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Pedro Salomão: “Nosso mundo tem sido expert em aumentar o abismo social”

Autor dos livros Empreendendo Felicidade e LYdereZ, o escritor carioca reflete sobre os efeitos da pandemia

Por Pedro Salomão
5 jun 2020, 15h34

A frase que mais escutei nos últimos tempos foi ‘’Para o mundo que eu quero descer’’ e está todo mundo com medo de ‘descer’. Temos uma ideia de que toda dor nos ensina, que aprendemos verdadeiramente na pancada, no tombo, na quebra… e é a mais pura verdade. Mas não nos resta somente a dor como professora do que precisamos saber.

Também aprendemos no amor. E, de certo, sem esses dois extremos fica difícil. Mas, parece que temos escolhido a dor, essa forma mais rápida e direta de ensinamento. 

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Temos dito que nossos jovens precisam de frustrações, que na nossa época (com 40 anos já posso falar de uma época distante) lidamos com mais dores do que amores, e que isso construiu nosso caráter, nossos valores e nossa forma de encarar o mundo com mais realismo. Ouvindo isso parece que somos uma sociedade cheia de virtudes, eticamente perfeita, e que vivemos em um mundo onde todos se preocupam com todos, e que respeito é bom, e todos nós gostamos. 

Sinceramente, não é esse mundo que estamos vendo aí. Não são tantos líderes recheados de valores e virtudes que nos guiam pra frente (ou pra trás). Nosso mundo tem sido expert em aumentar abismos sociais. 

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Inclusive muitos de nós estamos nos deixando levar pela ideia de que sairemos melhores dessa quarentena. Que estamos construindo um mundo mais justo, mais fraterno e mais preocupado com nosso semelhantes. Será? Somos incapazes de pensar que algumas pessoas que vivem em quarentenas impostas, estas sim, não sairão dela. 

Pessoas que vivem presas na violência doméstica, presas pela falta de acessibilidade, das leis paralelas, ou até mesmo que não podem se isolar por não tem onde morar. Idosos que estão isolados por que suas famílias os abandonaram diante da perda de sanidade, crianças presas em telas de 4 polegadas que substituem pais e mães ausentes, mesmo que fisicamente presentes pela tela dos smartphones. Esse isolamento continua porque insistimos em aprender e ensinar pela dor. Aliás, em um mundo onde todos nos sentimos apressados a dor chega como um baita auxílio para ensinar nossos filhos, funcionários, colaboradores e amigos.

Não temos tempo pra nada e como todo apressado somos atrasados para tantos compromissos. E se atrasados, somos egoístas, porque essa é uma característica de quem tem como arte fazer o tempo faltar. E quando deixamos de doar nosso tempo, deixamos de fazer a real caridade, doar nosso bem mais precioso. Apressados não escolhem o melhor caminho, não escutam, não enxergam, não sorriem, porque não sobra tempo. 

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Ensinar através do amor exige tempo, escutatória, empatia, paciência, afeto, prática e repetição. Nossos filhos podem aprender que colocar o dedo na tomada dá choque com a descarga elétrica em suas mãos ou através de nosso olhar carinhoso para explicar duas, ou quem sabe 200 vezes, que aquilo causa dor. Mas, tenha certeza que depois de tantas tentativas forma-se uma relação de pai e filho, uma equipe gigante de dois que criaram uma cumplicidade e laços de confiança. No fim, ambos aprenderam muito juntos. 

Entregar pra dor é assistir a vida resolver um compromisso que você não teve a coragem de assumir. Se utilizar da retórica que o problema do planeta são os jovens com baixa capacidade de se frustrar e cristalizar a ideia de que o mundo era perfeito, e que agora tudo está pior, é simplesmente tirar o corpo fora de sermos todos protagonistas da mudança. Nossos jovens aprendem na dor e no amor, mas existe uma pequena diferença. Damos o que recebemos e quem aprende na dor, a deixará ensinar, mas quem aprende no amor ensinará através dele, e quem sabe assim o mundo ganha mais beleza. 

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Como acredito que esse mundo precisa de mais amor do que dor, já fiz minha escolha, e penso que por agora, época de pandemia e tempos difíceis, todos dentro de casa, temos o ingrediente fundamental para sermos professores pelo amor. O tempo. Se não fizermos isso agora, talvez inconscientemente teremos que esperar por uma covid-20 ou 21 para um novo ciclo de mudanças.

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