18
Fernando Lemos
Fernando Lemos (Redação Veja rio/)
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Muito da MPB reverenciada até hoje ganhou forma em endereços pequenos e charmosos que não existem mais. Antes de ficar famoso, Tom Jobim deu duro na noite pilotando o piano de casas como Sacha?s, Arpege e Night and Day. Nessa rotina boêmia conheceu seu primeiro grande parceiro, Newton Mendonça, com quem compôs, entre outras, Desafinado e Samba de Uma Nota Só. Na primeira metade da década de 50, outro ás dos teclados, Johnny Alf, encantava os frequentadores da boate do Hotel Plaza, em Copacabana. Jovens assíduos na plateia, Carlos Lyra e Roberto Menescal inspiraram-se no seu estilo para conceber, poucos anos depois, alguns dos primeiros acordes da bossa nova. Em busca desse encanto perdido ao longo dos anos na noite carioca, foi inaugurado, há menos de duas semanas, o Tom do Leblon, piano-bar cuja atração principal é o tarimbado Osmar Milito. Com a autoridade de quem já tocou com Elis Regina, Nara Leão e Leny Andrade, além de dividir plateias, mesmo que informalmente, com o próprio Tom Jobim, ele encabeça um movimento que vem retomando força na cidade: o da boa música ao vivo tocada por pianistas em bares e restaurantes. “Quando os conjuntos começaram a tomar conta do pedaço, fomos perdendo espaço. Agora estamos de volta”, diz Milito.

Diferentemente dos artistas que se apresentam para um grande público, os músicos que tocam a poucos metros da plateia já estão acostumados com certas peculiaridades da carreira. Receber bilhetinhos com pedidos pessoais é uma delas. “Você precisa ter um repertório vasto porque nunca se sabe o que virá no próximo papelzinho”, comenta Kuko Moura, que dá expediente no rebuscado salão do Paris, na Casa de Arte e Cultura Julieta de Serpa, desde a abertura do local, em junho de 2012. Há oito anos tocando na Enoteca Uno, no Centro, Tadeu Gomes também é eclético em sua seleção, mas pelo tempo que está ali já conhece de cor a canção preferida de cada comensal. Para um delegado de polícia que almoça regularmente no restaurante, dedilha o tema da trilogia O Poderoso Chefão quando ele entra no salão. Já para a empresária Marluce Dias, o pianista dedica You Are Always in My Heart, que lembra sua falecida mãe. Seu marido, Eurico Cunha, proprietário do estabelecimento, também tem a dele: Stardust, imortalizada por Nat King Cole. Além da trilha sonora variada, o segredo para cativar (e não atrapalhar) é acertar no volume. “A música tem de ser ouvida, mas não pode sobressair no ambiente”, acredita Gomes, que tem 68 anos e sessenta de profissão.

Apesar do clima nostálgico, há uma turma jovem que vem dando fôlego novo ao instrumento. É o caso do duo americano The Piano Guys, que faz sucesso no YouTube com arranjos e misturas de melodias populares e clássicas. A versão da dupla para Paradise, do Coldplay, por exemplo, teve mais de 20 milhões de visualizações no canal na internet. No embalo desse estilo mais descontraído está o carioca Glaucio Cristelo, 31 anos, pianista profissional desde os 13. Depois de chamar atenção no corredor do Shopping Leblon com suas apresentações performáticas e o visual desleixado, com cabelos encaracolados e tatuagens estampadas nos braços, ele foi contratado para tocar no novo bar do hotel Royal Tulip, em São Conrado, reinaugurado há um mês. Cristelo se apresenta ali toda terça, quando passeia por sucessos de Adele, Led Zeppelin, Bruno Mars, Iron Maiden, Kate Perry e Metallica. “Depois que decidi seguir um estilo menos tradicional, perdi muitos trabalhos. Em compensação, ganhei identidade própria”, diz ele, que está assinando contrato com uma gravadora e levará seus shows para todo o Brasil em 2014.

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Felipe Fittipaldi
Felipe Fittipaldi ()
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