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O efeito colateral do Waze

Apesar de ajudar o trânsito andar mais rápido, o aplicativo enche de carros ruas antes tranquilas

Por Lula Branco Martins
Atualizado em 2 jun 2017, 12h31 - Publicado em 25 jul 2015, 01h00

Para uma cidade com frota de quase 2 milhões de veículos, infestada de obras pré-olímpicas por todos os lados, e que já teve sua velocidade de trânsito comparada ao andar de uma galinha (média de 15 quilômetros por hora nos corredores mais críticos), soou como um alívio a chegada, em 2012, do aplicativo Waze. Criado em Tel Aviv, Israel, hoje com sede também no Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, o dispositivo calcula com precisão o tempo de trajetória entre um ponto e outro da capital, indicando sempre o caminho mais rápido, com base em informações colaborativas dos próprios usuários, que eram 100 000 três anos atrás e agora em 2015 bateram a casa do milhão de participantes. Os dados, portanto, são cada vez mais confiáveis. Mas há pelo menos um efeito colateral maligno no uso desenfreado do Waze: a desvalorização de ruas que eram sossegadas e passaram a ser conhecidas por motoristas apressados após ser apontadas como atalhos por esse app, gratuito, disponível nas plataformas Android, iOs e Windows Phone. Moradores começam a reclamar do aumento do vaivém de automóveis. Corretores e empresários do mercado imobiliário também já têm essa percepção.

Fila de veículos na Desembargador Burle, no Humaitá: a dica é boa,  mas afeta a tranquilidade da rua
Fila de veículos na Desembargador Burle, no Humaitá: a dica é boa, mas afeta a tranquilidade da rua ()

Sobram exemplos. Está-se, digamos, na Rua Mena Barreto, artéria reconhecidamente problemática de Botafogo. Destino: o Humaitá, passagem tanto para a Lagoa Rodrigo de Freitas como para quem se dirige à Zona Norte, pelo Túnel Rebouças. Para desembocar na Rua Humaitá, a maior da região, o motorista seguiria então pela Visconde de Silva e, com certeza, perderia tempo no entroncamento com a Macedo Sobrinho. O que costuma recomendar o Waze? Sair desse fluxo indo pelas ruas internas do bairro, como a arborizada e ainda charmosa Desembargador Burle. Com pouco mais de 100 metros e só uma faixa de rolamento, ela tem presenciado a formação de filas indianas de carros. “Ruas assim ficam sacrificadas, se brutalizam, e o morador é quem perde”, atesta o administrador de empresas Rodrigo Conde Caldas, vice-presidente da construtora Concal, citando outra via que vem recebendo carros além da conta, a Rua Desembargador Alfredo Russel, no Leblon, vizinha de sua firma.

O fenômeno vai da Zona Sul à Zona Norte. No Rio Comprido, Marcelino Dias, pequeno empresário, dono de restaurante por sistema de quilo numa rua pequena, a Barão de Sertório, também já percebeu que, nos últimos dois anos, o tráfego aumentou consideravelmente. Até buzinaços são ouvidos naquela ruazinha que um dia serviu de campo de pelada e de pi­que-esconde para os garotos. Mas ele enxerga  ao menos um lado positivo. “Com mais carros circulando por aqui, diminuirão os assaltos”, diz Dias. Questionado por VEJA RIO, através do escritório que presta sua assessoria de imprensa no Brasil, sobre se há reclamações de moradores dessas ruas vicinais, o Waze respondeu apenas que continuará “calculando as rotas de forma a permitir que cada vez mais pessoas gastem menos tempo no trânsito”. Durma-se com um barulho (de carros) desses. ■

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