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Os berçários das cervejas fluminenses sem fábrica própria

Cresce o número de cervejarias artesanais no Estado do Rio que abrem suas instalações para produzir rótulos de marcas ciganas

Por Carolina Barbosa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 fev 2018, 11h00 - Publicado em 9 fev 2018, 11h00
Cervejaria Lagos
Rafael, Marcelle e Dennis: 21 tanques em operação na fábrica da Lagos (Selmy Yassuda/Veja Rio)

Nos últimos cinco anos, as cervejas ciganas — leia-se sem fábrica própria — mul­tiplicaram-se no Rio, o que fez com que o estado fosse inserido entre os maiores produtores da bebida, com cerca de 200 marcas nascidas e criadas por aqui. Esse fenômeno, por sua vez, alavancou outra engrenagem do setor: a formação de complexos focados na produção de receitas terceirizadas. Algo como uma “barriga de aluguel etílica”, muito comum nos Estados Unidos e na Europa. Foi assim que surgiu a Lagos Cervejaria, em Bacaxá, distrito de Saquarema, instalada a aproximadamente 120 quilômetros da capital fluminense. Depois de quatro anos de pesquisa e planejamento, os sócios Marcelle Lopes e Dennis Martins uniram-se ao cervejeiro Rafael Torresini e inauguraram a empreitada em abril de 2017. “Ao nos dedicarmos exclusivamente à produção, o dono da cerveja pode gastar energia com outros aspectos de sua marca, sem ter de se preocupar com a trabalhosa operação do dia a dia de uma fábrica”, afirma Marcelle.

Erigida com 2 500 metros quadrados, a Lagos já recebeu mais de quarenta marcas em seus 21 tanques — entre elas, 3Cariocas, Kumpel, Labirinto, Quatro Graus e Gaspar Family Brew. Essa última, inclusive, fez lá os 3 500 litros iniciais da premiada Tranquilona, uma schwarzbier com adição de coco queimado, contemplada com medalha de ouro na mais recente edição do Mondial de la Bière. “Além de contar com equipamentos de ponta, produzir minha cerveja dentro do estado minimiza custos”, acredita Tomás Gaspar, que faz mais dois rótulos em outro complexo, a Allegra, em Jacarepaguá, uma das primeiras fábricas cariocas a investir nesse modelo de negócio em plena ascensão. O formato vem dando tão certo que a Cervejaria Piedade, aberta em dezembro de 2016 no bairro homônimo da Zona Norte, viu sua produção saltar de 14 000 para 40 000 litros mensais em seu primeiro ano de funcionamento. “Nossa ideia é ser uma incubadora. Ou seja, não só produzimos como também armazenamos, distribuímos, vendemos e oferecemos assessoria contábil, auxiliando em todas as fases do negócio”, explica o dono René Saleme, que abriga a produção de mais de quarenta marcas.

Para se destacarem nesse cenário e atraírem cada vez mais cervejarias artesanais e especiais, os proprietários das fábricas têm investido alto. A Piedade, por exemplo, está implementando uma nova sala de cozimento, com capacidade para produções menores, de 250 ou 500 litros (hoje, a quantidade mínima é de 1 000 litros); até o fim de fevereiro, vai incorporar cinco tanques aos seus atuais 21. No pacote de investimentos, que deve chegar a 200 000 reais em 2018, consta ainda a construção de um laboratório de análises físico-químicas para garantir a excelência do controle de qualidade das cervejas. A mais novata delas, a Pontal, inaugurada em dezembro em Nova Friburgo ao custo de 1 milhão de reais, apostou numa máquina de envase automático e no desenvolvimento de um sistema de acompanhamento on-line para que cada produtor tenha acesso, em tempo real, às informações de suas criações, como temperatura, nível de carbonatação e tempo de fermentação. “Isso facilita a comunicação com o cervejeiro, além de gerar um histórico dos lotes, o que ajuda a garantir a uniformidade na hora de replicar as receitas”, atesta o engenheiro Bruno Longuinho, um dos sócios da Pontal.

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A terceirização atrai cerca de dez marcas à sede da Mistura Clássica, em Angra dos Reis, que instalou há dois meses uma potente centrífuga alemã. Orçado em quase 400 000 reais, o equipamento chegou para aumentar o rendimento da produção e lapidar o sabor das bebidas. “Abrir as portas a outras cervejarias nos ajuda a participar do crescimento do mercado e a aprimorar nosso trabalho, uma vez que se trata de uma turma bastante apaixonada e exigente”, reforça Francisco Abreu, à frente da administração da Mistura. Para o sommelier e consultor Gustavo Renha, esse modelo de produção compartilhada vai muito além de diminuir os custos dos pequenos produtores e, consequentemente, os preços para o consumidor final. “Tem potencial para movimentar a economia e o turismo locais, já que pode atrair pessoas de outros estados interessadas em usar os serviços daqui”, analisa. Não por acaso, a Lagos estuda uma forma de atender produtores dos quatro cantos do país que queiram comercializar seus rótulos no Estado do Rio.

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(Reprodução/Veja Rio)
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