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O Woodstock da fé

Os peregrinos da Jornada Mundial da Juventude dividem sua devoção entre a religião, as festas, os shows e a vida mundana carioca

Por Caio Barreto Briso e Ernesto Neves
Atualizado em 5 jun 2017, 13h54 - Publicado em 31 jul 2013, 17h57

A multidão de jovens em frente ao palco mais parecia a inquieta plateia de um festival de música. As bandeiras, as garotas sentadas sobre os ombros dos rapazes e a animação contagiante de uma moçada que conversava e cantava, tudo lembrava os momentos que antecedem o show de um grande ídolo internacional. Na verdade, as 400?000 pessoas que apinhavam a Praia de Copacabana na terça feira (23), a imensa maioria delas na faixa dos 20 anos, estavam ali para assistir à missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude. Enquanto esperavam, rezavam o Pai-Nosso e cantavam hinos de louvor a Deus em ritmo de funk, axé e rock. Nem mesmo a chuva gelada e a areia encharcada reduziam o fervor da moçada. Na verdade, o tempo adverso dava um caráter ainda mais épico ao encontro, uma espécie de Woodstock praiano ? no último dia do histórico festival, realizado numa pequena cidade do estado de Nova York em 1969, choveu tanto que as pessoas rolavam na lama enquanto Jimi Hendrix tocava. Em Copacabana, no entanto, não eram a guitarra distorcida nem as substâncias alucinógenas que levavam o povaréu ao delírio. “Tem a fé, que é muito importante, mas não é só isso. Muitos de nós estão longe dos pais pela primeira vez”, contou a portuguesa Sara Rodrigues, 23 anos. “Eu, por exemplo, nunca havia saído da Europa. É o momento mais marcante da minha vida.”

Felipe O´NeilL e Felipe Ffittipaldi
Felipe O´NeilL e Felipe Ffittipaldi ()

Embora a participação no maior evento católico do mundo destinado exclusivamente aos jovens e o encontro com o papa Francisco tenham um apelo inegável para os 355?000 peregrinos credenciados, desfrutar o que o Rio tem a oferecer também é uma tentação irresistível. A resposta automática sobre qual lugar os jovens mais gostariam de visitar é quase unânime: a estátua do Cristo Redentor. Com apenas cinco minutos de conversa, porém, as moças e os rapazes logo entregavam que havia também muito da vida mundana a ser explorado por aqui. “É claro que não vim só pelo papa”, confessou o alemão Chris Müller, 19 anos, de Frankfurt. Bebendo uma caipirinha de limão, após algumas tantas latas de cerveja, o estudante de biologia era só sorrisos para as garotas. Enquanto dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, celebrava a missa, Müller, no calçadão, revelava outros interesses. “As mulheres brasileiras são diferentes: lindas de rosto e com o corpo perfeito”, explicava, desenhando uma silhueta feminina no ar. Mais discretas, mas não menos animadas, as americanas Emily Karrick, 20 anos, e Sierra Esau, 22 anos, do estado de Nevada, desejavam aproveitar a viagem para, digamos, estreitar relações com outros peregrinos. “Queremos muito aproveitar a noite carioca. Quem mora aqui tem muita sorte”, comentava Emily, hospedada com a amiga em um hostel da Zona Sul.

Fotos Felipe O?Neill e Felipe Fittipaldi
Fotos Felipe O?Neill e Felipe Fittipaldi ()

A disposição de fazer uma peregrinação a milhares de quilômetros de distância de casa não significa obedecer cegamente às determinações da Igreja, e isso os jovens que vieram ao Rio deixaram bem claro, seja em termos de comportamento, seja nas opiniões. Os engenheiros franceses Olivier Birgonno, 26 anos, e Marie Menié, 25, são namorados, vivem em Paris e se dizem católicos praticantes. Isso não os impede de ter seu ponto de vista em assuntos espinhosos, como a união homossexual e o uso de métodos contraceptivos. “Acreditar em Deus não significa ter de abdicar das próprias ideias. Acho que é possível ser religioso mesmo sem concordar com tudo o que a Igreja manda”, afirmou Birgonno. Ansiosos por verem o papa tanto nos eventos em Copacabana quanto em Guaratiba, os dois simbolizam o desafio que Francisco enfrentará em seu papado ? o de manter no rebanho uma geração que acredita em Jesus, mas não abre mão das conquistas da sociedade moderna.

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